SÃO PAULO – Após o Brasil atingir o pico de casos de covid-19 com o avanço da variante Ômicron, mais transmissível, a média móvel de contaminações está em queda há quase duas semanas. O índice saiu de 188,1 mil, no último dia 3, para 127 mil nesta terça-feira, 15, conforme dados reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa.
Especialistas apontam que, apesar de os números seguirem altos, a tendência dos últimos dias indica que o pico causado pela Ômicron já pode ter passado, principalmente nas grandes cidades. A alta de mortes por covid, por outro lado, segue como um ponto de atenção.
Pesquisador da Fiocruz e coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes pondera que, a exemplo do que se viu no apagão de dados, ocorrido no final do ano passado, os registros de casos têm uma “série de limitações”, o que “pode gerar eventuais erros de interpretação” na situação da pandemia.
Ainda assim, ele reforça que, mesmo levando isso em consideração, “os dados mais recentes estão apontando para uma mudança no cenário em termos de tendência no número de novos casos semanais”. Gomes explica que, quando se olha para os dados de internação e para os casos associados à síndrome respiratória aguda grave (SRAG), em que se pode observar especificamente a data de ocorrência e compensar o atraso de digitação, já se nota uma tendência de melhora.
Segundo o pesquisador, o boletim de semana passada do InfoGripe já aponta mudança significativa. “A gente vinha de uma situação em que se tinha um número muito grande de Estados ainda apresentando sinal de crescimento há duas semanas. Na atualização da semana passada, já se observou uma redução importante.”
Conforme o boletim divulgado pela Fiocruz, após a alta de casos acarretada pela Ômicron, há agora um cenário nacional de interrupção do crescimento de diagnósticos positivos em todas as faixas etárias da população adulta. A análise indica que cinco Estados sinalizam crescimento só na tendência de curto prazo: Amapá, Maranhão, Pará, Pernambuco e Rondônia. Já em Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Pernambuco, Sergipe e São Paulo vê-se sinal de queda na tendência de longo prazo.
“Os dados até o fechamento da semana passada, que estão sendo utilizados para gerar a atualização desta semana do boletim do InfoGripe, também estão apontando nessa direção”, adianta Gomes.
Apesar do cenário de melhora, o pesquisador da Fiocruz explica que o País ainda está com um volume de casos “bastante expressivo”. “Se não fossem as vacinas, a situação seria muito pior”, diz. “A gente estar observando volumes altos com a população vacinada; é sinal de que realmente a transmissão foi muito forte nesse período que vem desde o fim do ano passado até janeiro de 2022.”
Para Márcio Sommer Bittencourt, do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP, o pico de casos da Ômicron já passou no País. “A transmissão está em queda faz algumas semanas no Brasil”, diz Bittencourt. “Não sei se em todas as regiões, mas na maioria do País com certeza.”
A epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), entende que "muito provavelmente” o pico de casos já passou nos grandes centros. “Como a Ômicron entrou em tempos diferentes nos locais, Estados e municípios, a gente tem essa defasagem, essa diferença entre os locais”, explica a pesquisadora.
“Mas pela influência dos grandes centros, principalmente as grandes cidades, como Rio de São Paulo, onde a Ômicron iniciou esse pico e já está em desaceleração, isso tem uma influência importante nessa curva (de casos)”, continua. “Então, a gente tem visto também diminuição de procura nos serviços de saúde. Mas o pico de óbitos ainda vai demorar um pouco mais para descer, pelo menos até final de fevereiro, primeira semana de março.”
Já Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), diz que não há como prever prazos em relação à curva de contaminação pela Ômicron. “Nas capitais, por onde a nova onda se iniciou, os casos já estão decrescendo. Em outras localidades, ainda estão em ascensão”, explica. “Não observaremos, provavelmente, um platô como nas outras ondas; a subida vertiginosa é acompanhada também de uma queda rápida.”
O médico destaca que os números relacionados a hospitalizações e mortes caem um pouco mais tarde do que o de casos, outro motivo que torna importante continuar em alerta em relação à Ômicron. Conforme dados do consórcio de veículos de imprensa, a média móvel de casos desta terça (127.077) foi 29% menor na comparação com duas semanas atrás. A de mortes (847), em contrapartida, foi 30% superior em relação à mesma data.
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