Marcelo Queiroga promete vacinar 1 milhão por dia e diz ser preciso evitar 'lockdown'

Ao se opor a um lockdown nacional, Queiroga disse que uma comissão formada por representantes dos Estados e Congresso irá discutir "políticas de distanciamento social que sejam adequadas"

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BRASÍLIA - No dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 300 mil mortos pela covid-19, o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que pretende acelerar a vacinação no País, saltando dos atuais cerca de 300 mil para 1 milhão de doses aplicadas por dia.

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Em sua primeira entrevista após assumir o cargo, ele demonstrou alinhamento ao presidente Jair Bolsonaro e disse ser preciso evitar o "lockdown", que inclui medidas como fechamento de escolas, comércio e restrições de circulação. "Quem quer lockdown? Ninguém quer lockdown."

A meta de vacinar um milhão de pessoas por dia depende mais da chegada das doses do que a capacidade da rede pública. Em 2019, por exemplo, foram vacinadas 5,5 milhões de pessoas contra a gripe no “dia D”, feito em maio. Já em 2010, a campanha de vacinação contra a H1N1 vacinou 81 milhões de pessoas em 3 meses. A expectativa do Ministério da Saúde é receber 38 milhões de unidades de imunizantes contra a covid-19 no mês que vem.

Marcelo Queiroga, médico escolhido por Jair Bolsonaro para o Ministério da Saúde. Foto: EFE/EPA/Marcos Oliveira/Agência Senado - 12/8/2015

Ao se opor a um lockdown nacional, Queiroga disse que uma comissão formada por representantes dos Estados e Congresso irá discutir "políticas de distanciamento social que sejam adequadas". "O que nós temos, do ponto de vista prático, é adotar medidas sanitárias eficientes que evitem lockdown. Até porque a população não adere a lockdown", afirmou.

Bolsonaro tem feito críticas a medidas mais rígidas para evitar a propagação do vírus, como lockdown e toques de recolher, e chegou a ingressar com ação no Supremo Tribunal Federal contra restrições adotadas em três Estados. 

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Em boletim extraordinário do Observatório covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado nesta terça, 23, pesquisadores falam em “crise humanitária”e pedem adoção imediata de lockdown por pelo menos 14 dias. Segundo a instituição, essa seria a forma de reduzir o ritmo de transmissão da doença e aliviar a pressão nos hospitais.

O médico também evitou críticas a bandeiras do governo Bolsonaro, como o tratamento precoce com o uso de medicamentos sem eficácia, como a cloroquina. Ele afirmou que o uso dos remédios deve ser discutido entre médicos e pacientes. "Temos de olhar para frente", afirmou.

Queiroga ainda negou intenção de esconder dados da covid-19 com alterações na forma de notificar óbitos da doença, que viraram alvos de reclamações de secretários de Estados e municípios. "Eu não sou maquiador, eu sou médico", disse. Pouco após o fim da entrevista, o Ministério da Saúde voltou atrás nas mudanças.

Queiroga também confirmou que irá substituir militares de cargos estratégicos da Saúde. O médico disse que terá liberdade para montar a sua equipe.

Para o cargo de secretário-executivo, o "número 2" da pasta, será nomeado o engenheiro Rodrigo Otávio da Cruz. O posto hoje é ocupado pelo coronel da reserva Élcio Franco. Já o médico Sérgio Yoshimasa assumirá a Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (SAES), comandada atualmente pelo coronel Franco Duarte. A área lida com o envio de recursos e insumos a hospitais em todo o País.

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Novo ministro quer secretaria para tratar apenas de covid

O novo ministro também disse que irá criar uma secretaria para tratar apenas de assuntos da covid-19. Ele afirmou que a pasta terá um núcleo para avaliar protocolos do tratamento da doença, liderado pelo professor Carlos Carvalho, da Faculdade de Medicina da USP.

Questionado sobre o que fará de diferente do seu antecessor, Eduardo Pazuello, na Saúde, o cardiologista se esquivou: "Vocês vão perceber ao longo do tempo". 

Queiroga assume o cargo no momento em que a pandemia está descontrolada. Além disso, oBolsonaro está sob forte pressão e tenta dar sinais de que não é negacionista, ao passar a usar máscara e defender a vacinação. O presidente, porém, segue defendendo tratamentos sem eficácia e rejeita a adoção de medidas mais rígidas para evitar a circulação do vírus. 

Bolsonaro precisava de médico no comando do Ministério, diz Queiroga

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O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse nesta quarta-feira, 24, que a escolha pelo seu nome ocorreu após o presidente Jair Bolsonaro reconhecer que a pasta precisava ser liderada por um médico. O novo chefe da Saúde avaliou que assumir o comando do Ministério seria "uma grande responsabilidade em qualquer circunstância".

"O presidente entendeu que deveria ter um médico à frente do Ministério da Saúde", declarou em entrevista coletiva no Palácio do Planalto nesta tarde. Queiroga assumiu a vaga do general Eduardo Pazuello, que se despediu hoje de sua equipe e indicou haver um complô político contra sua gestão.

Nesta tarde, Marcelo Queiroga ressaltou que a crise sanitária afeta fortemente o País e que o principal compromisso de seu governo será a vacinação. Segundo ele, a forma de "frear a pandemia" é por meio da imunização.

Ele explicou ainda a cerimônia surpresa e fora da agenda realizada nesta terça-feira, 23, de forma reservada para a sua posse. "Eu solicitei ao presidente da República, que fizéssemos uma posse simples, uma posse sem cerimônias, uma posse sem solenidade, porque nós vivemos - como vocês sabem, tem tão bem divulgado - uma emergência sanitária de importância internacional que já dura mais de ano", declarou.

Médico cardiologista, Queiroga afirmou que para exercer a medicina é preciso se embasar na "ciência e humanismo". O ministro citou ainda fala do papa Francisco para reforçar que seu objetivo é cuidar das pessoas. O ministro pediu "um voto de confiança" da imprensa e apoio da população para solução de problemas no sistema de saúde - o qual defendeu também o fortalecimento. "Vamos olhar para frente", disse.

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O ministro também destacou que pretende visitar hospitais para verificar as condições de assistência e rebateu insinuações de que ideia seria para checar se as pessoas estão de fato morrendo pela covid-19. O registro de óbitos pela doença já foram mais de uma vez questionados e colocado em dúvida pelo presidente Jair Bolsonaro.