O Ministério da Saúde anunciou estratégias de vacinação para a covid-19 assim que um imunizante esteja aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O plano prevê duas campanhas de conscientização sobre a importância da vacina. A primeira, sobre o processo de produção e aprovação de um imunizante acontece entre dezembro e janeiro. O presidente Jair Bolsonaro já questionou a necessidade de uma vacinação obrigatória contra a doença e já colocou em xeque, sem provas, a segurança da Coronavac, testada pelo laboratório chinês Sinovac e pelo Instituto Butantã.
O plano de imunização é composto por 10 eixos prioritários com responsabilidades divididas entre diversas instituições, como Fiocruz, Butantã, Sociedade Brasileira de Imunologia e de órgãos federais. O secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Arnaldo Medeiros, destaca que o eixo 1 é dedicado para avaliação da situação epidemiológica. “O objetivo é identificar grupos de maior risco. Para isso, deverá ser levado em conta o perfil da vacina: faixa etária na qual está registrada e que é mais eficaz, esquema de vacinação, dados de segurança, duração da vacina em frasco aberto e condições de armazenamento. Vamos avaliar o andamento dos estudos das vacinas para definirmos o eixo 1, que vai definir os prioritários”, diz o secretário.
O eixo 2 prevê a atualização das vacina em estudo. Atualmente, há mais de 400 projetos em desenvolvimento - metade foi registrada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) -, 154 estão em estágio de pesquisa pré-clínica e 44 em estudos clínicos. Destes, 10 estão em fase 3 de testes. O eixo 3 reforça o monitoramento e orçamento, com objetivo de avaliar se a vacina entrará como rotina ou campanha anual para incorporar ao orçamento na do Programa Nacional de Imunizações para aquisição.
A operacionalização da campanha será definida no eixo 4 que também discute a estratégia de vacinação, distribuição de doses por Estado e público-alvo. O secretário executivo da do Ministério da Saúde, Elcio Franco afirmou que nesta semana, técnicos da pasta ouviram propostas sobre o fornecimento de imunizantes da Pfizer, Johnson & Johnson, Moderna, Sputnik V e Covaxin. Segundo ele, o resultado das reuniões serão “memorandos de entendimentos não vinculantes para futuras aquisições”. "A vacina deve oferecer segurança em primeiro lugar e em seguida a eficácia, que seria a imunogenicidade. Em seguida, produção em escala, oferta em tempo oportuno, preço e condições logísticas adequadas e favoráveis”, comenta. O Brasil possui 37 mil postos de saúde e oito mil quilômetros quadrados e é necessário que a vacina chegue em todos os pontos.
Franco reforça que é obrigatório que a vacina a ser distribuída tenha registro na Anvisa, conforme previsto na legislação. “Só posso comprar o que existe e para o Brasil, uma vacina só existe quando tiver registrada na Anvisa. Nenhuma vacina concluiu a fase 3 de testes no mundo”, completa o secretário. O eixo de farmacovigilância diz respeito ao monitoramento de eventos adversos pós-vacinação e pós-licenciamento da vacina, fase em que está prevista a administração da vacina em massa.
Em seguida, estão previstos estudos de monitoramento e pós-marketing para análise de coortes para averiguar se a incidência da doença ou evento adverso à saúde difere entre o os grupos e estudos de efetividade e segurança. Os eixos 7 e 8 contemplam, respectivamente, os sistemas de informação e monitoramento com objetivo de registrar o indivíduo, avaliar a cobertura vacinal da população e acompanhamento de eventos adversos.
O secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros aponta que o DataSus será essencial para que as vacinas tenham rastreabilidade. “Para saber qual vacina cada cidadão tomou, estimulamos que baixem o aplicativo Conecte SUS”. “A necessidade cresce com a multiplicidade de vacinas que podemos ter. Com ele, poderemos ver não apenas os exames, mas a carteira de vacinação digital. Ela servirá como proteção para o cidadão para sabermos qual vacina ele tomou e qual efeito adverso surgiu”, completa Elcio Franco.
Os eixos 9, previsto para acontecer entre dezembro deste ano e janeiro de 2021, trata do plano de comunicação de campanha para vacinação, O objetivo é conscientizar sobre o processo de produção e aprovação de uma vacina, para dar segurança à população em relação a eficácia dos imunizantes que o Brasil vier a utilizar, bem como da sua capacidade. O próprio presidente, porém, questionou a segurança da Coronavac e chegou a comemorar a interrupção nos testes do imunizante após a morte do voluntário. Os ensaios clínicos, porém, foram retomados após cientistas mostraram que o óbito, provavelmente por suicídio, não tinha elo com a vacina.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.