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Lipedema: o que é e como tratar a doença que leva ao acúmulo de gordura em pernas e glúteos

Condição afeta mais de 5 milhões de brasileiras e tem origem genética e hormonal; o tratamento depende do grau de gravidade do quadro e pode envolver até cirurgia

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Foto do author Lara Castelo
Atualização:

Acúmulo de gordura anormal nas pernas, nas coxas, nos glúteos e nos braços pode ser lipedema, doença vascular crônica que afeta 10% da população feminina no mundo, de acordo com o Instituto Lipedema Brasil. Por aqui, segundo a entidade, pelo menos 5 milhões de mulheres têm sintomas da doença — número que, para o médico vascular Vitor Gornati, do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, e coordenador do instituto, tende a ser ainda maior.

O que é lipedema?

É uma doença vascular crônica caracterizada pelo depósito de gordura e pelo inchaço dos membros inferiores (ou seja, no quadril, que inclui glúteos, coxas e pernas) e, com menos frequência, dos superiores (braço e antebraço). Vale destacar que, de acordo com a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), o lipedema não acomete mãos nem pés.

O que causa lipedema?

Segundo Gornati, o lipedema decorre essencialmente de uma condição genética que interfere na relação entre o estrogênio (hormônio feminino) e as células de gordura. Daí porque é uma condição mais comum em mulheres.

Lipedema é uma doença vascular crônica que acomete principalmente mulheres e é caracterizada por inchaço nos membros inferiores. O corpo ganha formato de pêra, com cintura mais fina e quadril largo. Foto: Tatiana/Adobe Stock

“O fator inicial é genético, mas ele aumenta em momentos de grandes mudanças hormonais, como na puberdade, com o uso de anticoncepcionais, e na menopausa. Consequentemente, o lipedema é mais comum em adolescentes e mulheres jovens”, descreve.

Como saber se tenho lipedema?

De acordo com o especialista, os sintomas mais comuns do lipedema são:

  • Inchaço nas pernas;
  • Corpo em formato de pêra (cintura menor e quadril maior);
  • Dor nas pernas (sensação de peso, sensibilidade ao toque);
  • Hematomas espontâneos nas pernas;
  • Aparecimento de varizes;
  • Apesar de perder peso, não emagrecer da cintura para baixo.

Quais as diferenças entre lipedema e obesidade?

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De acordo com o cirurgião plástico Fábio Kamamoto, diretor do Instituto Lipedema Brasil, apesar de ambas serem doenças crônicas e que ocasionam inchaço nas pernas, há importantes diferenças entre elas.

A principal diz respeito ao tratamento, segundo o especialista. “Diferente da obesidade, o lipedema não responde à mudança de estilo de vida, apesar dessa prática impedir o seu agravamento. Já tive pacientes que fizeram cirurgia bariátrica (de redução de estômago), perderam muitos quilos e continuaram tendo o liepedema”, conta.

Outra particularidade diz respeito à sensibilidade. Nos casos de obesidade, a gordura não costuma doer, diferente do que acontece quando se tem lipedema.

Além disso, a obesidade acomete também homens – já o lipedema é basicamente um problema feminino.

E quais as diferenças entre lipedema e linfedema?

Em primeiro lugar, tem a própria nomenclatura. Apesar de ambas serem “edemas”, ou seja, inchaços, “lipe” corresponde à gordura, enquanto “linfe” diz respeito ao sistema linfático. Em resumo, o lipedema afeta principalmente as células de gordura, e o linfedema acomete o sistema linfático.

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três características chaves para distinguir as duas condições, de acordo com Gornati:

  1. O lipedema costuma causar inchaço em ambas as pernas, enquanto o linfedema apenas em uma;
  2. O lipedema nunca atinge o pé, diferente do linfedema;
  3. O lipedema atinge majoritariamente mulheres, enquanto o linfedema pode acometer ambos os sexos.

Devido à similaridade dos sintomas do lipedema com os de outras doenças, muitas vezes o quadro acaba não sendo diagnosticado, segundo o especialista do Hospital 9 de Julho. “Por isso, é essencial procurar um médico vascular para obter o diagnóstico certo e seguir o tratamento adequado”, completa.

Quais as possíveis complicações do lipedema?

Segundo Gornati, por ser uma doença com caráter inflamatório e progressivo, hábitos que podem inflamar o organismo, como falta de exercício físico, consumo de produtos ultraprocessados e de calorias em excesso, estresse e uso de alguns hormônios, tendem a piorar o quadro e levar a complicações.

O especialista explica que há quatro níveis de lipedema. O primeiro é caracterizado pelo aumento da grossura nos membros afetados; o segundo pelo aparecimento de nódulos (caroços de gordura) e sinais de fibrose (pele irregular); o terceiro pela deformação da perna e por dificuldades de mobilidade; o quarto pelo impacto no sistema linfático.

Apesar de não ser fatal, o médico vascular comenta que o lipedema pode resultar no surgimento de complicações associadas que podem levar à morte, como trombose e embolia pulmonar. “Isso, porém, raramente acontece, especialmente se o lipedema for diagnosticado rápido”, diz.

Kamamoto fala ainda sobre as consequências psicológicas que podem surgir em decorrência do lipedema. “Muitas mulheres se sentem constrangidas com o próprio corpo e acabam desenvolvendo ansiedade, depressão e até transtornos alimentares. São impactos graves que merecem atenção”, pontua.

O lipedema é uma doença vascular crônica que se manifesta em quadro níveis de gravidade. Divulgação Instituto Lipedema Brasil / ONG Movimento Lipedema Foto: Divulgação Instituto Lipedema Brasil / ONG Movimento Lipedema

Como é o tratamento do lipedema?

Depende da gravidade. Se for um lipedema em estágio inicial, o tratamento é clínico e, de acordo com Gornati, consiste em:

  • Dieta anti-inflamatória (sem alimentos ultraprocessados nem excesso de calorias);
  • Prática regular de exercícios. O especialista destaca que, na maioria dos casos, são recomendadas atividades de baixo impacto e que ajudam a queimar gordura, como natação, hidroginástica, aparelho elíptico e ciclismo;
  • Drenagem linfática;
  • Fortalecimento muscular;
  • Uso de meia elástica;
  • Tratar doenças vasculares;
  • Evitar o uso de anticoncepcionais via oral ou sanguínea.

Nos casos mais graves, por outro lado, em que o tratamento clínico não se mostra suficiente, a indicação é de cirurgia. Segundo Kamamoto, trata-se de uma lipoaspiração feita em conjunto com a retirada de pele. “O lipedema não tem cura, mas tem controle. Este deve ser feito pelo tratamento clínico e, quando necessário, pelo cirúrgico. Importante destacar que a cirurgia costuma melhorar muito a qualidade de vida da paciente”, completa.

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O especialista comenta ainda que, apesar de ser uma doença frequente, o tratamento cirúrgico do lipedema não é coberto pelo SUS, o que restringe muito o seu acesso. “A cirurgia custa cerca de R$ 30 mil. Quantas mulheres podem pagar por isso?”, questiona.

Pensando nessa questão, Kamamoto idealizou a ONG Movimento Lipedema, que, além de informar e organizar grupos de discussão sobre a doença, realiza cirurgias gratuitas em alguns casos graves.

Vale destacar, ainda, que a prevenção do lipedema consiste nos mesmos hábitos indicados para o tratamento clínico da doença em estágio inicial.

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