O Ministério da Saúde (MS) em parceria com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) divulgou, nesta quinta-feira, 29, uma nota técnica em que reforça orientações para a prevenção e o cuidado integral relacionados ao câncer de pênis no Brasil. Nos últimos 10 anos, mais de 6 mil pacientes tiveram que recorrer à amputação do órgão devido à gravidade da doença, uma média superior a 600 amputações por ano, de acordo com um compilado feito pela SBU com base no Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS).
Classificada como uma infecção crônica do prepúcio (pele que encobre a glande, a cabeça do pênis), a doença se manifesta inicialmente como uma ferida que não cicatriza. Com o tempo, evolui para uma úlcera ou lesão grave.
Em alusão ao fim da Campanha de Prevenção ao Câncer de Pênis da SBU, realizada em fevereiro, o Ministério da Saúde e a entidade médica enfatizam a importância de profissionais de saúde orientarem a população sobre os seguintes cuidados:
- Higiene do pênis: a prática de limpeza deve ser realizada diariamente com água e sabão neutro, puxando o prepúcio totalmente para trás. A prática deve ser realizada também após relações sexuais.
- Autoexame: ao notar qualquer alteração no pênis, como feridas, inchaços, ou mudanças na cor e textura da pele, é recomendado buscar atendimento.
- Práticas sexuais seguras: é recomendado o uso de preservativos na relação sexual, além da vacinação contra o vírus HPV (o papilomavírus humano), disponível no SUS para a população de 9 a 14 anos e imunossuprimidos até os 45 anos.
- Circuncisão: incentiva-se a retirada do prepúcio quando a pele que encobre a glande impede a higienização de forma correta, seja por ser muito longa (prepúcio redundante) ou por estar estreitada (fimose).
- Cuidados com a saúde: ter uma rotina atrelada a uma dieta saudável e equilibrada, paralela à prática regular de exercícios físicos, também se enquadra como forma de prevenção.
- Garantia de acesso: garantir os direitos dos adolescentes (10 a 19 anos) da possibilidade do atendimento desacompanhado, como estímulo positivo à autonomia e cidadania. Caso a sugestão não seja acolhida, o adolescente deve ser estimulado a participar ativamente, enquanto protagonista de seu próprio cuidado.
Além dessas orientações, o documento enfatiza a importância de gestores estaduais e municipais organizarem a rede de atenção à saúde, com a Atenção Primária à Saúde (APS) como porta de entrada de segmentos prioritários, permitindo eficiência de queixas na região genital de pessoas com pênis.
A qualificação profissional e a implementação de estratégias de disseminação de informações também foram ressaltadas. “O câncer de pênis é uma doença mutiladora e que pode ser prevenida com hábitos simples. Estar atento a qualquer ferida que não cicatriza é fundamental”, afirmou Luiz Otávio Torres, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, em comunicado.
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A amputação é sempre necessária? Qual é o tratamento?
Não, a mutilação nem sempre é necessária. O procedimento é indicado nos estágios mais avançados da doença e varia com o tamanho do tumor. “Ela pode ser parcial (geralmente correspondente à retirada da glande) e não comprometer a vida sexual do paciente; ou total, que compromete essa funcionalidade”, afirmou o urologista Walter da Costa, do A.C Camargo Câncer Center, ao Estadão.
Segundo o especialista, existem técnicas de reconstrução do membro, mas elas têm apenas função estética e não devolvem ao paciente a sensação de prazer. Além disso, ele explica que, na amputação total, muitas vezes a uretra é colocada no períneo (região entre o ânus e os órgãos genitais) e o paciente passa a urinar sentado.
Para o urologista especializado em câncer Arie Carneiro, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, a incidência de câncer de pênis e o número de amputações no Brasil também estão relacionados ao tabu que envolve o órgão genital masculino. “Muitas vezes por vergonha, o paciente prefere não comentar sobre alguma ferida que aparece no pênis e acaba demorando para buscar tratamento”, exemplifica.
Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram que mais da metade dos pacientes demoram até um ano desde o aparecimento das lesões para procurar um médico. Quanto mais tardiamente descoberto, mais difícil é o tratamento do câncer de pênis, alerta o urologista Maurício Dener Cordeiro, coordenador do Departamento de Uro-Oncologia da SBU. “Se identificado no início, esse tumor tem grandes chances de cura e permite um tratamento menos agressivo”.
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