Desde que concluiu a especialização em oncologia, em 1998, o médico Paulo Hoff, presidente da Oncologia D’Or e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, testemunhou uma transformação radical em sua área de atuação. “Mudou tudo”, resume ele. Primeiro, veio a terapia-alvo molecular e, mais recentemente, a imunoterapia, em paralelo a avanços no campo cirúrgico e radiológico.
“Hoje, sabemos que há centenas, talvez milhares de doenças diferentes concentradas no termo ‘câncer’”, diz Hoff. Os médicos lançam mão de um arsenal cada vez mais amplo de terapias, baseado na alteração molecular que desencadeou o surgimento do tumor. “É a personalização da medicina.”
As principais novidades do setor são apresentadas no congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês). Neste ano, Carlos Henrique dos Anjos, oncologista do Hospital Sírio-Libanês, entusiasmou-se com um estudo relacionado ao remédio Ribociclibe para câncer de mama. “Os efeitos positivos do tratamento, que já eram conhecidos para pacientes com metástase, demonstraram-se também para graus iniciais da doença.”
Com tantas possibilidades de tratamento, pessoas com câncer estão vivendo mais e melhor. “A sobrevida aumentou para todos os tumores, comparado com dez, vinte anos atrás. Estamos avançando com mais drogas e tecnologia. E testes vão nos permitir dar a droga certa para o tumor certo, poupando o paciente de tratamentos desnecessários”, celebra o oncologista Fernando Maluf, fundador do Instituto Vencer o Câncer.
Precisão e menos trauma: os benefícios da cirurgia robótica
A cirurgia é um dos pilares para a cura de tumores sólidos. A técnica mais realizada no Brasil e no mundo é a aberta, na qual o cirurgião faz um corte grande no paciente. No entanto, vem ganhando espaço a cirurgia robótica, uma espécie de evolução da laparoscopia. Nesse método, o cirurgião controla os braços de uma máquina (robô) remotamente e com precisão, por meio de um console.
Em comparação com a operação aberta, as minimamente invasivas reduzem a perda de sangue, deixam menos cicatrizes, aceleram a recuperação e causam menos dor, sem perder eficácia. É um benefício e tanto, considerando que o procedimento deve não apenas remover o câncer, mas também minimizar o trauma ao paciente.
Aplicada em cavidades profundas, como tórax e abdômen, a cirurgia robótica tem ainda as vantagens de oferecer visão ultra HD, eliminar tremores manuais e permitir que o cirurgião fique numa posição mais confortável. “A tendência natural é que as cirurgias cada vez mais sejam realizadas ou por via laparoscópica ou por robô”, diz o cirurgião oncológico Felipe Coimbra, do A.C.Camargo Cancer Center. Segundo ele, o hospital realizou mais de 4 mil procedimentos robóticos desde que a técnica começou a ser utilizada por lá, em 2013.
Radioterapia e radiocirurgia miram no alvo e poupam tecidos saudáveis
No campo da radioterapia, as técnicas mais modernas utilizam softwares de tomografia computadorizada para calcular a dose exata de radiação que vai chegar ao local doente, poupando tecidos saudáveis ao redor. A tecnologia evoluiu para a radioterapia guiada por imagem. É possível, por exemplo, sincronizar a respiração do paciente com o aparelho, garantindo que a radiação chegue ao tumor. Em outra frente, a radiocirurgia aplica uma dose única de radiação sem a necessidade de incisão. O método recebe esse nome pelo resultado semelhante ao de uma cirurgia tradicional.
Inteligência artificial e genômica ajudam a escolher a terapia certa
O oncologista Ciro Eduardo de Souza, do Hospital Sírio-Libanês, vê com bons olhos os avanços da inteligência artificial (IA) na medicina. “O médico precisa saber todas as características moleculares do tumor, as informações sobre a saúde do paciente e a extensão da doença. As ferramentas de IA podem nos ajudar a tomar decisões.” Em outra frente, a genômica também ajuda a apontar, com base nos marcadores moleculares genéticos, por que um tumor responde ao remédio A e não ao B. Com essa informação, o oncologista pode optar por uma terapia certeira.
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