Massagem não é uma só: veja qual a ideal para você

Oriental ou ocidental, feita com instrumentos ou apenas com as mãos, há várias formas de massagear o corpo

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Massagear o próprio corpo ou receber uma massagem de alguém pode parecer um prazer supérfluo ou um procedimento inevitável quando se está com dores crônicas. Trata-se de um recurso valioso empregado por fisioterapeutas e massoterapeutas para promover melhoras na saúde física e mental – e poderia ser adotado com mais frequência pelos brasileiros para obter bem-estar, como acontece em muitas sociedades orientais. 

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“Inserir a massagem no dia a dia traz muitos benefícios”, afirma Fátima Aparecida Caromano, professora do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Ela explica que, intuitivamente, massageamos o corpo quando uma região está tensa ou dolorida porque assim promovemos uma maior circulação de sangue na área afetada e deixamos a região menos sensível. “A pressão, o aquecimento e a fricção que fazemos com a mão, fazem o músculo relaxar.” 

Além disso, quando o corpo é tocado, o cérebro recebe um sinal de que a pessoa se controlou e está sendo cuidada, o que a tira do estado de alerta, segundo a professora. Ela recomenda a massagem – ou pelo menos o contato físico – especialmente para bebês e idosos. “Para bebês, o toque físico é uma chave essencial para o seu desenvolvimento motor e comportamental. E idosos que não são tocados se sentem emocionalmente abandonados”, diz. 

Em um dos seus estudos, publicado em 2015, Fátima acompanhou a aplicação de massagem sueca durante 60 minutos em 58 mulheres hipertensas e sedentárias, casadas com homens alcoólatras. Após a sessão, elas apresentaram níveis mais baixos de pressão arterial e frequência cardíaca. “Quem vive sob pressão deixa o organismo sobrecarregado, pois esse alerta exige demais do corpo. A pressão sobe e a imunidade cai. E a massagem ajuda a desarmar isso”, observa ela, que há 30 anos ensina massoterapia na USP.

Massagem relaxante no Buddah Spa: aumento na procura durante a pandemia Foto: Werther Santana/Estadão

Além de combater o estresse, melhorar a circulação sanguínea e relaxar os músculos, a massagem também pode ajudar a recuperar os músculos lesionados. Uma pesquisa publicada em outubro de 2021 do Wyss Institute for Biologically Inspired Engineering e School of Engineering and Applied Sciences da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, conseguiu potencializar o processo de regeneração de fibras musculares em músculos das pernas de camundongos, usando um sistema robótico que fazia neles uma “massagem” de compressão. Os pesquisadores observaram que o movimento permitiu “limpar” os neutrófilos do tecido muscular ferido, comprovando uma relação entre a estimulação mecânica e a função imunológica.

Técnicas orientais x ocidentais

O corretor de planos de saúde Eduardo de Oliveira Santana, de 40 anos, sentia muitas dores no joelho por conta do impacto do futebol, já que ele foi jogador profissional. “Após oito sessões de shiatsu, eu estava pronto para voltar aos treinos e não precisava mais tomar remédios”, lembra. Por indicação de um amigo, ele procurou a clínica da Escola Oriental de Massagem e Acupuntura (Eoma), em São Paulo. “Me chamou atenção a triagem detalhada. Eles não se resumem a tratar a dor local, mas entendem o motivo dessa dor.” 

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No shiatsu, técnica praticada no Japão e muito difundida no Brasil, são pressionados pontos ligados aos meridianos energéticos, conceito importante da medicina tradicional chinesa. “Na visão oriental, uma dor ou uma doença pode ser causada por desequilíbrios de energia, que influenciam na parte física. E não há separação do emocional e do físico”, conta Ednei Fernando Manojo, professor da Eoma. Para ele, relaxamento e melhora da saúde mental estão entre os benefícios do shiatsu ou do anmá, outra técnica oriental, que adota movimentos como amassamentos, deslizamentos, pressões e percussões.

Na visão oriental, uma dor ou uma doença pode ser causada por desequilíbrios de energia, que influenciam na parte física. E não há separação do emocional e do físico

Ednei Fernando Manojo, professor da Eoma

Outra massagem oriental é a ayurvédica, baseada na medicina tradicional indiana, a ayurveda. Busca o equilíbrio do prana, energia vital, e é aplicada com óleos essenciais, que devem ser escolhidos de acordo com o dosha (perfil biológico segundo a ayurveda) da pessoa. A massagem ayurvédica é oferecida por profissionais especialistas de ayurveda, mas também está no menu de estabelecimentos como o Buddha SPA, rede de SPAs urbanos com 57 unidades em seis Estados brasileiros.

“Entre os tipos de massagem da medicina ayurveda, usamos duas técnicas”, explica a fisioterapeuta Nayara Medeiros, supervisora técnica do Buddha SPA. “É muito dinâmica para o terapeuta e para o cliente. Ela é feita no tatame, com uso dos pés e de outras partes do corpo do terapeuta.”

As tensões da pandemia levaram mais pessoas ao Buddha SPA. “Houve um crescimento de 70% na procura pela massagem durante a pandemia, em comparação ao período anterior. Acredito que o motivo foi o estresse e a ansiedade, as queixas mais comuns”, admite Gustavo Albanesi, CEO da empresa. 

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A massagem “clássica” ou “relaxante” feita com óleo ou cremes, de origem sueca, é uma das mais populares nas macas brasileiras. No Buddha SPA é a mais pedida. Quando está muito tensa e encontra uma brecha, a consultora de marketing Andrea Dantas, de 57 anos, agenda uma massagem. “Saio de lá mais leve e feliz, além de dormir melhor à noite”, avalia. Ela diz que o investimento vale a pena. “Queria ser rica para poder receber massagem toda semana, como num filme de Hollywood.”

As massagens de origem ocidental não levam em consideração um fluxo energético, mas a fisiologia do corpo, explica Alexandre Paschoal, professor da área de Bem-Estar do Senac São Paulo. As manobras são feitas para ativar a circulação sanguínea, informa ele. “Um dos principais benefícios da massagem ocidental é a expulsão do ácido lático das fibras musculares. É útil para atletas e pessoas com dores musculares causadas por tensão.” Para ele, a massagem ocidental foi criada no século 19 por um sueco, que resgatou técnicas usadas na Grécia e na Roma antiga, banidas na Idade Média por dogmas religiosos.

A fisioterapeuta Fátima Caromano costuma recomendar aos seus pacientes que pratiquem a automassagem, mas percebe que nem todos se permitem esse toque. “Para muitas religiões, o corpo é uma fonte de pecado, de desejo, luxúria. Isso não é fácil de mudar. Por isso, quando recomendo uma massagem após o banho, falo para usar uma toalha”, comenta.

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Massagem ou jiu-jitsu? 

Quando viajava pela Tailândia a turismo em 2018, Emerson Yuji Osako, de 47 anos, notou que a prática da massagem estava no dia a dia da população. Era oferecida não só nas clínicas, como nas calçadas. “Eu me lembro de ver o neto fazendo massagem na avó no ponto do ônibus”, exemplifica. Um dia resolveu experimentar a massagem local e se surpreendeu.

“Recebi a massagem em um tatame e a terapeuta segurou meu pé com as mãos e empurrou a minha coxa com o pé. Parecia um golpe de jiu-jítsu”, relata. Apesar do susto, a massagem deu um jeito nas dores causadas pelo peso da mochila de 30 quilos. No ano seguinte, retornou ao país para fazer um curso de dois meses, com 300 horas, na Thai Massage School of Thailand (TMC).

Ao voltar para o Brasil, em 2020, recebeu um balde de água fria: foi surpreendido pela pandemia e, quando algum cliente ligava, era à procura de massagem sexual. Por conta das boas indicações de clientes, Yuji afirma que hoje não é mais constrangido e atende pessoas em domicílio e SPAs, principalmente estrangeiros que já conhecem a massagem tailandesa tradicional – pouco difundida no Brasil. 

A produtora cultural Melina Maria Manasseh, de 50 anos, procurou Yuji por conta das dores nas costas, por indicação de uma colega. “Achei uma delícia e tive alívio imediato”, garante ela, que está acostumada a receber massagens para descontrair a musculatura quando joga tênis.

De segunda a sábado, a pedagoga Fernanda Regina Cassiola, de 47 anos, pratica musculação. Depois de um treino mais intenso, sentiu um desconforto que a incomodava até para respirar. Por indicação do marido, procurou o fisioterapeuta Edson Santiago, que recomendou acupuntura e liberação miofascial, uma técnica de relaxamento muscular por meio do alongamento dos músculos e da fáscia – uma película que envolve os músculos. “Após a sessão, conseguia me movimentar quase normalmente”, recorda Fernanda.

Santiago revela que a liberação miofascial é a principal demanda no consultório. “Apesar da moda, existe na literatura há décadas”, conta. O procedimento pode ser realizado com auxílio de ferramentas para exercer os deslizamentos e pressões no corpo, mas ele prefere usar as mãos. A força do terapeuta não pode ser exagerada – há um aparelho que ajuda a medir essa força. Mas nem sempre dá para evitar a dor. “Pode ser desconfortável, pois o ponto de gatilho pode estar dolorido.” 

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De acordo com o fisioterapeuta, os melhores resultados da liberação miofascial são para problemas como cefaleia tensional, dores no ombro (se a causa for um ponto de tensão), lombares e fibromialgia. Ele diz que, de modo geral, em cinco sessões dá para esperar um bom resultado.

A escolha do profissional

Para receber uma massagem sem correr risco de prejudicar o corpo, é preciso avaliar o currículo do profissional. “Hoje, há cursos online que não oferecem a prática, mas concedem certificado. Como você vai aprender a massagear uma pessoa sem tocá-la? Isso é preocupante”, reflete Ednei Fernando Manojo, professor da Eoma.

Andréa Dantas diz que consegue dormir melhor à noite depois de uma sessão de massagens. 'Saio de lá mais leve e feliz' Foto: Werther Santana/Estadão

O massoterapeuta e fisioterapeuta Cesar Dam Mabe, proprietário da Clínica Mabe, em São Paulo, concorda. “Tem muita gente trabalhando com pouco conhecimento. Há pessoas que abrem suas clínicas com vários diplomas na parede, mas pouca experiência”, alerta. Na visão de Mabe, um critério seguro de escolha é selecionar profissionais que completaram ao menos o curso técnico de massoterapia, de dois anos de duração. “O curso oferece uma base importante, pois inclui conhecimentos de anatomia, fisiologia e patologias, além de experiência prática”, reforça. 

O bom técnico sabe da importância de fazer uma boa avaliação inicial do paciente, a anamnese, afirmam os especialistas. “Mesmo que não haja um questionário por escrito, ele faz as perguntas certas para saber quando não pode massagear. Mas não é capaz de fazer um diagnóstico”, ensina Mabe.

Nos casos em que há lesão, é preciso procurar um fisioterapeuta, recomenda Mariana Chaves Aveiro, professora do Departamento de Ciências do Movimento Humano da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “O fisioterapeuta será capaz de identificar a causa do adoecimento e direcionar para uma técnica específica para melhorar a lesão e fazer um tratamento. Não dá para dizer que você fez um tratamento terapêutico ao sentar numa cadeira de quick massage, sem ter passado por uma avaliação”, avisa.

No Senac São Paulo, são oferecidos 16 cursos livres, técnicos ou de pós-graduação que incluem massagem na programação. Alexandre Paschoal, professor do Senac São Paulo, explica que há um Projeto de Lei do Senado (PLS 13/2016) que estabelece que para o exercício da profissão de massoterapeuta seja exigido o diploma de nível técnico. Enquanto isso, ainda é adotada a Lei n.º 3.968 de 1961 para exercer a profissão tanto do massagista que frequenta cursos livres, como do massoterapeuta que faz um curso técnico – mas que é considerada desatualizada pelos especialistas.

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Um curso de graduação focado em massoterapia é oferecido pela Faculdade Ebramec – Escola Brasileira de Medicina Chinesa, em São Paulo. Autorizado pelo Ministério da Educação (MEC), tem 2.400 horas de aula. “Na China, a massoterapia, conhecida como Tui-ná, é ensinada em nível superior”, compara Reginaldo Filho, diretor-geral da Ebramec.

Para escolher um bom profissional, Reginaldo recomenda dar importância para indicações de conhecidos, além de ter uma boa conversa inicial. “Fique alerta com aqueles que prometem resultados milagrosos ou garantidos e valores muito diferentes do mercado.” 

COMO ESCOLHER

O menu de opções de massagem oferecidos pelas clínicas e SPAs pode apresentar uma variedade de nomes que causam confusão. Veja a seguir os tipos de massagem:

Massagem auxilia não apenas nas dores corporais, mas também em relação à ansiedade e estresse Foto: Werther Santana/Estadão

  • Massagem clássica, relaxante ou sueca: tem características das massagens feitas nas antigas Grécia e Roma. Com movimentos de deslizamento e amassamento na pele, promove a circulação sanguínea que leva ao relaxamento, com uso de óleos e cremes.
  • Drenagem linfática: com movimentos de deslizamento no corpo feitos com a mão, tem como objetivo estimular o sistema linfático a eliminar o excesso de fluidos.
  • Anmá: terapia manual oriental popular no Japão, tem movimentos de deslizamento e amassamento, feitos geralmente por cima da roupa ou com uso de um pano, sem óleo ou cremes. 
  • Shiatsu: foca a pressão em pontos do meridiano energético, de acordo com a Medicina Tradicional Chinesa.
  • Tui-ná: é a massoterapia chinesa, um dos cinco ramos da Medicina Tradicional Chinesa. Utiliza técnicas de deslizamento com as mãos. Promove o equilíbrio do Qi (energia vital) como a acupuntura, o que melhora a saúde e traz relaxamento.
  • Liberação miofascial: aplica uma pressão intensa em alguns pontos do corpo para remover os nódulos de tensão muscular e ajudar a relaxar e alongar os músculos e a fáscia, película que envolve os músculos. Recomendada para alguns tipos de dores de cabeça, dores musculares crônicas e má circulação.
  • Massagem ayurvédica: baseada nos princípios da Medicina Ayurvédica, tradicional indiana, foca no reequilíbrio do “prana”, ou energia vital. Entre os benefícios atribuídos está a remoção de toxinas e a desobstrução destes canais de energia para aliviar dores e tensões.
  • Massagem tailandesa: o terapeuta usa mãos, cotovelos e joelhos para realizar torções, compressões e alongamento no paciente, com objetivo de desbloquear pontos de energia e restabelecer o equilíbrio energético.
  • Reflexologia: feita nos pés ou nas mãos pelo terapeuta, que usa as mãos, ponta dos dedos ou acessórios para pressionar áreas do pé que refletem partes do corpo.

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