Mutirões de saúde em ‘vazios assistenciais’ serão prioridade, diz Nísia Trindade

Ministra da Saúde de Lula promete valorizar potencial do SUS, mas aproveitar também estrutura dos setores privado e filantrópico

PUBLICIDADE

Foto do author Fabiana Cambricoli
Atualização:

Anunciada nesta quinta-feira, 22, como ministra da Saúde do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Nísia Trindade Lima afirmou que uma das prioridades de sua gestão será fazer mutirões de procedimentos em locais desprovidos de estabelecimentos de saúde. Em declaração à Agência Fiocruz de Notícias logo após o anúncio de seu nome para o cargo, a cientista social afirmou que valorizará o SUS e irá dialogar com o setor privado e filantrópico para melhorar a saúde do País.

PUBLICIDADE

“A prioridade é usar todo o potencial do SUS, com os seus serviços próprios, a área que envolve os hospitais filantrópicos, que respondem a 50% das internações do SUS, e também o setor privado para um grande esforço no sentido de colocarmos critérios, indicarmos e sinalizarmos os encaminhamentos de prioridade para a regulação, dando transparência a esse processo”, afirmou a futura ministra.

“Esse já é um esforço que estamos trabalhando e tem muitos elementos na transição para nos ajudar nesse sentido. Também pensamos em mutirões em áreas de vazios assistenciais; esse é o foco prioritário, como o próprio presidente Lula vem falando”, completou Nísia.

Presidente da Fiocruz desde 2017, Nísia tem experiência em gestão e fez parte do grupo de transição na área da saúde. Em seu relatório final, a equipe apontou as filas de espera por procedimentos eletivos como um dos principais desafios do novo governo. Estimativa do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) mostrou que 11,6 milhões de cirurgias hospitalares e ambulatoriais deixaram de ser feitas nos dois primeiros anos de pandemia. Recuperar as altas coberturas vacinais também é prioridade da nova gestão.

“É urgente recuperar o orçamento da área de saúde, bem como estabelecer medidas de resgate da autoridade sanitária e da capacidade técnica do MS para a coordenação nacional [...]. Isso é essencial para que as demais prioridades da área possam ser efetivadas, como o resgate das altas coberturas vacinais por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI); o fortalecimento da capacidade de resposta à covid-19 e outras Emergências de Saúde Pública; e o enfrentamento das filas na atenção especializada”, destaca o grupo da Saúde no relatório final do gabinete de transição.

Publicidade

Nísia Trindade, presidente da Fiocruz Foto: Peter Ilicciev / Fiocruz

Perfil

Nísia será a primeira mulher a chefiar o Ministério da Saúde desde que ele foi criado, em 1953. Desde então, passaram pelo cargo 50 ministros, todos homens. Nísia já havia feito história na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) ao tornar-se a primeira mulher a ocupar a presidência da instituição em seus 120 anos de existência. Cientista social com mestrado em ciência política e doutorado em sociologia, ela assumiu o cargo mais alto da fundação em 2017, após ser a mais votada da lista tríplice. Foi reeleita em 2020 para outros quatro anos de um segundo mandato, que iria até 2024.

Antes de assumir a presidência da Fiocruz, Nísia já acumulava mais de três décadas de trabalho na instituição, entre cargos técnicos e executivos. Ingressou na fundação em 1987 como pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz, onde tornou-se diretora em 1999. Em 2006, assumiu a gestão da Editora Fiocruz. De 2011 a 2016, foi vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz.

Ganhou ainda mais protagonismo durante a pandemia de covid-19, quando liderou, pela Fiocruz, iniciativas essenciais para o enfrentamento da pandemia, como a produção de milhões de testes diagnósticos de coronavírus e a parceria com a Universidade de Oxford e a farmacêutica Astrazeneca para a produção da vacina inglesa no Brasil com ingrediente farmacêutica ativo (IFA) importado.

Como presidente da Fiocruz, também criou o Observatório Covid-19, rede transdisciplinar que realiza pesquisas e sistematiza dados epidemiológicos, além de monitorar e divulgar informações para subsidiar políticas públicas contra o coronavírus e seus impactos sociais. Em dezembro de 2020, foi eleita membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), na categoria ciências sociais.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.