O diagnóstico de câncer é um dos momentos mais desafiadores na vida de qualquer pessoa. O impacto emocional, físico e social pode ser devastador. Por isso, é essencial que os profissionais de saúde também pensem no bem-estar do paciente. Segundo especialistas, uma abordagem humanizada nesse momento pode resultar em uma melhor adesão ao tratamento.
“É importante que o paciente se sinta seguro, informado e amparado. Pacientes que são mais orientados e que se engajam têm uma melhor aderência ao tratamento no curto, médio e longo prazo”, diz Bruno Benigno, urologista e oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e diretor da Clínica Uru Onco.
E essa abordagem humanizada não se limita apenas aos profissionais de saúde: familiares e amigos também devem tratar essa pessoa com mais empatia, escutando suas preocupações, respeitando suas preferências e garantindo que todas as informações sobre o diagnóstico sejam fornecidas de maneira clara e acessível. Benigno explica que, quando o paciente recebe esse suporte em casa e está bem informado em relação à doença, ele acaba conseguindo ter uma vida mais saudável.
“Diversos estudos científicos mostram que pacientes bem informados e que recebem esse suporte familiar, de parentes ou amigos, engajam em atividades físicas regulares. Isso, juntamente com mudanças de estilo de vida, como melhora na alimentação, impacta positivamente os resultados oncológicos.”
O especialista pondera que os resultados clínicos de cada paciente vão depender de diversos fatores relacionados à condição biológica dele e à agressividade do câncer, assim como o estágio em que a doença é descoberta. “Mas, certamente, a humanização do tratamento tem uma contribuição significativa no prognóstico e na qualidade de vida desses doentes”, acrescenta.
No Brasil, várias instituições de saúde têm adotado práticas mais humanas no tratamento oncológico. O tradicional Hospital de Câncer de Barretos, por exemplo, é uma referência nessa abordagem e, inclusive, mudou o nome para Hospital de Amor em uma campanha para evidenciar essa humanização. A instituição investe em projetos que vão desde a capacitação de profissionais para uma comunicação mais empática até a oferta de terapias complementares, como acupuntura e musicoterapia.
Segundo Carlos José Andrade, médico oncologista do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a humanização faz parte das premissas de cuidado do SUS há mais de 20 anos. “A Política Nacional de Humanização, de 2003, já traz essa abordagem como um pilar fundamental”, diz. E ele acrescenta que, nesses casos, o paciente “precisa ser acolhido em todas as suas dimensões física, emocional, mental, social e espiritual”.
Andrade reforça que o tratamento humanizado é multidisciplinar, ou seja, é uma responsabilidade que não se limita apenas à equipe de médicos: “Enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e até mesmo as redes de voluntariado e de suporte social”.
A busca pela cura
Lenio Alvarenga, diretor médico da Novartis, explica que o tratamento do câncer envolve a retirada do tumor e um conjunto de tratamentos adjuvantes, que visam impedir que a doença retorne. “O objetivo é evitar que, na eventualidade de existir alguma célula em algum lugar do corpo, a gente não dê chances para ela sobreviver e o paciente consiga sair do que a gente chama de remissão e entrar em um momento que podemos falar mais de cura. E isso varia muito de tumor para tumor”, diz o especialista.
Segundo Alvarenga, os médicos e a ciência buscam fazer com que o paciente tenha menos risco de recorrência da doença sem impactar a sua qualidade de vida. Em alguns casos, é possível optar por tratamentos adjuvantes que não trazem esse impacto negativo, mas em outros, não. E, por isso, segundo ele, uma abordagem humanizada ajuda a inserir o paciente nessa escolha.
“A humanização é fundamental em toda a cadeia, mas, nesse momento da remissão, onde você precisa contar para o paciente por que está fazendo isso (a escolha de tratamento), ela é ainda mais importante.” Além disso, nem os avanços tecnológicos poderão substituir a empatia humana nesse processo, afirma Alvarenga. “Essa relação de o paciente confiar no médico e os dois se entenderem, trocando informações e cuidando um do outro, ainda é muito fundamental.”
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