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Meia hora de exercício por dia pode evitar câncer

Estudo de universidades, incluindo USP, indica redução de 2.250 casos da doença

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Atualização:

Seguir aquela recomendação básica de se exercitar por pelo menos meia hora por dia durante cinco dias na semana poderia prevenir pelo menos 2.250 casos de câncer de mama e de cólon no País. Se a atividade física fosse feita no nível que provavelmente o ser humano tinha quando vivia em sociedades caçadoras e coletoras, com cerca de 5 horas de exercícios diários, o potencial de prevenção poderia ser de até 10 mil casos.

12% dos casos de câncer de mama pós-menopausa e 19% dos de cólon são atribuíveis à falta de atividade Foto: REUTERS/Stephane Mahe

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As contas, feitas por um grupo de pesquisadores das Universidades de São Paulo (USP), Federal de Pelotas, de Cambridge (Reino Unido), de Queensland (Austrália) e Harvard, foram publicadas neste mês na revista científica Cancer Epidemiology.

A ideia foi cruzar o conhecimento consistente que já existia de outros estudos científicos – que mostram os benefícios da atividade física na proteção contra esses dois tipos de cânceres –, com a incidência dessas doenças no Brasil e com a taxa de exercícios praticados pelos brasileiros. O dado sobre a atividade física vem da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013. Segundo o trabalho, cerca de metade da população (47,6%) não atinge nem sequer os 150 minutos semanais de exercícios recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Entre as mulheres, a situação é pior (50,7%) que entre os homens (44,2%).

Os dados de câncer foram extraídos da OMS e do Instituto Nacional do Câncer (Inca). O câncer de mama é o mais comum entre mulheres no Brasil e no mundo. Por aqui, responde por 28% dos casos novos a cada ano. Para 2018, é estimado o surgimento de 60 mil registros. Para o câncer de cólon, a estimativa é de 36 mil novos casos.

Cenário ideal

“A literatura científica já traz um bom entendimento sobre os benefícios, mas não sabíamos ainda o impacto que isso teria no Brasil”, afirma Leandro Rezende, doutorando em Epidemiologia na Faculdade de Medicina da USP e primeiro autor de artigo. “A ideia foi comparar a carga de câncer atual registrada no Brasil com a que seria observada se a população tivesse um nível de atividade física ideal para a prevenção do câncer.”

Esse ideal, porém, admite o próprio pesquisador, é um número que assusta. Seriam necessárias 5 horas de atividade física diária para alcançar o máximo possível de prevenção – ou os 10 mil casos a menos, o que corresponde a 2,4% do total de registros de câncer hoje no País. 

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“Falamos isso dentro de um cenário teórico ideal. O objetivo da pesquisa não é dizer que tem de fazer isso, ainda mais considerando a vida de escritório nas cidades. A PNS mesmo mostrou que só cerca de 6% da população atinge isso hoje. É o que faz quem trabalha com atividades ocupacionais e caminha o dia inteiro, por exemplo, ou alguns atletas”, diz. 

“Para efeitos de prevenção ao câncer, é como se ninguém fumasse, não tomasse álcool ou tivesse dieta perfeitamente saudável. É um cálculo sobre o quanto seria possível evitar, em termos de prevenção de câncer, quanto a gente conseguiria evitar”, complementa.

Queda

Em outra maneira de apresentar os dados, é possível dizer que 12% dos casos de câncer de mama pós-menopausa e 19% dos de câncer de cólon são atribuíveis à falta de atividade física no País. Com os 150 minutos de exercício por semana recomendados pela OMS, seria possível prevenir 1,3% dos registros de câncer de mama e 6% dos de cólon. À medida em que se aumenta a atividade física, os casos vão caindo mais.

Perder peso é fator-chave

O grupo que publicou o trabalho sobre exercícios físicos investigou também como a perda de peso pode reduzir a incidência de câncer no País. Artigo de abril apontou que poderiam ser evitados ao menos 15 mil casos por ano.

Os ganhos da atividade física contra a doença ocorrem, em boa parte, por promover perda de peso e de adiposidade. “Reduz inflamações, resistência à insulina, melhora o sistema imune e também reduz os níveis de alguns hormônios sexuais relacionados com cânceres”, explica o pesquisador Leandro Rezende.

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A obesidade sozinha está associada a 13 tipos de cânceres (mama pós-menopausa, cólon, útero, vesícula biliar, rim, fígado, mieloma múltiplo, esôfago, ovário, pâncreas, próstata, estômago e tireoide).

Novos estudos vêm sendo feitos para checar os benefícios das atividades físicas também para essas outras doenças – trabalho que não é simples, porque envolve acompanhar grandes grupos por longo tempo. Mama e cólon são mais fáceis porque são os mais comuns. “No limite, a gente espera que, se a atividade física consegue reduzir peso e adiposidade, talvez possa ter efeito nos os 13 tipos”, diz Rezende.

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