Cientistas da África do Sul afirmaram que a variante Ômicron oferece pelo menos três vezes mais risco de causar reinfecção do que outras variantes como a Beta e a Delta, de acordo com um estudo preliminar publicado nesta quinta-feira, 2.
Uma análise estatística de 2,8 milhões de amostras positivas para covid-19 na África do Sul - 35.660 das quais eram suspeitas de reinfecção - levou os cientistas a concluir que a variante tem "substancial habilidade de escapar da imunidade de uma infecção anterior".
Os pesquisadores disseram que a reinfecção ajuda a explicar por que a nova variante tem se espalhado. O elevado risco de ser reinfectado pela Ômicron é "temporalmente consistente" com a emergência da variante na África do Sul. O estudo ainda está em fase pré-print (sem revisão pelos pares).
Questões sobre o nível de proteção que as vacinas oferecem contra a nova variante continuam sem resposta. Mas Juliet Pulliam, epidemiologista na África do Sul e uma das autoras do estudo, disse que as vacinas provavelmente ainda oferecem proteção mais eficaz contra a forma grave da doença e morte.
Saber que a Ômicron pode levar a mais reinfecções é importante, afirmou Juliet, no Twitter. A imunidade adquirida após infecções anteriores foi considerada fundamental para ajudar países como a África do Sul e a Botsuana - com taxas relativamente baixas de vacinação - a controlar a pandemia.
"Nossa prioridade mais urgente agora é medir a extensão do escape da Ômicron em relação às imunidades natural e derivada da vacina, assim como sua transmissibilidade em relação a outras variantes e o impacto na gravidade da doença", disse Harry Moultrie, especialista em doenças infecciosas e outro autor do estudo.
Outras variantes também causam reinfecção. Muitos pacientes reinfectados com a Beta foram identificados em Israel este ano, por exemplo. O estudo, porém, sugere que o risco relativo de se infectar novamente permaneceu estável em relação às outras variantes, o que ressalta a importância das descobertas agora sobre a Ômicron.
"Ao contrário de nossas expectativas e experiência com as variantes anteriores, agora estamos experimentando um aumento no risco de reinfecção que excede nossa experiência anterior", disse Juliet em um comunicado na quinta-feira.
O Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul disse na quarta-feira que a variante Ômicron superou outras variantes em novembro, respondendo por 74% dos genomas sequenciados no mês passado. A Delta havia sido dominante. O número geral de casos também aumentou rapidamente nos últimos três dias.
"A Ômicron é provavelmente a variante de disseminação mais rápida que a África do Sul já viu", disse Tulio de Oliveira, professor de saúde pública na Universidade Stellenbosch, na África do Sul.
Apenas 6% da população da África foi totalmente vacinada. Na África do Sul, pouco menos de 30% das pessoas foram totalmente imunizadas. Autoridades de saúde pública do país alertaram que a desinformação em mídias sociais está impedindo a vacinação, especialmente entre os jovens adultos.
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