São Paulo já registrou 12 infecções por febre amarela em 2025, das quais oito evoluíram para óbito. Em todos os casos fatais, os pacientes não estavam vacinados.
Doença infecciosa febril aguda, a febre amarela não tem tratamento com um antiviral específico — os cuidados se baseiam no controle de sintomas — e possui alta letalidade. Para se ter ideia, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 20% a 50% das pessoas que desenvolvem febre amarela grave podem morrer. A vacina é considerada a principal forma de proteção.

Por isso, com a aproximação do Carnaval e do aumento no número de viagens, o Governo de São Paulo reforçou a campanha de vacinação. “Tem dúvida se foi vacinado? Na dúvida, vacine-se”, orientou o secretário Eleuses Paiva, em coletiva de imprensa na última segunda-feira, 17.
A preocupação recai principalmente nos deslocamentos para áreas rurais e de mata, consideradas de risco para a doença neste momento.
No ciclo silvestre da febre amarela, o vírus circula entre macacos e mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, e humanos podem ser infectados ao serem picados por esses insetos em áreas de mata. No ciclo urbano, o mosquito Aedes aegypti, o mesmo que transmite dengue, zika e chikungunya, pode espalhar a doença em áreas urbanas, picando uma pessoa infectada e depois transmitindo o vírus a outros indivíduos.
Na dúvida, vacine-se
Eleuses Paiva, secretário da Saúde de São Paulo
De acordo com o secretário, cerca de 5 milhões de paulistas precisam se imunizar contra a doença. Para dar conta desse contingente, a pasta pediu 6 milhões de doses ao ministério e já recebeu 2 milhões.
“Os eventos adversos são raros, e os benefícios da imunização superam amplamente os riscos, especialmente diante da gravidade da febre amarela, uma doença potencialmente fatal que não possui tratamento específico. Graças a essa vacina, o Brasil e outros países conseguiram evitar epidemias devastadoras”, afirma o médico Alexandre Naime Barbosa, chefe de departamento de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
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Como saber se eu estou com a vacina da febre amarela em dia?
Você pode consultar sua carteira de vacinação física, onde a imunização geralmente aparece registrada como “FA”, “Febre Amarela” ou com o nome do fabricante (“Bio-Manguinhos” ou “Sanofi Pasteur”). “O registro deve conter a data da aplicação, o lote da vacina, a assinatura do profissional de saúde e o carimbo da unidade de vacinação. Em alguns casos, pode-se encontrar a anotação ‘dose única’ ou ‘reforço’, dependendo do esquema vacinal vigente no momento da aplicação”, explica Naime.
Também é possível conferir o registro por meio do Meu SUS Digital. Para isso, é preciso fazer o login com o gov.br e, uma vez no sistema, clicar na aba “Vacinas”. “Se não houver registro disponível, recomenda-se buscar diretamente na unidade de saúde onde a vacina foi administrada ou na secretaria de Saúde do município, que pode manter um histórico das aplicações”, orienta o infectologista.
Qual o esquema de vacinação contra a febre amarela?
Em 2017, o Ministério da Saúde adotou a indicação de esquema vacinal em dose única da Organização Mundial da Saúde (OMS), exceto para crianças com menos de cinco anos. Assim, a imunização tem ocorrido da seguinte forma:
- Crianças de 9 meses a 4 anos, 11 meses e 29 dias de idade: duas doses. Uma aos 9 meses e um reforço aos 4 anos;
- Pessoas de 5 a 59 anos: dose única. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), porém, recomenda duas doses, com intervalo de 10 anos, pois há dados que demonstram perda de proteção com o tempo.
Não sei se tomei a vacina da febre amarela. O que fazer?
Caso não consiga entender os registros na carteira de vacinação física ou virtual do Meu SUS Digital, a recomendação dos especialistas é buscar a unidade básica de saúde (UBS) mais próxima, onde os profissionais de saúde poderão fazer essa conferência e dar orientações.
“Pessoas com mais de cinco anos que não lembram se tomaram uma ou duas doses, ou que sabem ter tomado apenas uma dose antes dos cinco anos, precisam receber uma segunda dose”, explica a pediatra Isabella Ballalai, diretora da SBIm.
“Às vezes, a pessoa tem certeza que tomou, mas, se não tem o registro, essa certeza não é possível. Já vi vários erros por conta dessa ‘certeza’. Na dúvida, tome outra. Vacina não causa overdose”, completa.
Existem pessoas que não podem tomar a vacina?
Sim, porém, a depender do momento, profissionais de saúde podem indicar a vacinação desses grupos. Segundo o ministério, eles são compostos por:
- Crianças menores de 9 meses de idade;
- Mulheres amamentando crianças menores de 6 meses de idade;
- Pessoas com alergia grave a ovo;
- Pessoas que vivem com HIV e têm contagem de células CD4 menor que 350;
- Pessoas em tratamento com quimioterapia/radioterapia;
- Pessoas com doenças autoimunes;
- Pessoas submetidas a tratamento com imunossupressores (que diminuem a defesa do corpo).
A SBIm também não recomenda a vacinação de gestantes, exceto em situações de alto risco de infecção. É válido ressaltar que essa avaliação de risco pode levar profissionais a indicarem a vacinação para algumas pessoas dentro desse grupo.
Isabella explica: embora raros, existem riscos maiores para esses pacientes. Assim, quando a percepção é de que não há uma chance grande de a pessoa se infectar, o entendimento é que não vale a pena correr esse risco. Por outro lado, caso o risco de se infectar seja elevado, a vacina é recomendada.
Pessoas com 60 anos ou mais são consideradas um grupo de precaução pela SBIm. “Embora raro, está descrito risco aumentado de eventos adversos graves na primovacinação nesta faixa etária”, diz a sociedade médica. Novamente, a avaliação deve ser individualizada, considerando a possibilidade de infecção.
Quanto tempo leva para a vacina da febre amarela fazer efeito?
Há uma janela de tempo a partir da qual a vacina começa a fazer efeito após a aplicação. “A vacinação precisa da participação do nosso sistema imune. Recebemos aquele antígeno, o nosso sistema imune vai atacar, reconhecer e formar os anticorpos. Se eu não tiver esse tempo, que é de 10 a 14 dias, eu não tenho anticorpos, não estou protegido”, fala Isabella.
“Caso a vacinação não esteja em dia, é recomendável evitar áreas onde há transmissão ativa do vírus, especialmente regiões de mata, parques ecológicos, áreas rurais e locais com registros recentes da doença”, acrescenta Naime.
Tomei a dose fracionada. Devo tomar mais uma dose?
Em situações de emergência, a OMS recomenda o uso de doses fracionadas do imunizante em caráter excepcional, a fim de proteger o maior número de pessoas diante da escassez de vacinas. Isso foi necessário em três estados brasileiros em 2018: São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
No início deste mês, o Ministério da Saúde formulou uma nota técnica e informou estados e municípios que aqueles que receberam a vacina fracionada contra a doença nessa época e pretendem se deslocar para áreas com circulação comprovada do vírus — São Paulo, Minas Gerais e Tocantins — devem receber uma dose adicional.
A medida está relacionada ao estudo sobre doses fracionadas iniciado em 2009, na Fiocruz. Embora ofereçam proteção eficaz, a duração dessas vacinas pode ser menor. Em 2018, considerando inclusive o tempo de estudos, a Fiocruz apontava que a duração da proteção seria de 8 anos.
A vacina contra febre amarela é segura?
Sim. Ela é uma das mais seguras e eficazes já desenvolvidas, segundo Naime. É também uma das mais antigas do Programa Nacional de Imunizações (PNI), com décadas de dados sobre a aplicação. “Estudos científicos e a experiência acumulada ao longo dos anos demonstram que a vacina tem uma eficácia superior a 95%”, fala o médico.
No Brasil, há duas vacinas disponíveis, ambas de vírus atenuado (nas quais o vírus encontra-se ativo, porém sem capacidade de produzir a doença): a fabricada pela Bio-Manguinhos (Fiocruz), disponível na rede pública, e a produzida pela Sanofi Pasteur, utilizada na rede privada. Elas são equivalentes, segundo Isabella.
A vacina tem efeitos adversos?
Os efeitos adversos da vacina são raros e geralmente são brandos, conforme Isabella.
De acordo com a SBIm, manifestações como febre, dor de cabeça e muscular são os eventos mais frequentes e acontecem em cerca de 4% dos que são vacinados pela primeira vez e em menos de 2% nas segundas doses.
A dor na área de aplicação ocorre em 4% dos adultos vacinados e um pouco menos em crianças pequenas. A dor dura um ou dois dias, na forma leve ou moderada.