Ômicron: Cidades têm alta na fila de espera por leito de UTI com explosão de casos de covid

No Rio Grande do Norte, adolescente morreu sem vaga; Porto Ferreira (SP) relata óbitos de idosos que aguardavam internação

PUBLICIDADE

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela, Julia Marques e Aline Reskalla

SOROCABA, SÃO PAULO E BELO HORIZONTE - O aumento de internações pela covid-19 tem causado crescimento das filas de espera por leitos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de várias regiões do Brasil. A dificuldade é maior para quem precisa de tratamento especializado ou mora longe de centros urbanos. Há relatos de mortes de pacientes que não tiveram tempo de aguardar as vagas.

PUBLICIDADE

Cidades do interior de São Paulo voltaram a conviver com a falta de leitos nos hospitais. O problema, agravado pela circulação da variante Ômicron, é relatado tanto em centros urbanos maiores, como Campinas, como em cidades de menor porte. O risco de lotação das unidades e demora para transferência a hospitais é a piora nos quadros dos pacientes.

Pelo menos duas mortes pela covid-19 em Porto Ferreira, no interior paulista, foram de idosos que esperavam vagas em UTI em janeiro, segundo a prefeitura. A alta demanda levou o município a recredenciar 15 leitos no hospital de referência e transferir pacientes para outras cidades.

Em Campinas, 14 pacientes estavam na fila de espera por vaga em UTI, na manhã de terça-feira. Durante o dia, as vagas foram liberadas e, no fim da tarde, a fila estava zerada, mas as unidades continuavam lotadas. Em São Carlos, na manhã desta quarta, 13 pacientes com síndrome respiratória grave aguardavam vagas de UTI em leitos de estabilização das Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs).

Unidade de Terapia Intensiva de combate à covid-19 do Hospital Regional de Samambaia (HRSam), no Distrito Federal; na segunda-feira, 31 de janeiro, um bebê de 1 ano e 4 meses morreu no DF no Hospital da Região Leste Foto: Breno Esaki/Agência Saúde DF - 22/01/2021

A taxa de ocupação chegou a 120% na UTI da Santa Casa de Mococa, cidade com 69 mil moradores. Os dez leitos no hospital de referência para a covid estavam ocupados e dois pacientes tiveram de ser acomodados em leitos não covid. A situação perdura há uma semana. Conforme a coordenadora da Vigilância Epidemiológica, Joanna Jones, houve uma explosão de casos em janeiro, como reflexo das festas de fim de ano. Novos pacientes serão transferidos para outras cidades.

Publicidade

A lotação hospitalar pela covid-19 afeta até pacientes que não estão infectados. No dia 19 de janeiro, o representante comercial Abílio Rosa Netto sofreu um acidente vascular cerebral e foi levado a uma Unidade Pré-Hospitalar em Sorocaba. O médico determinou transferência urgente para UTI, mas todos os leitos do SUS estavam ocupados por causa da covid-19 e da influenza. Ele conseguiu a vaga 19 horas depois, com o quadro já agravado.

Sem leitos próprios de UTI para covid-19, municípios da região metropolitana de São Paulo também têm pacientes aguardando liberação de vagas em unidades estaduais. Em Cotia, por exemplo, havia nesta quarta um paciente esperando leito em UTI e três aguardando vaga em enfermaria. Todos estavam em unidades de pronto-atendimento.

Em Suzano, eram cinco pacientes no pronto-socorro à espera de transferência para hospitais. O município tem leitos semi-avançados com suporte ventilatório, mas não tem UTIs. Já em Itapevi, um paciente aguardava um leito de UTI nesta quarta e outros três esperavam a transferência para leitos de enfermaria.

Para ajudar os municípios no combate à pandemia, o governo estadual paulista vai abrir mais 700 leitos. A Secretaria de Saúde do Estado informou que a Central de Regulação e Ofertas e Serviços de Saúde regula em média 500 casos diários de transferência e explicou que o remanejamento não depende apenas da disponibilidade de vagas, mas também do quadro clínico do paciente.

Sobre as mortes de pacientes na fila da UTI em Porto Ferreira, a Secretaria informou que depende da identificação completa dos pacientes para apurar cada caso, o que não foi disponibilizado pelo município.

Publicidade

A taxa de ocupação de leitos de UTI é de 72,3% no Estado de São Paulo. Há menos de dois meses, a ocupação era de 21,4%. Preventivamente, a pasta desacelerou em janeiro “qualquer redirecionamento dos leitos exclusivos para a assistência do coronavírus e, se necessário, ampliará a assistência exclusiva”.

Cenário nacional

Outros Estados também enfrentam dificuldades. No Rio Grande do Norte, um adolescente de 14 anos morreu na sexta-feira após várias tentativas de conseguir um leito. Ele chegou a uma unidade de saúde em São Tomé, município do interior do Rio Grande do Norte, com quadro grave.

Quando um leito foi finalmente localizado, o adolescente já tinha morrido. Ele tinha paralisia cerebral e comorbidades. Segundo a Secretaria da Saúde, a demanda subiu muito rapidamente. A pasta informou que trabalha para dar assistência rápida, mas a velocidade do agravamento da pandemia e a busca expressiva por leitos “não permitem a oferta na velocidade necessária”. O governo do Rio Grande do Norte reforçou a importância da vacinação.

O Estado tinha nesta quarta 26 pacientes na lista de espera para leitos críticos. As solicitações de vagas aumentaram desde o início do ano. Apesar de a taxa de ocupação das unidades não chegar a 100%, a Secretaria explica que a fila é formada porque há demanda por unidades específicas, como pediátricas ou para hemodiálise.

Publicidade

Já o Distrito Federal registrava 32 pacientes à espera de uma vaga de UTI na manhã desta quarta. A taxa de ocupação de UTIs era de 91,5% e todos os leitos pediátricos estavam cheios. Na segunda, um bebê de 1 ano e 4 meses morreu de covid-19 no Hospital da Região Leste, no Paranoá. A criança chegou a entrar na fila para um leito, mas teve uma “piora abrupta” e uma parada cardiorrespiratória.

Segundo a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, o bebê já estava recebendo ventilação não invasiva e suporte clínico no hospital. “Não houve desassistência.” Por causa da pressão no sistema de saúde, o governo do Distrito Federal mobilizou mais 86 leitos e começou a adiar cirurgias eletivas.

Em Minas Gerais, quase 400 pessoas com sintomas ou diagnóstico confirmado de covid-19 aguardavam na fila por um leito - 96 delas à espera de vaga em UTI e 300 em enfermaria, segundo a Secretaria de Estado de Saúde. O secretário de Saúde de Minas, Fábio Baccheretti, afirmou que não faltam leitos e que espera a situação se normalize "até o fim de fevereiro”.

Segundo a pasta, o processo de regulação do acesso aos serviços de saúde é dinâmico e considera critérios como a gravidade de paciente e distância entre o estabelecimento de origem e de destino.

A fila para internação também cresceu no Rio de Janeiro no início deste ano. O Estado chegou a registrar 233 pacientes à espera de um leito em janeiro - número mais alto desde abril de 2021. Nesta terça, eram 49 na fila de regulação estadual, conforme dados do painel de monitoramento da covid da Secretaria Estadual da Saúde. Em novembro e dezembro, a fila de espera diária não passava de dez pacientes. / COLABOROU WESLLEY GALZO

Publicidade