O que corta e o que não corta o efeito do anticoncepcional? Entenda os riscos de engravidar

Alguns tipos de medicamentos, como antibióticos e anticonvulsivantes, podem diminuir a efetividade de anticoncepcionais hormonais, em especial os de via oral

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Foto do author Giovanna Castro
Atualização:

Tomar anticoncepcional é uma proteção para não engravidar - mas há risco de o remédio não funcionar? Assim como qualquer medicamento, os anticoncepcionais hormonais dependem de reações metabólicas para funcionar e podem sofrer interferência de outros ativos farmacêuticos ou substâncias.

Antibióticos, anticonvulsivantes e antirretrovirais são exemplos de classes de medicamentos que podem fazer com que o nível de proteção contra a fecundação dos óvulos diminua, em especial quando o anticoncepcional é de via oral. A recomendação de especialistas é que mulheres fiquem atentas às bulas e utilizem métodos de proteção adicionais, como a camisinha.

Uso de antibióticos pode diminuir o efeito do anticoncepcional hormonal de via oral Foto: Pexels

Por que alguns medicamentos afetam a eficácia do anticoncepcional?

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Segundo Agatha Biscaglia, farmacêutica clínica da Santa Casa de Porto Alegre, quando a mulher toma dois medicamentos simultaneamente e um deles - ou os dois - exige grande esforço do fígado para ser metabolizado, o órgão fica sobrecarregado e precisa priorizar um deles. Como resultado, o outro remédio tem absorção menor e, por isso, apresenta menor eficácia.

Para quem toma anticoncepcional via oral, há ainda dois agravantes: alguns medicamentos podem alterar a flora gastrointestinal ou reagir com a cápsula do anticoncepcional, fazendo com que a pílula metabolize de forma acelerada. Assim, o contraceptivo não é absorvido de maneira ideal, alerta Agatha.

Segundo ela, essa interação dos hormônios presentes nos anticoncepcionais com outras substâncias pode tanto diminuir, quanto potencializar a concentração dos hormônios contraceptivos no corpo da pessoa. Quando diminuída, o risco de engravidar é maior. Já quando potencializada, crescem as chances de efeitos colaterais negativos, como quadros de tromboembolismo.

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“Os contraceptivos mais modernos têm uma quantidade diminuída desses hormônios em relação aos anteriores numa tentativa de reduzir os efeitos colaterais”, diz a especialista. “Com isso, eles continuam tendo uma proteção contra gravidez de 99%, mas caso a pessoa utilize outro medicamento, por terem menor dosagem hormonal, são mais suscetíveis a sofrer diminuição da eficácia.”

Quais métodos anticoncepcionais têm maior chance de perder eficácia?

Segundo a ginecologista do Hospital e Maternidade Santa Joana Karina Belickas Carreiro, os métodos contraceptivos hormonais que têm risco de sofrer interferências medicamentosas são:

Os dispositivos intra-uterinos (DIU) saem ilesos – mesmo os hormonais –, assim como a camisinha e o diafragma, que funcionam como métodos de barreira física.

“Diferente dos outros métodos contraceptivos hormonais, que agem no corpo inteiro com o objetivo de bloquear a ovulação e assim impedir de engravidar, o DIU hormonal não age bloqueando a ovulação (ele atrasa a chegada do óvulo no útero, reduz a velocidade do espermatozoide e altera o endométrio, onde o embrião se fixa), com efeito principalmente local, por isso não depende do fígado para funcionar”, diz.

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Remédios que são pontos de atenção

Segundo as duas especialistas, os remédios com maior propulsão a cortar o efeito dos anticoncepcionais hormonais são:

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  • Antibióticos (em especial amoxicilina, eritromicina, penicilina e tetraciclina);
  • Anticonvulsivantes (em especial carbamazepina, fenitoína e fenobarbital);
  • Antirretrovirais (em especial ritonavir e efavirenz);
  • Antifúngicos (em especial cetoconazol, miconazol e clotrimazol);
  • Medicamentos fitoterápicos a base de erva-de-são-joão, também conhecida com hipericão ou hipérico;
  • Anti-inflamatórios a base de corticoide (em especial prednisolona).

Já entre os medicamentos mais comuns que, segundo pesquisas, não interferem no efeito do anticoncepcional estão:

  • Analgésicos;
  • Anti-inflamatórios não corticoides;
  • Antialérgicos não corticoides;
  • Medicamentos para controle da tireoide;
  • Antidepressivos (exceto os que entram na classe dos anticonvulsivantes).

Outros fatores que geram interferência

Além da interação com medicamentos, quadros de vômito, diarreia e problemas gastrointestinais e de fígado também comprometem a absorção das substâncias anticoncepcionais, em especial os de via oral.

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“Se a pessoa tem alguma doença hepática, ela vai ter um prejuízo da metabolização do contraceptivo hormonal (exceto o DIU). Ou, se tiver diarreia ou vômito, um anticoncepcional via oral tem prejuízo, pois ele pode não ter ficado tempo o suficiente no aparelho gastrointestinal para ser absorvido”, diz a médica.

O uso incorreto do anticoncepcional – como quando a paciente esquece de tomar a pílula no horário correto – também causa interferência, pois a concentração das substâncias concepcionais no sangue da pessoa cai temporariamente.

Além disso, pode interferir na eficácia do anticoncepcional:

  • Consumo excessivo de bebidas alcoólicas, tanto por sobrecarregar o fígado, tanto por causar vômitos e diarreias;
  • Consumo de drogas ilícitas químicas em grande quantidade, como ecstasy (MDMA) e LSD, pois também sobrecarregam o fígado.

De olho na bula

Apesar dos riscos, as especialistas dizem que não necessariamente o uso dos medicamentos e substâncias citados vão interferir no efeito contraceptivo. “Tem um nível mínimo de absorção necessária para o anticoncepcional funcionar e algumas farmacêuticas já consideram possíveis interações na hora de formular seus produtos”, afirma Karina.

Segundo a médica, o ideal é que, na hora de escolher o método contraceptivo, a pessoa informe ao ginecologista todos os medicamentos que usa regularmente para que o profissional ajude a escolher o melhor método caso a caso. Posteriormente, ao tomar um medicamento novo, ela deve conferir a bula do anticoncepcional para ver se há ou não risco de perda de eficácia.

Em relação a quadros de vômitos e diarreias, é preciso se atentar em relação ao tempo de tolerância indicado na bula. As farmacêuticas geralmente explicitam o prazo mínimo que a pílula precisa permanecer no aparelho gastrointestinal para ser absorvida. Logo, se houver vômito ou diarreia antes desse tempo mínimo, é sinal de que a eficácia pode sofrer interferência.

As instruções sobre como proceder quando esquecer de tomar o anticoncepcional no horário correto também estão no manual.

O efeito pode ter sido comprometido. E agora?

Em caso de suspeita de perda de eficácia do anticoncepcional hormonal, a ginecologista recomenda seguir utilizando o método regularmente, assim como o outro medicamento. Para garantir maior proteção contra gravidez, a camisinha deve ser usada durante as relações sexuais por até, em média, um mês após o término do uso simultâneo das substâncias. Outra opção é colocar um DIU o mais rápido possível.

Em última instância, pode-se recorrer à pílula do dia seguinte. No entanto, Karina ressalta que trata-se de um método de emergência, que não deve ser utilizado mais de duas vezes ao ano e que não tem uma eficácia tão alta quanto os métodos de barreira física, já que também depende de fatores metabólicos.

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Em todos os casos, as especialistas lembram que nenhum método contraceptivo é 100% eficaz e que a melhor forma de prevenir a gravidez é combinando dois métodos. Além disso, apenas a camisinha protege contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

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