O que engorda mais: comer mal ou falta de exercício físico? Estudo avalia hábitos dos brasileiros

Estudo feito com base em dados do IBGE mostra que não há diferenças estatisticamente relevantes no tipo de alimentação consumida nas casas de pessoas mais gordas ou mais magras

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Foto do author Roberta Jansen

RIO - Na contramão do senso comum, a falta de atividade física está mais relacionada à obesidade no Brasil do que a alimentação. A conclusão é de um novo estudo da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que está sendo divulgado nesta semana. O trabalho foi feito a partir do cruzamento de dados da Pesquisa Nacional em Saúde (PNS) e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), ambas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Pelo menos seis em cada dez brasileiros estão com sobrepeso ou são obesos. A sobreposição dos dados revela, no entanto, que não há diferença estatisticamente relevante entre o tipo de alimentação consumida nas casas de pessoas obesas e nas de pessoas magras. Por outro lado, a frequência na prática de atividade física é significativamente superior nas casas onde as pessoas são mais magras.

O indivíduo é considerado obeso quando o seu Índice de Massa Corporal (peso/altura X altura) é igual ou maior que 30 quilos por metro quadrado. Um IMC acima de 25 já é indicativo de sobrepeso. O objetivo do trabalho é apoiar a criação de políticas públicas em saúde, aprofundando o conhecimento acerca do tema e fazendo um mapeamento sobre as medidas mais efetivas no combate ao excesso de peso. A taxa de obesidade hoje no País é de 20,1%, e a de sobrepeso, de 56%.

O número de homens com sobrepeso é maior que o de mulheres. No entanto, elas são prevalentes nas taxas de obesidade. Segundo os dados da PNS, a prevalência de obesidade entre mulheres é de 22%, contra 18% entre os homens. Por outro lado, a taxa de sobrepeso dos homens é de 39%, contra 34% das mulheres.

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Má alimentação também influi no aumento de peso Foto: Robson Fernandjes/Estadão

O cruzamento de dados das diferentes pesquisas do IBGE revelou que a alimentação semanal nas populações com peso normal e nas populações com sobrepeso ou obesidade não apresenta diferenças estatisticamente relevantes. Por exemplo, a frequência semanal com que as pessoas consomem peixe, feijão ou suco natural de frutas é bastante semelhante quando os grupos comparados são definidos por seu IMC. O mesmo acontece com a ingestão de alimentos ultraprocessados.

“Quando olhamos para os hábitos de consumo da família brasileira, eles são muito similares, independentemente do peso dos indivíduos; o consumo de feijão, verduras e frutas é bem parecido”, explicou o economista Márcio Holland, principal autor do estudo. “O consumo de ultraprocessados também é similar, fica entre 9% e 10%.”

O mesmo não ocorre quando o IMC da população é sobreposto ao nível de sedentarismo. Segundo os números, 36% dos obesos se exercitam com frequência, contra 40% entre os que apresentam peso normal.

Pouco exercício

De forma geral, o brasileiro se exercita pouco. Em média, apenas um dia por semana. Outros números do IBGE também são preocupantes. É o caso do tempo médio que o brasileiro passa em frente a uma tela diariamente: cerca de três horas.

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“Isso é muito preocupante”, afirma Holland. “Sobretudo porque estamos no início do processo de envelhecimento da população. Hoje, 13% da população tem mais de 65 anos; em 2060, esse porcentual será de 26%. E a tendência é que o IMC aumente ao longo da vida.”

O endocrinologista Clayton Macedo, coordenador do Departamento de Atividade Física da Associação Brasileira de Estudos da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), pondera que esse tipo de cruzamento de dados pode apresentar alguns vieses e que a alimentação pode ter um peso maior. Mas afirma que já está comprovado por meio de outros estudos que a prática de exercício físico regular é o principal fator na manutenção do peso mais baixo ao longo da vida.

De forma geral, o brasileiro se exercita pouco: em média, apenas um dia por semana, segundo o IBGE. Foto: Werther Santana/Estadão

Adaptação metabólica

“O exercício impede o que chamamos de adaptação metabólica, que é o aumento do apetite, a redução da sensação de saciedade e a queda da taxa metabólica conforme envelhecemos”, disse.

Para Holland, o trabalho tem por objetivo auxiliar gestores na criação de políticas públicas. Segundo ele, uma das medidas adotadas recentemente pelo governo para tentar diminuir a incidência de obesidade no País foi tributar alguns produtos apontados como responsáveis pelo aumento de peso.

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“Atualmente, o tributo para alguns itens associados à obesidade, como bebidas adoçadas, está em torno de 37% a 45%”, disse Holland. “Nesta pesquisa, analisamos a efetividade de tributar esses produtos e fomos em busca de entender o consumo deles por parte das famílias brasileiras. Percebemos a irrelevância desse tipo de tributação para diminuir a obesidade.”

Para o pesquisador, talvez fosse mais eficiente investir em políticas públicas para promover o transporte ativo, melhorar as ciclovias e calçadas e promover o exercício físico.

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