THE NEW YORK TIMES – A cúrcuma tem sido usada como tempero e remédio há milhares de anos. E nas últimas décadas se tornou popular como suplemento nutricional, muitas vezes vendido como curcumina – um composto químico encontrado na cúrcuma seca – com alegações de que pode aliviar dores nas articulações, reduzir a inflamação e melhorar a mobilidade.
Na Tailândia, a cúrcuma também é consumida na forma de tempero ou suplemento para aliviar sintomas gastrointestinais, como inchaço e indigestão, disse Krit Pongpirul, professor associado de medicina preventiva e social na Universidade Chulalongkorn, em Bangkok. Mas apenas estudos pequenos avaliaram tais benefícios.
Em um ensaio clínico publicado este mês na revista BMJ Evidence-Based Medicine, Pongpirul e seus colegas testaram se os suplementos de curcumina poderiam ajudar pacientes com dispepsia funcional, uma condição gastrointestinal comum que causa dores de estômago e sensação de inchaço, além de náuseas e distensão abdominal após as refeições.
Para o ensaio de oito semanas, os pesquisadores dividiram 206 pessoas com dispepsia funcional em três grupos escolhidos aleatoriamente: um que tomou 20 miligramas de omeprazol (um medicamento que reduz a acidez estomacal) uma vez ao dia; outro que tomou duas cápsulas de 250 mg de curcumina quatro vezes ao dia; e um terceiro que tomou omeprazol e curcumina nas doses acima, todos os dias.
Ao todo, 151 pacientes completaram o estudo e, nas semanas 4 e 8, todos os três grupos relataram reduções semelhantes em sintomas como dor, arrotos, azia e distensão abdominal.
Segundo Pongpirul, a curcumina pareceu ser tão eficaz na redução dos sintomas da dispepsia funcional quanto o omeprazol. Poucos efeitos colaterais foram relatados, embora os autores tenham observado que são necessários estudos de longo prazo para avaliar os riscos e benefícios do suplemento.
Brian Lacy, gastroenterologista e professor de medicina na Clínica Mayo em Jacksonville, Flórida, disse por e-mail que, apesar desses resultados promissores, hesitaria em recomendar suplementos de curcumina a seus pacientes com base apenas neste estudo.
Os resultados teriam sido mais convincentes se o estudo houvesse incluído um grupo placebo, disse ele. Sem esse grupo, é impossível saber se as respostas dos participantes foram decorrentes do tratamento, do efeito placebo ou da passagem do tempo.
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Dito isto, a dispepsia funcional causa desconforto grave, disse Lacy, e nos Estados Unidos não existem medicamentos aprovados para tratar a doença. O omeprazol, que é comumente usado off-label, parece ajudar apenas cerca de 1 em cada 10 pacientes.
Sem tratamentos melhores, disse Lacy, aqueles que preferem produtos naturais ou à base de plantas “podem usar esses dados com segurança para dizer: ‘Primeiro, vamos tentar a curcumina’”.
Mas Mahtab Jafari, professora de ciências farmacêuticas da Universidade da Califórnia, Irvine, alertou que os pacientes com sintomas gastrointestinais dolorosos não devem usar curcumina sem uma avaliação médica adequada. E como os suplementos são mal regulamentados, é preciso ter em mente algumas advertências.
A cúrcuma pode ajudar em outros problemas?
A cúrcuma e a curcumina estão entre os suplementos mais estudados, disse Janet Funk, professora de medicina da Universidade do Arizona.
Em uma revisão abrangente publicada em março, Funk e seus colegas avaliaram 389 ensaios clínicos sobre como os suplementos de curcumina podem influenciar vários problemas de saúde, como diabetes tipo 2, osteoartrite, problemas digestivos, câncer e demência.
Muitos eram estudos pequenos e mal projetados, disse ela, mas as evidências sugeriram que os suplementos eram provavelmente úteis para a osteoartrite e potencialmente úteis para pessoas com resistência à insulina ou diabetes.
A composição dos produtos utilizados nesses estudos variou muito, advertiu Funk – assim como os suplementos atualmente disponíveis no mercado. Isso faz com que seja difícil obter resultados promissores de um suplemento em teste e encontrar um produto à venda que corresponda a ele.
Também se descobriu que os suplementos de curcumina contêm alguns contaminantes potencialmente prejudiciais. Em um estudo publicado em 2018, Funk e seus colegas analisaram 35 suplementos de curcumina e encontraram chumbo em todos os produtos, exceto um.
Eles também encontraram resíduos de solventes industriais tóxicos – como o tolueno, um produto químico encontrado em tintas, esmaltes e gasolina – em 25 dos produtos testados, embora os níveis de solvente estivessem abaixo dos limites geralmente considerados seguros. E muitos dos suplementos de curcumina tinham piperina, um extrato de pimenta preta, que aumenta a absorção da curcumina, mas também pode interferir com alguns medicamentos.
Jafari, que estuda a curcumina em seu laboratório, disse estar confiante de que ela tem efeitos anti-inflamatórios, mas, dada a falta de ensaios grandes e de regulamentação da indústria, ela não recomenda suplementos de curcumina.
Antes de usar qualquer suplemento, verifique se ele foi testado por organizações confiáveis. Você também deve verificar com seu médico sobre possíveis interações com medicamentos ou exames; e continue monitorando quaisquer efeitos colaterais do suplemento, disse ela.
Mas, diante das preocupações sobre a pureza e segurança dos suplementos de cúrcuma, o melhor uso da planta talvez seja o mais antigo: “Compre as lindas raízes de cúrcuma, triture e saboreie”, disse Jafari.
Este artigo foi originalmente publicado no New York Times./TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU
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