Marcado por endereços tradicionais de lazer na zona leste de São Paulo, como o Parque Ecológico do Tietê e o Parque Linear do Tiquatira, o distrito do Cangaíba ainda vive dias difíceis e apresenta viés de alta nas mortes pelo novo coronavírus. Levantamento feito pelo Estadão mostra que o local é um dos três distritos com maior aceleração da pandemia.
Uma das vítimas mais recentes na região foi a assistente social Ana Cordeiro Santos, de 66 anos. Depois que o filho e o marido se contaminaram, mas apenas com sintomas leves, ela precisou ser internada em uma das unidades do Hospital Prevent Senior. No dia 21 de setembro, a moradora, que era bastante reconhecida na região, morreu.
Ana atuou por 27 anos no Centro Social Bom Jesus de Cangaíba, organização parceira da Prefeitura de São Paulo. O centro tem dez equipamentos distintos voltados ao serviço socioassistencial. Entre as atividades estão convivência de idosos, lazer, entretenimento e alimentação de cerca de 200 crianças. Isso significa que a covid-19 vitimou quem ajudava as outras pessoas na pandemia. “Foi um baque enorme. Isso aconteceu quando a gente estava se preparando para retomar as atividades presenciais”, diz a gestora Maria de Fátima Feitosa, que trabalhou com Ana por três décadas.
No bairro, a pandemia também coloca em negrito as carências sociais e econômicas da população. Encaixotado entre o município de Guarulhos, na Grande São Paulo, e os distritos da Penha, Ponte Rasa e Ermelino Matarazzo, Cangaíba é uma área carente. Das mil famílias cadastradas no Serviço de Assistência Social à Família (SASF), órgão ligado ao poder municipal para atuar em regiões com altos índices de vulnerabilidade, 600 estão em carência extrema. Elas dependem do poder municipal e de doações para comer, por exemplo.
O bairro concentra inúmeros fatores que explicam os efeitos da pandemia. O principal deles é a falta de moradia. Centenas de pessoas que perderam o emprego engrossaram a ocupação irregular na Vila Sônia. No local, são quase 800 famílias. Em casas pequenas, com cômodos minúsculos, existe maior dificuldade de isolamento. Existe ainda grande risco de todos adoecerem juntos quando um morador pega o vírus. “Não há espaço suficiente”, analisa Maria Gleide Lima Rocha, gestora local do SASF.
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