Meire Galvão sobre Alzheimer da irmã: ‘É preciso ter paciência porque eles não têm culpa’

Marilene, da dupla As Galvão, morreu no ano passado por complicações da doença após mais de 70 anos de carreira com a irmã Meire

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Foto do author Fabiana Cambricoli

É invocando a letra de uma música que interpretava com a irmã que a cantora Meire Galvão, de 83 anos, descreve qual foi o maior aprendizado (e desafio) de cuidar de um familiar com Alzheimer: “É preciso ter muita paciência, tolerância e amor porque eles não têm culpa. É como a Marilene cantava: ‘Eu não tenho culpa / Se o presente levou / Meu passado embora’”.

As irmãs Meire e Marilene formaram, por mais de 70 anos, uma das duplas sertanejas mais longevas do País: As Galvão, intérpretes de sucessos como Beijinho Doce. Em agosto do ano passado, Marilene morreu por complicações do Alzheimer, aos 80 anos, dez anos após o diagnóstico. Como mostrou o Estadão, o número de óbitos por demências no País dobrou nos últimos dez anos.

Meire, da dupla As Galvão, conta que irmã Marilene conviveu por dez anos com Alzheimer antes de morrer por complicações da doença Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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A canção Eu Não Tenho Culpa foi composta pelo músico e maestro Mário Campanha, marido de Meire e que se apresentava com as irmãs, para homenagear Marilene após o aparecimento da doença. A música simula um diálogo entre as duas irmãs sobre os desafios da doença e a dedicação dos familiares que cuidam.

“Eu não gosto de enfeitar e sempre explico a quem me pergunta as dificuldades que a família têm. Com a Marilene, todos sempre tiveram muito carinho. Eu tive muito apoio do nosso médico e do meu companheiro porque é uma situação pesada. É preciso ter muita paciência porque às vezes eles não entendem, não se lembram, são teimosos ou podem ficar agressivos, mas a gente não pode ficar irritado. Eles não têm culpa”, diz Meire.

A cantora conta que a doença foi descoberta a partir de episódios de esquecimento de Marilene, principalmente durante os shows da dupla.

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“Tivemos uma carreira de 74 anos, sempre dando tudo certo, ela tocava violão muitíssimo bem. De repente, ela começou a ficar meio esquecida, não se lembrava das letras, se atrapalhava com o violão. Pensamos que ela podia estar cansada de tantos anos de carreira, mas, quando procuramos um médico, tivemos o diagnóstico de Alzheimer”, diz.

Mesmo com as limitações impostas pela doença, Meire e Mário fizeram questão de manter a agenda de shows e compromissos com Marilene por perceberem que isso fazia bem a ela. “Até antes da pandemia, fazíamos shows. Quando ela se esquecia das letras, o Mário ajudava. Com a pandemia, nós, artistas, tivemos que parar. E ela sentiu muito isso. Para ela, era bom cantar, se comunicar com as pessoas. Ela foi ficando triste, enfraquecendo”, diz Meire.

Meire Galvão e seu marido e parceiro musical, Mário Campanha, cuidaram de Marilene após o diagnóstico de Alzheimer Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Pesquisas mostram que, de fato, estímulos cognitivos e manutenção das relações sociais são fatores importantes para adiar a evolução de quadros demenciais juntamente com atividades físicas, controle de doenças crônicas e uso de medicamentos.

Com o avanço da doença e os prejuízos trazidos pela pandemia, Marilene foi ficando mais debilitada e seu quadro de saúde se agravou. “O fato de não podermos cantar, de não viajar mais para os shows atrapalhou muito a mente dela. Ela passou a ter dificuldade para comer, quase não falava mais. É uma situação muito difícil para a família. A gente consegue amenizar (os efeitos da doença), mas é uma situação que não tem retorno, e teve uma hora que ela não reagiu mais”, diz a sertaneja.

Meire diz sentir muita falta da parceria com a irmã, mas afirma que a música e o carinho dos fãs da dupla a ajudam a seguir em frente. “O amor entre nós duas era muito grande. Imagina ficar mais de 70 anos trabalhando juntas, sem nenhum problema. Para enfrentar essa doença, tem que ser um amor do coração mesmo”, diz.

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Embora more em São Paulo, Meire conta que decidiu enterrar o corpo da irmã em Paraguaçu Paulista, no interior paulista, no bairro onde elas, ainda crianças, começaram a cantar. “Fizeram um túmulo muito bonito, recebemos muitas homenagens. Tem violeiros que vão ao cemitério aos fins de semana cantar para ela. Receber esse carinho e continuar cantando têm me ajudado muito.”

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