No Pergunte ao Especialista desta semana falamos sobre menopausa precoce. Se você também tiver alguma dúvida sobre saúde, psicologia, bem-estar, exercício físico ou nutrição, escreva para ana.lourenco@estadao.com ou envie uma DM para o nosso Instagram.
Responde Dra. Carla Iaconelli, ginecologista.
A menopausa precoce é a menopausa que acontece antes dos 40 anos. E a gente só vai descobrir que a mulher está nela quando se passa um ano e ela não menstrua mais. Só após esse período é que a gente considera que ela está em falência ovariana e não menstruará mais.
Consideramos menopausa a última menstruação da vida da mulher, assim como a menarca é a primeira. Diferente de climatério, que o período que acontece essa menopausa. Ele se inicia antes da menopausa, pode durar de cinco a dez anos, e é caracterizado por alterações dos níveis hormonais, especialmente o estrogênio.
O estrogênio vem do ovário, e apenas o ovário que pode produzir folículos, pode produzir estrogênio. Portanto na menopausa e no climatério, os níveis desse hormônio vão sendo cada vez menores e isso é importante porque existem receptores de estrogênio espalhados pelo corpo todo. E ele tem influência na densidade dos ossos e musculaturas e na distribuição da gordura corporal. Ou seja, a gordura passa a ser distribuída de maneira diferente do que quando a mulher ovulava. Então se antes ela priorizava o bumbum, quando ela para de ovular, a distribuição vai priorizar o abdômen, a famosa gordura visceral. O que consequentemente, aumenta o risco de enfarte e eventos cardiovasculares.
Quais os sintomas da menopausa precoce?
Além disso, os sintomas da menopausa precoce, que são os mesmos da menopausa regular, estão relacionados ao envelhecimento. Assim a produção de colágeno cai bastante, tem efeitos na memória, na cognição e no sono – as mulheres nesse período dormem mal e sentem muito calor.
Claro que dito isso, nem todas as mulheres vão passar pela menopausa de maneira igual. Cada uma vai ter um sintoma mais forte, mas em geral, são problemas que incomodam, por mais que sejam esperados. Por isso é importantíssimo ter uma frequência pelo menos anual com o ginecologista para que se faça um check-up completo.
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O que causa a menopausa precoce?
As causas da menopausa precoce podem ser genéticas ou podem ter um fator anatômico, quando, por exemplo, a mulher precisou ser operada e retirou os ovários devido a uma endometriose. Sabemos que as cirurgias relacionadas ao sistema reprodutor podem levar a uma menopausa precoce.
Também é possível que se tenha uma relação com a Síndrome de Turner (distúrbio cromossômico em que uma mulher nasce com apenas um cromossomo X). Mas o estilo de vida do paciente também tem um peso forte no diagnóstico, especialmente o tabagismo.
Esse, aliás, é o primeiro lugar que trabalhamos quando existe uma possibilidade de reverter o quadro. Então ter um estilo de vida saudável: não fumar, não beber, fazer atividade física, comer bem e fazer musculação, que fortalece os músculos e os ossos, é essencial.
Quando a menopausa precoce acontece na faixa dos 30 anos (a média é de 1 para cada 1000 mulheres), geralmente é um fator genético e a orientação é fazer uma avaliação do seu padrão de ciclo. E é importante que pacientes nessa idade chequem a reserva ovariana, pesquisem como estão os ovários e perguntem para a mãe, a avó se existem casos de menopausa precoce na família. O médico precisa dessa informação.
A emenda de cartelas de pílulas anticoncepcionais, nesse sentido, é perigoso, porque apesar dela não afetar a menopausa, tira a oportunidade da paciente verificar a qualidade da menstruação. O ideal é ficar, de tempos em tempos, três meses sem a pílula para ter esse conhecimento.
Como curar a menopausa?
Quando a paciente tem menopausa precoce é importante que se faça uma reposição hormonal até os 45 anos, pelo menos. Isso faz com que ela não sinta tão agudamente os sintomas. Lembrando que não é colocar mais hormônios no corpo e sim repor aquele que está em falta para que se tenha um bom funcionamento corporal. Existem estudos promissores, mas por enquanto esse é o melhor tratamento.
Os exames que confirmam a menopausa também são aqueles que fazemos no check up: exames de sangue que avaliam os níveis de estrogênio, SSH e LH; o exame anti-mulleriano que avalia a reserva ovariana da mulher, além de exames de imagem, como o ultrassom transvaginal que permite vermos os folículos funcionando, se os ovários estão atrofiados ou não, se estão com um volume normal, possíveis cistos, enfim.
* Pergunta inspirada na dúvida da leitora Mariana Kobal, de São Paulo.
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