A tosse pode se manifestar por diversos motivos. Afinal, ela é um mecanismo natural de defesa do nosso aparelho respiratório que ocorre, na maioria das vezes, para eliminar um agente estranho que está causando um processo irritativo ou lesionando as nossas vias aéreas, inferiores ou superiores. Ela pode ser causada por um simples resfriado, mas também pode sinalizar alguma condição crônica ou mais grave.
É comum que as pessoas não deem muita importância para a tosse, mas, dependendo da sua duração e dos sintomas que vierem acompanhados, é preciso ter uma avaliação médica para descobrir os motivos e definir o tratamento adequado. Veja abaixo as principais dúvidas sobre o tema.
1 – O que é a tosse?
A tosse é um mecanismo de defesa do organismo desencadeado por receptores presentes no sistema respiratório contra estímulos presentes nas vias aéreas. Ela tem a função de limpar as vias aéreas, protegendo os pulmões contra materiais e partículas inalados em grande quantidade e retirar o excesso de muco (catarro) existente por deficiência da limpeza mucociliar ou por aumento da sua produção.
A efetividade da tosse varia de acordo com a velocidade do ar nas vias aéreas e depende da força gerada pela musculatura respiratória. Muitas vezes, pode ser desencadeada por outros tipos de estímulos, até mesmo provenientes de outros órgãos, que não os do próprio sistema respiratório.
2 – Quais os tipos de tosse?
Eles variam. A tosse pode ser considerada seca (quando não há a produção de nenhum tipo de secreção) ou produtiva, quando há a formação de muco/catarro/escarro ou quando há eliminação de sangue.
Esse escarro pode ser claro, amarelado, esverdeado ou apresentar pequenas estrias de sangue.
3 – Qual a diferença de uma tosse “normal” para a tosse persistente?
Não existe tosse normal: ela sempre é causada por alguma condição que deve ser acompanhada com atenção. A tosse é a manifestação de que algo está errado com as vias aéreas da pessoa. Esse sintoma pode ser reflexo de algum problema mais simples, que se resolverá espontaneamente, ou mais complexa.
A tosse é considerada aguda se durar, no máximo, três semanas. Ela vira crônica se durar mais que oito semanas – algumas pessoas chamam tosse crônica de tosse persistente. Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, a tosse que dura de três a oito semanas é chamada de subaguda.
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4 – Quais são as principais causas da tosse?
A tosse é provocada pela irritação das vias respiratórias. Existem várias causas, sendo as mais comuns:
- Gripes e resfriados – doenças virais, causadas por diferentes tipos de vírus respiratórios, e costumam ocasionar tosse aguda ou subaguda;
- Alergias – diferentes exposições alérgicas podem causar tosse, da mesma forma que diferentes doenças respiratórias alérgicas, como asma alérgica ou rinite alérgica. As alergias respiratórias também causam tosse seca, que podem ser intensas e ocorrer várias vezes ao dia. É preciso evitar contato com as causas da alergia, como ácaros, fungos, pelos de animais, poeiras, pólen e odores intensos, provenientes de produtos químicos (tinta, verniz, querosene etc).
- Rinite e sinusite – são chamadas doenças de via aérea alta, podem ser agudas ou crônicas, e relacionadas a diversos fatores, incluindo alergias e diferentes tipos de infecções. Além da tosse, costumam estar associadas a sintomas nasais, como congestão e coriza nasal;
- Asma – deve ser sempre excluída como causa de tosse, já que corresponde à cerca de 24 a 29% dos casos de tosse crônica, segundo a Comissão Científica de Asma da SBPT. Na maioria das vezes, a tosse está associada a outros sintomas de asma, como falta de ar e chiado, mas, em alguns casos, ela pode ser o único sintoma da doença, o que caracteriza asma tosse-variante;
- Bronquite não asmática – é um processo inflamatório dos brônquios, geralmente precedido por uma infecção das vias aéreas superiores. Ela é mais comum no inverno e, muitas vezes, é causada pelos mesmos vírus dos resfriados. Os vírus mais comuns são: adenovírus, influenza, coronavírus, rinovírus. A bronquite pode ser aguda ou crônica. A diferença consiste na duração e no agravamento das crises, que são mais curtas (uma ou duas semanas) na bronquite aguda, enquanto, na crônica, não desaparecem, pioram pela manhã e se manifestam por três meses ou mais durante pelo menos dois anos consecutivos;
- Tabagismo – a exposição à fumaça do tabaco pode causar tosse por irritação das vias aéreas de forma aguda ou crônica e, muitas vezes, a tosse pelo tabagismo já se configura como DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), que inclui enfisema pulmonar e bronquite crônica.
- Refluxo – Segundo a SBPT, a prevalência de tosse relacionada à DRGE (doença do refluxo gastroesofágico) varia de 5 a 41%. Os mecanismos pelos quais o refluxo desencadeia tosse são diversos e o quadro clínico pode apresentar queimação retroesternal ou apenas tosse. A DRGE é uma das causas comuns de tosse e deve ser considerada mesmo na ausência de sintomas específicos;
- Tuberculose – a tosse e a expectoração crônica são os sintomas mais importantes da tuberculose, e essa doença deve sempre ser investigada devido à alta prevalência no país.
5 – Em que momento uma tosse persistente preocupa?
A tosse se torna motivo de preocupação quando ela se torna mais duradoura. Um resfriado comum pode causar uma tosse, mas será um processo autolimitado que provavelmente vai se resolver em uma semana. Quando a pessoa observa que a tosse está persistindo mais do que duas, três semanas, é importante procurar um médico.
6 – O fato de ser uma tosse carregada ou mais seca faz diferença?
A tosse seca, em geral, não tem produção de secreção e está ligada a fatores mais irritativos das vias aéreas, como o frio, ou uma alergia, doença do refluxo gastroesofágico.
Por outro lado, a tosse úmida/produtiva significa que há uma produção de secreção, de catarro, e pode indicar pneumonia, tranqueobronquites, DPOC, entre outros problemas.
7 – Como aliviar os sintomas da tosse?
Sempre que possível, o tratamento da tosse deve ser direcionado à causa. Segundo a SBPT, as infecções respiratórias virais autolimitadas são responsáveis por 90% das tosses com duração inferior a três semanas. O tratamento dos sintomas nasais, excesso de secreção e irritação na garganta, pode ajudar a reduzir a intensidade da tosse. Manter a hidratação adequada e descansar também ajuda a acelerar a recuperação das infeções.
Agora, se a tosse for persistente ou preocupante, é fundamental procurar orientação médica para um diagnóstico adequado e tratamento específico.
8 – Podemos nos automedicar com xaropes, por exemplo, para alívio da tosse?
A automedicação não é recomendada. O uso rotineiro de xaropes para tosse não apresenta embasamento científico sólido. Na melhor hipótese, os xaropes podem diminuir o desconforto da tosse, porém, não contribuem para a cura da doença ou da condição responsável pelos sintomas.
Em casos de infecções respiratórias mais graves, a automedicação pode adiar o diagnóstico e tratamento médico adequado e aumentar o risco de complicações. Assim, a melhor automedicação que existe é beber muita água.
9 – Quando devo procurar um médico?
Recomenda-se procurar avaliação médica em caso de tosse persistente com duração acima de três semanas, presença de sinais de perigo ou se o paciente é imunossuprimido. Os sinais de perigo incluem falta de ar, dor no peito, febre persistente, redução da oxigenação ou piora clínica na vigência de tratamento adequado.
10 – Existe tratamento para tosse?
O tratamento vai depender da causa da tosse, por isso é preciso ficar atento aos sintomas para ter o diagnóstico correto. Não existe um tratamento único e a opção poderá ser mais específica, como no caso de pacientes com asma ou com refluxo gastroesofágico, ou poderá ser mais generalista, visando à diminuição da frequência e intensidade da tosse.
O arsenal de medicamentos mais usados para o controle da tosse inclui os broncodilatadores, medicamentos que atuam no sistema nervoso periférico, que interferem no muco e os anti-histamínicos. A busca do médico será sempre importante quando a tosse se tornar crônica, com mais de duas ou três semanas de duração.
FONTES: Lilian Serrasqueiro Ballini; Daniela Cavalet Blanco; Guilherme Freire Garcia; Ricardo Gassmann Figueiredo; Thiago Prudente Bartholo – membros da Comissão Científica de Asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e Maria de Fátima Bazhuni Pombo Sant’Anna, presidente do Departamento Científico de Pneumologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
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