Um estudo brasileiro apresentado no Congresso da Sociedade Americana de Medicina do Sono, em Indianápolis, nos Estados Unidos, destaca o potencial de aliar a inalação do óleo essencial de lavanda às técnicas de higiene do sono para melhorar o descanso e a qualidade de vida das mulheres no período pós-menopausa – ou seja, 12 meses após o último ciclo menstrual.
De acordo com a médica Helena Hachul, orientadora do trabalho e pesquisadora do Instituto do Sono, nessa fase da vida aparecem muitos dilemas para dormir. “Cerca de 60% das mulheres apresentam insônia”, relata a especialista, que também é chefe do setor do Sono da Mulher da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Nesse cenário, veio a ideia de testar o óleo de lavanda, já que ele tem sido muito estudado pela ciência como um componente relaxante.
Leandro Lucena, doutorando em Psicobiologia pela Unifesp e autor da pesquisa, informa que acetato de cineol e o acetato de linalina estão entre as substâncias do óleo responsáveis por essa fama.
O estudo
A experiência contou com a participação de 32 mulheres com queixas de insônia. Durante quatro semanas, 17 inalaram o óleo essencial de Lavandula angustifolia (o nome oficial da lavanda), enquanto as outras 15 fizeram parte do grupo placebo e, por isso, inalaram um óleo de girassol.
Helena conta que, como método de inalação, as participantes foram orientadas a retirar a tampa de um flaconete e, sentadas, fazer movimentos circulares com o frasco do óleo na altura do queixo durante dois minutos. “A recomendação era que apenas sentissem o odor do óleo de maneira despreocupada, para evitar uma dor de cabeça devido ao esforço contínuo”, explica. O procedimento deveria ser repetido depois de 10 minutos.
Nesse intervalo, a sugestão era que elas realizassem seus procedimentos de higiene pessoal antes de dormir, como escovar os dentes e pentear os cabelos. “Depois da realização do procedimento pela segunda vez, o conselho era que já estivessem prontas para deitar e dormir”, conta a médica. Nesse momento, as participantes esvaziavam o conteúdo do flaconete em uma bola de algodão, que deveria ser posicionada ao lado do travesseiro. “Nossa intenção era que o odor do óleo permanecesse próximo às voluntárias durante todo o período do sono”, justifica Helena.
Em associação a esse método, todas colocaram em prática a chamada higiene do sono – como não tomar bebidas estimulantes, priorizar alimentos leves e evitar telas antes de dormir. Por fim, o grupo inteiro foi orientado a escrever um diário sobre a percepção do descanso noturno.
Óleo de lavanda fez diferença
Ao final das quatro semanas, os pesquisadores perceberam que as medidas de higiene do sono contribuíram para que as voluntárias das duas turmas dormissem melhor. Mas as mulheres no grupo do óleo de lavanda experimentaram benefícios extras. Só elas relataram ter acordado melhor na primeira semana, por exemplo.
“A intervenção com óleo de lavanda foi efetiva para a melhora no padrão geral de sono, com aumento na qualidade e eficiência de sono, além de diminuição no tempo acordado após o início do sono”, resume Helena. Também foi registrada uma melhora nos sintomas depressivos e naqueles característicos do período pós-menopausa. Entre os desconfortos típicos dessa fase, estão as famosas ondas de calor e sudorese noturna.
Para Helena, qualquer indivíduo pode se beneficiar dos efeitos relaxantes do óleo de lavanda. Porém, a médica recomenda apurar as causas da insônia. “Isso porque algumas pessoas podem ter outros problemas de sono, como apneia. Aí, ela busca dicas para insônia, mas o problema dela é outro. É necessário, portanto, ter o diagnóstico correto para poder fazer um tratamento adequado”, informa.
Qualidade do produto importa
A médica do Instituto do Sono ressalta que a procedência do óleo de lavanda deve ser levada em consideração antes de colocar o hábito em prática. Também é preciso gostar do odor, ter certeza de que não possui alergia e se certificar de que não apresenta problema de olfato – afinal, essas questões acabam inviabilizando o uso do produto.
De acordo com Lucena, algumas pessoas podem até sentir repulsa em relação ao odor. Nesses casos, é melhor não forçar a inalação, já que a ideia da chamada aromaterapia é proporcionar uma experiência agradável.
A docente do Programa de pós-graduação em Nanociências da Universidade Franciscana (UFN), Aline Ferreira Ourique, observa ainda que não adianta comprar o melhor óleo possível e não armazená-lo corretamente. É que se trata de um composto volátil, e que pode sofrer oxidação quando exposto à luz ou ao calor. De olho nisso, ela indica priorizar óleos que venham em vidro âmbar (aquele de cor mais escura) e guardá-los longe de ambientes úmidos.
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