Um novo estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que 31% dos adultos em todo o mundo não atingiram os níveis recomendados de exercício físico em 2022. No total, são 1,8 bilhões de pessoas que se encaixam no grupo de atividade física insuficiente, um número 5% maior do que aquele encontrado pela entidade em 2010.
“Esses novos achados destacam uma oportunidade perdida para reduzir o câncer, as doenças cardíacas e melhorar o bem-estar mental por meio do aumento da atividade física”, disse Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, em comunicado.
Atualmente, a recomendação da OMS é de que pessoas acima de 18 anos pratiquem ao menos 150 minutos de atividade física moderada ou 75 minutos em intensidade vigorosa durante a semana. Por dia, isso equivale a cerca de 20 minutos de exercício moderado e 10 minutos de exercício vigoroso.
A prática física regular ajuda a prevenir e controlar doenças não transmissíveis (DNTs), como doenças cardíacas, hipertensão, derrame, diabetes e vários tipos de câncer. Além disso, os exercícios também melhoram a qualidade de vida e a saúde mental dos praticantes.
Os dados do estudo foram publicados na revista científica The Lancet Global Health e, segundo a OMS, evidenciam uma tendência preocupante de aumento do número de adultos que não se exercitam o suficiente no cotidiano. Se essa tendência se confirmar e propagar, esse grupo de pessoas pode passar de 31% da população mundial em 2024 para 35% até 2030.
Para Guilherme Artioli, doutor em Educação Física pela Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP), pesquisador da Faculdade de Medicina da USP e colunista do Estadão, provavelmente há diversas causas que justificam o aumento na prevalência de adultos que não se exercitam dentro das recomendações, incluindo fatores culturais e econômicos. “Mas me chama a atenção justamente essa tendência de aumento da insuficiência de atividade física em um momento em que tanto se fala sobre a importância do exercício”, pontua.
Ele afirma que os dados do estudo corroboram algo que já se sabe: apenas ter o conhecimento de que algo faz bem (ou mal) não significa que o comportamento irá mudar. Para o especialista, é a mesma lógica do médico que fuma. “Não basta ‘educar’ a população sobre os benefícios do exercício, seria necessário estimular e proporcionar condições para que elas se tornem mais ativas”, conclui.
Não à toa, a OMS ressalta a importância dos países fortalecerem a implementação de políticas para promover e facilitar a atividade física, reconhecendo que a prática não é apenas uma escolha individual de estilo de vida. Aspectos como a segurança pública podem, por exemplo, interferir na possibilidade de uma pessoa fazer uma caminhada durante à noite, período em que está livre de outros afazeres.
“Serão necessários esforços coletivos com base em parcerias entre governos e partes interessadas não governamentais e investimentos aumentados em abordagens inovadoras para alcançar as pessoas menos ativas e reduzir as desigualdades no acesso a medidas que promovam e melhorem a atividade física”, afirmou a organização no comunicado.
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A tendência no mundo
Por enquanto, a prevalência de inatividade está crescendo em 103 dos 197 países do estudo (52%). Também é mais comum entre as mulheres (34%) do que entre homens (29%), e em pessoas idosas, com mais de 60 anos.
Segundo a pesquisa, as taxas mais altas de inatividade física foram observadas na região da Ásia-Pacífico de alta renda (48%) e no Sul da Ásia (45%), que inclui países como Japão, Coreia do Sul, Singapura, Afeganistão, Bangladesh, Butão, Índia, Nepal, Paquistão e Sri Lanka.
No Brasil, a prevalência de pessoas que não atingiram as recomendações de atividade física da OMS em 2022 ficou em 40,9% da população. Dessa forma, o País entra na lista de nações que estão distantes da meta de redução em 15% da inatividade física até 2030. No total, 136 países participantes do estudo compartilham a mesma situação.
No caminho contrário, estão 61 outras nações, das quais 22 foram classificadas como mais próximas de atingir a meta. Entre elas, 12 são nações de alta renda da Europa, quatro da Oceania e seis da África Sub-Saariana.
Apesar dos resultados preocupantes, há sinais de melhoria em alguns países. O estudo mostrou que quase metade dos países do mundo apresentou melhorias ao longo da última década, e 22 países foram considerados no caminho certo para alcançar a meta global de reduzir a inatividade em 15% até 2030, se a tendência continuar no mesmo ritmo.
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