Maconha melhora a criatividade? Estudos dão respostas sobre os efeitos da cannabis

Apesar de crenças populares, pesquisas não indicam aumento da criatividade entre usuários da substância

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Por Richard Sima
Atualização:

Muitos usuários de cannabis estão convencidos de que a droga não apenas melhora seu humor, mas também a criatividade.

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Algumas pessoas consideradas brilhantes e criativas também parecem endossar essa ideia. Steve Jobs disse que maconha e haxixe o deixariam “relaxado e criativo”, enquanto o astrônomo e autor Carl Sagan acreditava que a cannabis ajuda a produzir “serenidade e percepção.” Na mundo da arte, Lady Gaga afirmou que fuma “muita erva” quando escreve músicas, e Louis Armstrong chamou a droga de “uma assistente e uma amiga”.

Apesar dessa popular crença sobre o potencial criativo da maconha, o consenso científico permanece nebuloso sobre o tema. Agora, uma nova pesquisa sugere que, no fim, a maconha pode não ser uma porta de entrada para a criatividade.

“Quase todo mundo acha que a maconha o faz mais criativo. E parece que essa suposição não é fortalecida por dados”, disse Christopher Barnes, professor de comportamento organizacional da Foster School of Business da Universidade de Washington e autor do estudo.

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Cannabis melhora o humor, mas não a criatividade

Os pesquisadores inicialmente imaginaram que a cannabis iria indiretamente aumentar a criatividade por fazer com que os usuários se sentissem mais joviais. A suposição estava vinculada ao fato de que a cannabis tende a melhorar o humor, o que, por sua vez, pode produzir a mudança de mentalidade que alimenta a criatividade.

Para testar essa ideia, os pesquisadores criaram um estudo randomizado controlado comparando os resultados criativos de usuários leves de cannabis que acabaram de consumir versus aqueles que não consumiram a droga.

Em uma primeira fase dos experimentos, foi solicitado a cerca de 107 usuários leves que fizessem um teste de criatividade 15 minutos após ficarem “chapados”. Para o controle do grupo, os cientistas pediram a 84 outros participantes que fizessem o teste somente se não tivessem usado maconha nas últimas 12 horas, quando qualquer efeito da droga já teria passado.

Estudo questiona ligação entre maconha e maior criatividade Foto: Reuters

Para o teste de criatividade, os participantes tinham que considerar um tijolo e gerar quantos usos criativos fossem possíveis ao objeto, dentro de um intervalo de quatro minutos. Como o esperado, participantes que estavam sob a influência da substância se sentiram mais joviais, o que fez com que eles sentissem que suas ideias eram mais criativas do que as dos participantes sóbrios.

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Mas as avaliações da criatividade feitas por terceiros, que não sabiam quem estava sob influência dos efeitos da droga, eram um verdadeiro “estraga-prazer”. Isso porque, quando classificaram as respostas em “novidade” e “utilidade”, não conseguiram identificar diferenças na criatividade dos participantes.

Uma segunda rodada de experimentos mostrou resultados similares em uma atividade de criatividade relacionada ao trabalho. Neste estudo, foi solicitado a 140 participantes que se imaginassem trabalhando em uma empresa de consultoria contratada para aumentar a receita de uma banda local. Eles foram instruídos a gerar a maior quantidade de ideias que eles conseguissem em cinco minutos. Então, foi pedido a eles que avaliassem a criatividade uns dos outros.

Assim como no primeiro experimento, os participantes que estavam sob a influência de cannabis acreditavam que suas ideias eram mais criativas em comparação com os outros participantes, enquanto avaliadores terceirizados não tinham a mesma visão.

Curiosamente, estar sob a influência da droga também fez com que os usuários de maconha pensassem que as ideias de outras pessoas eram mais criativas.

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“Quando você está sob influência de cannabis e você está experimentando a sensação de jovialidade, você pensa que tudo é bom e criativo”, disse Barnes. “Seja o seu trabalho ou o de outras pessoas, tudo está ótimo.”

Resumidamente: estar “chapado” não exatamente incendeia a criatividade dos participantes, mesmo que faça com que qualquer ideia soe incrível.

Usuários de maconha são mais abertos, o que pode ser a razão de serem criativos

Enquanto evidências sugerem que a criatividade não aumenta quando uma pessoa está sob efeito da maconha, pesquisadores se perguntaram se era possível que o uso a longo prazo da droga poderia fazer alguém mais criativo.

Em um estudo, pesquisadores inscreveram mais de 700 estudantes de graduação que eram usuários ou não usuários crônicos de maconha. Mesmo quando sóbrios, os usuários relataram criatividade e também tiveram melhor desempenho em um teste que mede o pensamento convergente, um aspecto da criatividade para encontrar soluções para um problema, em comparação com os não usuários.

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Entretanto, não foi o uso da maconha que explicou essa diferença criativa. A personalidade dos usuários importava.

Usuários de cannabis tendiam a ter uma classificação alta no traço de “personalidade aberta”, o que significa que eram mais propensos a buscar novas experiências, o que, por si só, está ligado à criatividade.

Quando os pesquisadores levaram em conta essa mente aberta, a conexão cannabis-criatividade não funcionou mais.

“Isso sugere que pessoas que são abertas a novas experiências são mais propensas a usar maconha e a serem criativas”, disse Carrie Cuttler, professora de Psicologia na Universidade do Estado de Washington e autora do estudo.

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Ciência em ascensão na pesquisa sobre maconha

Com base na literatura científica, Carrie Cuttler acredita que a maconha pode produzir “melhorias sutis”, mas “provavelmente é um efeito muito menor do que as pessoas pensam e do que a cultura popular sugere”.

A criatividade não é uma coisa só e tem muitos componentes diferentes. A maconha provavelmente o afeta de maneira positiva e negativa, disse Barnes.

A cannabis pode aliviar o estresse e a ansiedade, por exemplo, o que pode ajudar algumas pessoas com seu processo criativo, disse Carrie Cuttler.

Antes que os peritos em maconha fiquem chateados, vale a pena considerar que a pesquisa mostra que, enquanto ficar “chapado” pode não provocar um aumento drástico de criatividade, também não parece prejudicá-la, ao menos com doses relativamente baixas.

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Os estudos existentes têm limitações na forma com que podem testar parâmetros potencialmente importantes no uso da cannabis, como a dose e tensão, devido a regulamentações federais. E há limitações de como a pesquisa sobre criatividade pode ser facilmente realizada no laboratório – sem dúvida, a criatividade necessária para produzir grandes trabalhos de arte, novas tecnologias ou descobertas científicas pode ser diferente e mais difícil de capturar do que pedir para uma pessoa pensar nos usos de um tijolo.

“Muitas das suposições que temos sobre os efeitos da cannabis podem estar erradas”, disse Barnes. “Então, não devemos manter essas suposições tão rígidas; devemos encorajar a pesquisa.”

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