Nova rotulagem de alimentos: entenda a mudança

Produtos devem passar a ter informações nutricionais na frente do rótulo e a indicar excesso de açúcar, gordura saturada e sódio

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Por Thais Porsch
Atualização:

A nova rotulagem de alimentos entrou em vigor neste domingo, 9, no Brasil. Além de mudanças na tabela de informação – como a obrigatoriedade de declarar a quantidade de açúcares totais e adicionados, do valor energético e de nutrientes –, a novidade será a adoção da rotulagem nutricional frontal. Produtos lançados a partir do dia 8 já devem estar submetidos às novas regras, mas os que já estão no mercado ainda vão demorar um pouco mais para incorporarem a novidade.

Conhecida como FOP (front-of-pack), esse novo modelo é representado por uma lupa, que deve constar na frente da embalagem. A ideia é identificar produtos que tenham alto teor de três nutrientes: açúcares adicionados, gorduras saturadas e sódio.

O esboço da nova norma começou em 2014, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) criou um grupo de trabalho formado por representantes da sociedade civil, da academia e do setor produtivo para rever a rotulagem. Apesar da norma regulamentar ter sido publicada em 8 de outubro de 2020, as medidas só vão passar a vigorar este ano.

Qual o prazo de adequação dos rótulos?

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Para os produtos que já se encontram no mercado, os prazos para adequação são até 9 de outubro de 2023 para alimentos em geral; até 9 de outubro de 2024 para alimentos fabricados por agricultores familiares e pequenos produtores; e até 9 de outubro de 2025 para as bebidas não alcoólicas em embalagens retornáveis.

Janine Giuberti, coordenadora do Programa de Alimentos do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), esteve presente desde o início do processo e conta que a proposta inicial para a Anvisa era a de uso de triângulos no lugar da lupa, uma configuração mais rígida do que a norma aprovada. Porém, Janine afirma que a sinalização já é um grande avanço para o consumidor, que vai encontrar informações mais claras e fidedignas nas embalagens.

Mudança da rotulagem será gradual para produtos que já estão nas prateleiras  Foto: Miguel Gutiérrez/EFE

Segundo a nutricionista e membro da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN) Márcia Terra, a mudança deixará as informações mais acessíveis ao consumidor. “É importante não se guiar apenas pelo símbolo da lupa. É preciso ler todo o rótulo”, avisa.

O problema de acessibilidade já havia sido percebido em 2016 em uma pesquisa do Idec com 2.651 internautas. Desse grupo, 40% relataram ter dificuldade de entender a tabela nutricional. Na pesquisa descobriu-se também que 98% dos consumidores apoiavam a inclusão do açúcar adicionado na rotulagem e 93% consideravam que a rotulagem frontal poderia ajudá-los a entender melhor o valor nutricional dos alimentos.

Segundo Márcia, é importante deixar claro que o FOP é calculado por 100g ou 100ml e não por porção do produto. Isso porque essa regra pode causar distorções na interpretação: “Em geral, a porção consumida não é de 100g/ml. É interessante comparar produtos similares na mesma proporção.”

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Como é a rotulagem nutricional em outros países?

Em geral, as informações nutricionais obrigatórias são muito similares entre os países, com denominação de venda, lote, nome e endereço do fabricante, lista de ingredientes, tabela de informação nutricional e prazo de validade. Os diferenciais maiores são percebidos em países que adotam a rotulagem frontal. “Talvez o Brasil não esteja tão atrasado assim em relação ao mundo. Mas quando olhamos para a América Latina, percebemos que estamos bem para trás”, diz Janine Giuberti. De acordo com ela, diversos países latino-americanos conseguiram aprovar um combo de legislações para deixar a rotulagem dos produtos mais transparentes.

O Chile foi o pioneiro. Desde 2016 o país utiliza rótulos frontais em octógonos, exibindo excesso de sódio, açúcar adicionado, gordura saturada e calorias. Além disso, produtos que recebem esse tipo de selo não podem ser vendidos nas escolas.

Já no Peru é obrigatório que, em qualquer tipo de publicidade, o consumidor seja informado dos altos índices. “Um outdoor da Coca-Cola, por exemplo, recebe advertência de ‘alto em açúcar’”, conta a coordenadora do Programa de Alimentos do IDEC.

Informação facilitada para escolhas mais saudáveis

A mudança dos rótulos é uma chance para que o consumidor fique mais atento às compras. Entretanto, Márcia Terra avisa que é preciso tomar cuidado também com os alimentos que não possuem a lupa. “Um exemplo comum é o pastel de feira e a garapa. O pastel é rico em sódio e gordura e a garapa, em açúcar.”

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Os problemas a médio e longo prazo do consumo de alimentos com alto teor calórico, além do aumento de peso, são as doenças cardiovasculares e sobrecarga do pâncreas, fígado e rins, diz o médico especialista em medicina preventiva Carlos Machado. Segundo ele, um dos efeitos mais comuns é a aterosclerose, uma inflamação, com a formação de placas de gordura, na parede das artérias do coração e de outros locais do corpo.

Mas não é preciso cortar todos os doces. Machado afirma que pode sim consumir, “só não pode abusar”. Para uma alimentação mais saudável, ele indica consumir frutas, não abusar do sal e produtos industrializados e comer proteína todos os dias.

Outro ponto importante é diferenciar a “cara” do alimento de seu valor nutricional. Segundo Márcia, existe um termo chamado “aura de saudabilidade”, na qual determinados alimentos têm uma aparência saudável, mas na verdade são altamente calóricos.

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“Isso pode acontecer, por exemplo, com uma supersalada ou então com um smoothie feito com iogurte, frutas concentradas e cereais. Esses são alimentos que você olha e eles têm uma aparência boa, Mas, quando você conta as calorias, percebe que são ricos em açúcar, gordura e até sódio.”

Porém, isso não quer dizer que você não deva consumir esse tipo de alimento. Márcia reitera que todos os alimentos podem fazer parte de uma dieta equilibrada e variada, desde que se observe a quantidade e a frequência consumida. “Além da alimentação, não podemos negligenciar a atividade física e um estilo de vida saudável.”

De olho no excesso de açúcar, gordura saturada e sódio

Entenda quando os rótulos trarão a lupa avisando sobre o excesso desses ingredientes. Agora, a amostragem não é mais por porção, mas por 100g ou 100ml, o que facilita para o consumidor comparar os índices em produtos diferentes.

Alimentos trarão lupa que avisa sobre os excessos de gordura, açúcar e sódio Foto: Anvisa

ALTO EM AÇÚCAR ADICIONADO

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Alimentos sólidos: 15g de açúcares (ou mais) por 100g

Alimentos líquidos: 7,5g (ou mais) de açúcares por 100ml

ALTO EM GORDURA SATURADA

Alimentos sólidos: 6g de gordura saturada (ou mais) por 100g

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Alimentos líquidos: 3g de gordura saturada (ou mais) por 100ml

ALTO EM SÓDIO

Alimentos sólidos: 600mg de sódio (ou mais) por 100g

Alimentos líquidos: 300mg de sódio (ou mais) por 100ml

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