Embora especialistas em saúde contestem seu uso, o chamado kit covid tem sido adotado como um protocolo de tratamento precoce contra a covid-19 por parte de municípios brasileiros. Ivermectina e azitromicina, por exemplo, são alguns dos fármacos que fazem parte da combinação de medicamentos usados para a profilaxia ou tratamento precoce da doença, mesmo sem existir comprovação científica sobre os benefícios aos pacientes.
Ivermectina não é tratamento para covid-19
Medicamento usado para tratar infestações de parasitas como piolho e sarna, a ivermectina não tem eficácia comprovada contra a covid-19. As principais autoridades mundiais de saúde continuam ressaltando que não existe tratamento comprovadamente eficaz contra o novo coronavírus, assim como a atualização mais recente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o assunto que também aponta que "não existem estudos conclusivos que comprovem o uso desse medicamento para o tratamento da covid-19, bem como não existem estudos que refutem esse uso".
Além disso, entidades médicas brasileiras repudiaram o suposto 'tratamento precoce' do governo federal contra o novo coronavírus, que envolve a ivermectina e outros remédios sem eficácia comprovada, como a cloroquina.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) não recomendam o uso de ivermectina para propósitos diferentes daqueles para os quais seu uso está autorizado. A FDA, órgão de vigilância sanitária dos Estados Unidos, esclarece ainda que a ivermectina não foi aprovada para prevenção e tratamento da covid-19 nos Estados Unidos e que as pessoas "não devem tomar qualquer remédio contra a doença a não ser que tenha sido prescrito por um médico e adquirido por fonte legítima".
No dia 31 de março deste ano, a OMS divulgou uma nota desaconselhando o uso da ivermectina por pacientes com covid-19. A entidade reforçou que as evidências sobre o uso do medicamento no tratamento da doença são “inconclusivas” e que o remédio só deve ser usado dentro de estudos clínicos.
Saiba mais sobre o assunto:
O que é o kit covid?
De maneira geral, tem sido identificado como 'kit covid' uma combinação variável de medicamentos que estão sendo recomendados para a profilaxia ou tratamento precoce da covid-19. Geralmente, esse 'kit' inclui dois ou mais medicamentos como hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, vitamina D, vitamina C, entre outros.
O kit covid funciona?
Segundo o Conselho Federal de Farmácia (CCF), não há comprovação científica de que os medicamentos que normalmente compõem o kit covid ofereçam qualquer benefício na prevenção ou tratamento da covid-19.
"Até o momento, todos os estudos publicados que avaliaram a eficácia desses medicamentos, juntos ou combinados, não demonstraram qualquer vantagem no seu uso quando comparados ao tratamento com placebo ou tratamento convencional. Além disso, os pacientes ainda ficam expostos aos riscos associados ao uso desses medicamentos. Em alguns casos, o uso combinado desses medicamentos pode aumentar o risco de efeitos adversos por interação medicamentosa, como é o caso, por exemplo, do uso concomitante da hidroxicloroquina e azitromicina que pode potencializar o risco de danos cardiovasculares", afirmou a entidade.
Quais são os efeitos colaterais e reações adversas de cada item (hidroxicloroquina, ivermectina, nitazoxanida, vitamina D, vitamina C)?
Os efeitos adversos associados a esses medicamentos são vários:
- Hidroxicloroquina - dores abdominais, diarreia, náusea e vômitos, lesão hepática aguda, miopatia, vertigem, reações extrapiramidais, convulsões (principalmente em pacientes com histórico prévio), taquicardia, prolongamento do intervalo QT, entre vários outros efeitos adversos, sendo os cardiovasculares aqueles que mais suscitam preocupações.
- Ivermectina - pode causar diarreia, dor abdominal, anorexia, constipação e vômitos, febre, taquicardia, dor de cabeça, tontura, sonolência, vertigem e tremor, inchaço nos membros (braços, mãos, pernas e pés), hipotensão, além de prurido, coceira e erupções cutâneas.
- Nitazoxanida - pode causar náusea, diarreia, vômito e dor abdominal, dor de cabeça, reação alérgica, taquicardia, mudanças na coloração dos olhos, urina e esperma; e, ainda, vermelhidão, coceira e erupções na pele.
- Vitamina D - pode causar secura da boca, cefaleia, perda de apetite, náuseas, fadiga, sensação de fraqueza, dor muscular, prurido e perda de peso. O consumo excessivo também pode causar constipação, fraqueza muscular, vômitos, irritabilidade e desidratação. Além disso, o excesso de vitamina D, por períodos prolongados, pode resultar em alterações endócrinas e metabólicas, como proteinúria, disfunção renal, hipertensão, arritmias, piora dos sintomas gastrointestinais, pancreatite, psicose, redução dos níveis de HDL e aumento dos de LDL.
- Vitamina C - a administração de altas doses, por tempo prolongado, pode causar escorbuto de rebote, distúrbios digestivos, eritema, cefaleia, aumento da diurese e litíase em pacientes com insuficiência renal e naqueles predispostos à cálculos renais. Além disso, é importante lembrar que todos esses medicamentos apresentam contraindicações e podem alterar os efeitos de outros medicamentos já em uso pelo paciente.
Há remédios fora do kit covid com eficácia comprovada no tratamento?
Até o momento o único medicamento aprovado no Brasil para tratamento específico da covid-19, em ambiente hospitalar, é o remdesivir. No entanto, a indicação de uso aprovada é bastante específica, sendo o medicamento indicado apenas para pacientes adultos (com 12 anos ou mais), com mais de 40 kg, que tenham sido diagnosticados com covid-19 associada a pneumonia e com necessidade de suplementação de oxigênio, desde que não estejam em ventilação mecânica ou ventilação com membrana extracorpórea (ECMO).
Segundo o CFF, como observado em ensaios clínicos randomizados já publicados, o medicamento antiviral tem potencial de reduzir o tempo de recuperação desses pacientes e parece contribuir também para a melhora clínica.
No entanto, em novembro do ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) se posicionou contra o uso do remdesivir. A decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pela aprovação em 12 de março deste ano acompanha a decisão de agências regulatórias de outros países como Estados Unidos, Canadá, Austrália e da União Europeia, onde o remdesivir já está em uso desde o ano passado. Já para a OMS, faltam evidências dos benefícios e que há possíveis riscos associados ao uso do remédio, que tem alto custo.
"É importante ressaltar que o medicamento não se mostrou eficaz para reduzir mortalidade por covid-19 e necessidade de ventilação mecânica. Por essa razão, inclusive, a Organização Mundial da Saúde manteve sua decisão em não recomendar o uso do medicamento. O tempo de tratamento pode variar de acordo com a condição do paciente entre 5 e 10 dias. E o uso do medicamento não se restringe a gravidade do caso (leve, moderada ou grave), mas se trata de um medicamento injetável e de uso hospitalar", explicou a entidade.
Durante os ensaios clínicos não foi registrado nenhum óbito associado ao tratamento. Entre os efeitos adversos graves foi registrada insuficiência respiratória, incluindo insuficiência respiratória aguda com necessidade de intubação endotraqueal. Entre os efeitos adversos não graves, os efeitos adversos mais comuns incluíram diminuição da taxa de filtração glomerular, diminuição do nível de hemoglobina, diminuição da contagem de linfócitos, insuficiência respiratória, anemia, pirexia, hiperglicemia, aumento do nível de creatinina no sangue e aumento do nível de glicose no sangue, sendo importante e recomendado o monitoramento adequado da função renal e outros parâmetros em pacientes com a doençã em uso de remdesivir.
Entidades médicas e científicas defendem o banimento do uso do kit covid?
Em 23 de março deste ano, entidades médicas e científicas brasileiras divulgaram documento no qual alertam sobre a gravidade da situação da pandemia de covid-19 no País e defendem, entre outras medidas, o banimento da prescrição e uso dos medicamentos do chamado kit covid, que inclui drogas sem eficácia contra a doença, como hidroxicloroquina e ivermectina. Alguns médicos, contudo, continuam indicando o chamado "tratamento precoce" defendido pelo presidente Jair Bolsonaro.
Em boletim do Comitê Extraordinário de Monitoramento da Covid-19, grupo liderado pela Associação Médica Brasileira (AMB) e que reúne diversas sociedades científicas e associações médicas de todo o País, as entidades alertam para a falta de estrutura, insumos e profissionais neste momento da pandemia e ressaltam que as fake news “desorientam os pacientes”. Reafirmam ainda que não existe tratamento precoce comprovado contra a doença.
O Código de Ética Médica prevê que é vedado ao médico “causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência.”
Uso do kit covid pode estar ligado a hemorragias e insuficiência renal?
Além dos casos de hepatite medicamentosa associada ao uso de drogas do kit covid, médicos relatam outros efeitos colaterais que vêm aparecendo em pacientes sem doenças crônicas, mas que haviam utilizado os medicamentos.
Médico nefrologista do Hospital das Clínicas da USP, Valmir Crestani Filho relata ter atendido pacientes com hemorragia e insuficiência renal ligadas direta ou indiretamente ao uso de medicamentos ineficazes contra a covid. Em um dos casos, o doente recebeu azitromicina e teve cólicas, diarreia e fortes dores abdominais, efeitos conhecidos do antibiótico.
Uso de kit covid levou pacientes para fila de transplante de fígado?
O uso do chamado kit covid, que reúne medicamentos sem eficácia contra a doença, mas que continua sendo prescrito por alguns médicos e propagandeado pelo presidente Jair Bolsonaro, levou cinco pacientes à fila do transplante de fígado em São Paulo e está sendo apontado como causa de ao menos três mortes por hepatite, segundo médicos ouvidos pelo Estadão também em 23 de março.
Hemorragias, insuficiência renal e arritmias também estão sendo observadas por profissionais de saúde entre pessoas que fizeram uso desse grupo de drogas, que incluem hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e anticoagulantes.
“É uma combinação de altas dosagens com a interação de vários medicamentos. A substância desencadeia um processo em que a célula ataca outros células, levando a fibroses, que causam a destruição dos dutos biliares”, diz Ilka Boin, professora da Unidade de Transplantes Hepáticos do Hospital das Clínicas da Unicamp, onde um paciente aguarda transplante.
Registros de mortes
Segundo levantamento feito pelo jornal O Globo, com base no Painel de Notificações de Farmacovigilância mantido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as notificações por efeitos adversos decorrentes do uso de medicamentos do kit covid como cloroquina e hidroxicloroquina em 2020 dispararam na comparação com o ano anterior. Conforme a publicação, ao menos nove mortes foram notificadas, todas após março de 2020, depois do início da pandemia da covid-19 no País. No caso da cloroquina, o aumento nas notificações por efeitos adversos foi de 558%.
O que a pessoa deve fazer se tiver sintomas de covid-19?
Conforme o CFF, em caso de sintomas compatíveis com a covid-19, como febre, tosse, dor de garganta e/ou coriza, com ou sem falta de ar, a recomendação é evitar contato físico com outras pessoas e procurar imediatamente os postos de triagem nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Unidades de Pronto Atendimento (UPAS) ou outros serviços de saúde. Evitar a automedicação e o buscar pelo diagnóstico precoce é fundamental.
Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise Covid-19, acrescenta que é importante a pessoa realizar o teste de RT-PCR, podendo também deve fazer o teste de swab nasal para detecção de antígeno, conforme recomenda o grupo, e procurar uma consulta médica (alguns planos de saúde ou locais fornecem o serviço de teleconsulta).
"Caso algum sintoma fique mais intenso, procurar um serviço de saúde para sempre ter a melhor orientação. Importante as pessoas terem ciência que temos sim diretrizes terapêuticas para tratar sintomas da covid-19 de acordo com a gravidade e outros fatores. A prevenção que temos evidência científica que funciona é pelas vacinas e pelas medidas de enfrentamento como uso de máscara, distanciamento físico e higienização correta das mãos", orienta Mellanie.
Saiba mais sobre o uso do medicamento ivermectina:
Como usar ivermectina?
Medicamentos que contenham ivermectina são sujeitos à prescrição médica, ou seja, não podem ser dispensados nas farmácias sem a apresentação do receituário médico, o que comprova que o paciente foi devidamente avaliado a respeito de sua condição clínica por profissional habilitado. A forma de uso do medicamento indicada nas orientações de bula do medicamento de referência Revectina®, consiste em administração em dose única, oral, dependendo do agente etiológico. Dessa forma, a dose irá depender da avaliação clínica de cada paciente, considerando o parasita diagnosticado.
Para que serve?
Medicamentos contendo ivermectina são registrados pela Anvisa na classe terapêutica de antiparasitários. As patologias para as quais o remédio possui indicação terapêutica comprovada cientificamente por estudos clínicos são:
- Estrongiloidíase intestinal: infecção causada por parasita nematoide Strongyloides stercoralis.
- Oncocercose: infecção causada por parasita nematoide Onchocerca volvulus. A ivermectina não possui atividade contra parasitas Onchocerca volvulus adultos. Os parasitas adultos residem em nódulos subcutâneos, frequentemente não palpáveis. A retirada cirúrgica desses nódulos (nodulotomia) pode ser considerada no tratamento de pacientes com oncocercose, já que esse procedimento elimina os parasitas adultos que produzem microfilárias.
- Filariose: infecção causada por parasita Wuchereria bancrofti.
- Ascaridíase: infecção causada por parasita Ascaris lumbricoides.
- Escabiose: infestação da pele causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei.
- Pediculose: dermatose causada pelo Pediculus humanus capitis.
Veja mais detalhes aqui.
Para as indicações de tratamento de parasitoses, conforme mencionado, a ivermectina possui eficácia e segurança comprovada, desde que utilizada de forma racional, mediante avaliação, prescrição e acompanhamento por profissionais de saúde habilitados.
Quais são as reações adversas?
A ivermectina é contraindicada para uso por pacientes com hipersensibilidade ao medicamento ou aos demais componentes da formulação. "Há contraindicação para uso por pacientes com meningite ou outras afecções do sistema nervoso central que possam afetar a barreira hematoencefálica, devido aos seus efeitos nos receptores GABA-érgicos do cérebro. Medicamentos contendo ivermectina são contraindicados para uso por crianças com menos de 15 kg ou menores de 5 anos", orienta Marcos Machado, presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP).
Conforme informações constantes do registro do medicamento de referência podem ocorrer raramente as seguintes reações: diarreia e náusea, astenia, dor abdominal, anorexia, constipação e vômitos. Relacionadas ao sistema nervoso central podem ocorrer: tontura, sonolência, vertigem e tremor. As reações epidérmicas incluem: prurido, erupções e urticária.
"As seguintes reações adversas foram relatadas com o uso da droga: edema facial e periférico, hipotensão ortostática e taquicardia. Cefaleia e mialgia relacionadas a droga ocorreram em menos de 1% dos pacientes. A hipotensão (principalmente a hipotensão ortostática) e a exacerbação da asma brônquica foram relatadas desde a comercialização da droga em vários países. Foram relatadas as seguintes anormalidades em testes de laboratório durante as experiências com o medicamento: eosinofilia transitória, elevação das transaminases e aumento da hemoglobina (1%). Leucopenia e anemia foram verificadas em um paciente", acrescenta Machado.
Na intoxicação acidental ou na exposição significativa a quantidades desconhecidas de formulações veterinárias de ivermectina em humanos, seja por ingestão, inalação, injeção ou exposição de áreas do corpo, os seguintes efeitos adversos foram relatados com maior frequência: erupção cutânea, edema, dor de cabeça, tontura, astenia, náusea, vômito e diarreia.
Entre outros efeitos adversos relatados estão convulsões, ataxia, dispneia, dor abdominal, parestesia e urticária. Para mais informações clique aqui.
Não há eficácia comprovada cientificamente sobre o uso de ivermectina no tratamento de covid-19
Segundo o CRF-SP, é importante ressaltar que, até o momento, "não existem evidências científicas que comprovem a eficácia de ivermectina para tratamento e/ou prevenção de covid-19, portanto, o seu uso deverá ser resguardado apenas para as indicações constantes em sua bula", alertou a entidade.
"A American Society of Health System Pharmacists - ASHP, publicou documento com informações sobre as principais evidências científicas para tratamentos medicamentosos da covid-19. Segundo a última atualização do documento mencionado (em 11 de março deste ano), não há dados publicados até o momento de ensaios clínicos randomizados e controlados para apoiar o uso no tratamento ou prevenção da covid-19", acrescenta o presidente do CRF-SP. Acesse aqui.
"Sendo assim, até o presente momento não há protocolos recomendados por autoridades sanitárias regulatórias que fundamentem doses indicadas de ivermectina em humanos para tratamento da covid-19 ou posologia a ser seguida", alertou Machado.
Posso beber álcool com ivermectina?
Os efeitos da alimentação na disponibilidade sistêmica da ivermectina não foram estudados. "Consumir álcool com ivermectina pode aumentar os níveis sanguíneos ou aumentar os efeitos colaterais da ivermectina. Isso pode causar erupção cutânea, inchaço, dor de cabeça, tontura, fraqueza, náusea, vômito, diarreia, dor de estômago, convulsões, falta de ar e dormência ou formigamento", segundo consta no Drugs Interactions.
A ivermectina ataca o fígado?
Na descrição feita na base de dados Drugs Interactions sobre efeitos colaterais em sistemas/órgãos cita o seguinte sobre o sistema hepático: os efeitos colaterais hepáticos incluíram ALT e/ou AST elevados.
Uso de ivermectina como profilaxia (termo que denomina medidas utilizadas na prevenção ou atenuação de doenças)
Não há evidências de eficácia e segurança da ivermectina para prevenção de covid-19 em humanos. A American Society of Health System Pharmacists publicou ainda um documento com informações sobre as principais evidências científicas para tratamentos medicamentosos na covid-19. Clique aqui para saber mais.
Bula da ivermectina
Clique aqui para acessar a bula do medicamento de referência que possui ivermectina.
Por que a ivermectina foi associada como tratamento da covid-19?
Conforme o Estadão Verifica apurou, o fármaco entrou no panorama da pandemia depois que uma pesquisa da Universidade Monash, da Austrália, identificou que uma dose muito acima do recomendável do medicamento eliminou o novo coronavírus em uma cultura de células - ou seja, em testes de laboratório. Os próprios pesquisadores, no entanto, dizem que o remédio não pode ser usado para tratamento da covid-19 até que testes clínicos comprovem a sua eficácia mediante dosagens seguras em humanos.
Merck divulgou comunicado dizendo que o remédio que ela mesma produz não funciona contra a covid-19
A farmacêutica Merck, que no Brasil opera com o nome MSD e é responsável pelo desenvolvimento do medicamento ivermectina, informou em comunicado em fevereiro que não há dados que sustentem o uso do remédio contra a covid-19.
A declaração da empresa de que não existe base científica para a recomendação do vermífugo contra a covid-19 está em linha com as orientações das principais autoridades mundiais de saúde pública, para as quais a doença causada pelo novo coronavírus não tem cura conhecida até o momento.
Merck criou a ivermectina na década de 1970 e continua no mercado
O Estadão Verifica checou as informações sobre a origem e a fabricação da ivermectina em dois artigos. O primeiro foi publicado pela American Chemical Society em sua página oficial, e o segundo por cientistas do Instituto Kitasato de Tóquio no periódico Proceedings of the Japan Academy.
De acordo com essas fontes, o desenvolvimento da ivermectina começou com o pesquisador japonês Satoshi Omura, que firmou uma parceria com laboratórios da Merck, ainda na década de 1970, para coletar e enviar amostras de compostos medicinais promissores. Após inúmeros testes, os cientistas obtiveram um antiparasitário eficiente a partir de uma substância chamada avermectina, produzida por uma bactéria presente no solo da cidade japonesa de Kawana.
A ivermectina entrou no mercado em 1981, destinada ao uso veterinário. Mais tarde, a Merck testou o remédio em humanos, em parceria com a OMS, e obteve a aprovação em 1987. A patente da farmacêutica sobre a ivermectina expirou em 1996, permitindo a outras indústrias comercializarem produtos com a fórmula, com mostra outro artigo divulgado por pesquisadores da James Cook University, da Austrália.
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