O cenário das doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) no Brasil é preocupante. Responsáveis por 74% das mortes no País, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)2, essas enfermidades representam um desafio crescente para a saúde pública brasileira. Entre elas, a obesidade se destaca como um problema de proporções epidêmicas.
“A obesidade é uma doença crônica reconhecida pela OMS. Trata-se de um distúrbio progressivo, recidivante e que precisa de um tratamento de longo prazo”, explica a endocrinologista e vice-presidente da Novo Nordisk Brasil, Priscilla Olim Mattar. Segundo dados da “Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico” (Vigitel Brasil 2023)1, mais de 60% da população adulta brasileira está com sobrepeso, e quase 25% está com obesidade.
Fatores que contribuem para a obesidade
Contrariando o senso comum, a obesidade não é simplesmente resultado da falta de força de vontade para emagrecer ou de hábitos alimentares inadequados. “É uma doença multifatorial, relacionada a diferentes aspectos”, esclarece Priscilla Olim Mattar. Entre os fatores que contribuem para o desenvolvimento do problema, a especialista destaca a predisposição genética; fatores ambientais e estilo de vida; desequilíbrios hormonais; uso de determinados medicamentos; além de condições psicológicas, como depressão e ansiedade.
Um dos principais desafios no combate à obesidade é a relutância dos pacientes em buscar ajuda. “Boa parte das pessoas que enfrentam a condição se sentem responsáveis. Impotentes, elas acabam demorando muito para procurar ajuda e iniciar um tratamento adequado”, pontua a vice-presidente da Novo Nordisk Brasil.
A experiência da endocrinologista mostra que, muitas vezes, esse sentimento de culpa tem raízes na infância, uma vez que as crianças com obesidade costumam enfrentar situações de bullying, exclusão e preconceito. De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 12,9% dos brasileiros entre 5 e 9 anos estão com obesidade³, um número que vem crescendo alarmantemente nas últimas décadas.
Tratamento multifatorial e avanços médicos no combate à obesidade
A falta de tratamento adequado para a obesidade frequentemente leva ao desenvolvimento de outras doenças crônicas. “Muitas vezes a gente acaba tratando a dor no joelho, a glicemia que subiu ou a gordura no sangue, mas existe ali uma doença de base que está causando tudo isso”, alerta a endocrinologista.
Entre as complicações mais comuns associadas à obesidade estão o diabetes tipo 2; as doenças cardiovasculares; alguns tipos de câncer, como os hormônio-dependentes e do trato digestivo; e problemas articulares.
O tratamento da obesidade não é uma jornada simples e requer uma abordagem holística. De fato, a base de ação principal é sempre uma dieta adequada combinada a um programa de atividade física. Entretanto, a pesquisa de tratamentos para obesidade é um campo em constante evolução. “Hoje existem tratamentos medicamentosos que são eficazes e seguros para o paciente e acabam trazendo outros benefícios. A tecnologia vem a esse encontro de trazer moléculas cada vez mais completas no sentido do que o paciente precisa. É uma nova era do tratamento da obesidade”, reforça Priscilla Olim Mattar.
O futuro do tratamento da obesidade
Embora a cura dessa doença ainda não seja uma realidade, os esforços para o controle da epidemia devem ser direcionados para a prevenção e o manejo eficaz do problema. A consolidação de políticas públicas efetivas, como a educação nutricional nas escolas, a regulamentação da publicidade de alimentos ultraprocessados, o incentivo à atividade física em espaços públicos e o acesso a tratamentos médicos especializados pelo sistema de saúde, também é indispensável para o controle da obesidade.
“É importante olhar para essas crianças que já estão acima do peso, com sobrepeso ou mesmo com obesidade, tratar de maneira adequada e olhar para aqueles pacientes com maiores riscos também”, conclui a especialista.
Mesmo diante de tantos desafios, as expectativas para o futuro do tratamento da doença mostram-se promissoras. A combinação de medicamentos cada vez mais avançados, o desenvolvimento de terapias ainda mais eficazes e personalizadas, abordagens comportamentais mais humanizadas e políticas públicas efetivas podem levar a uma mudança significativa no panorama da obesidade no País e, consequentemente, a uma vida mais saudável e plena para milhões de brasileiros.
Referências:
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2023: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2023 [recurso eletrônico]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_brasil_2023.pdf
2. World Health Organization (WHO). Leading causes of death and disease burden in the Americas: Noncommunicable diseases and external causes. Disponível em: https://www.paho.org/en/node/96074. Acessado em 31/10/2024
3. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO). Mapa da Obesidade. Disponível em: https://abeso.org.br/obesidade-e-sindrome-metabolica/mapa-da-obesidade/. Acessado em 30/10/2024
Código: BR24OB00256
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.