A Organização Mundial da Saúde (OMS) suspendeu em definitivo os testes com a hidroxicloroquina no ensaio clínico global Solidariedade, pois o remédio não apresentou benefícios contra a covid-19. A entidade anunciou a decisão nesta quarta-feira, 17, com base nos dados de pacientes que utilizaram a droga. O Solidariedade pesquisa a eficácia e a segurança de possíveis tratamentos para a covid-19, com voluntários em dezenas de países.
"As evidências dos ensaios sugerem que a hidroxicloroquina, quando comparada com o padrão de tratamento em pacientes hospitalizados, não reduz a mortalidade. Com base nessa análise e nas revisões publicadas, chegamos à conclusão de interromper os estudos randomizados com hidroxicloroquina no Solidariedade", explicou Ana Maria Henao-Restrepo, chefe do departamento de pesquisa de vacinas da OMS.
A entidade selou a decisão em reunião nesta quarta, entre o Comitê Executivo da OMS, o Comitê de Segurança e Monitoramento de Dados do Solidariedade e os principais pesquisadores do projeto. O grupo fez uma revisão sistemática das informações sobre a hidroxicloroquina para observar o nível de segurança nos pacientes tratados com a droga.
O órgão também considerou os dados publicados por pesquisadores do Reino Unido em outro ensaio clínico, o Recovery (Recuperação). Os britânicos suspenderam os testes com a hidroxicloroquina em 5 de junho, sob a justificativa de o remédio não apresentar "efeitos benéficos" para pacientes hospitalizados com covid-19.
"A decisão é um resultado dos ensaios, e não se aplica ao uso ou à avaliação da hidroxicloroquina como prevenção para covid-19. Essa é uma situação com um foco diferente no Solidariedade", esclareceu Henao-Restrepo.
A hidroxicloroquina foi alvo de reviravoltas na OMS nas últimas semanas. Após suspender temporariamente, em 25 de maio, o uso da droga no Solidariedade, a entidade retomou os testes com o medicamento em 3 de junho. A confusão se deu em razão de um estudo publicado no periódico científico The Lancet, que indicava um aumento do risco de morte em infectados que tomaram o remédio. O estudo, porém, se mostrou controverso, fato que forçou a revista a se retratar e a retirar o conteúdo do ar.
No Brasil, o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina é defendido por Jair Bolsonaro, apesar de reconhecer que não há evidências científicas da eficácia. Por pressão do presidente, o Ministério da Saúde liberou o remédio para todos os pacientes da covid-19 no País. "É o que tem. Ou você toma a cloroquina ou não tem nada", justificou Bolsonaro.
Dexametasona não é prevenção
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, reconheceu os avanços do corticoide dexametasona no tratamento de pacientes graves da covid-19. Nesta terça-feira, 17, pesquisadores britânicos do Recovery anunciaram resultados preliminares positivos do medicamento, que reduziu em um terço as taxas de mortalidade dos casos mais críticos da doença. O diretor acrescentou que não houve efeitos benéficos em pacientes que não estavam respirando com a ajuda de aparelhos.
"Começamos a coordenar uma meta-análise com dados de ensaios clínicos para entender a intervenção com a dexametasona. Vamos publicar as novas diretrizes clínicas sobre ela assim que os estudos estiverem prontos", anunciou Tedros.
Michael Ryan, porém, ressaltou que o remédio só deve ser utilizado "sob supervisão médica rigorosa", em pacientes graves que estão respirando com ventiladores mecânicos. O diretor do programa de emergências da organização alertou que a dexametasona não serve para prevenir a covid-19, e enfatizou a necessidade de usá-la apenas em casos específicos, para evitar novas complicações.
"É um anti-inflamatório muito poderoso. Não é uma prevenção contra o vírus, já que corticoides mais fortes podem facilitar a replicação viral no corpo humano. A dexametasona é uma excelente notícia, mas apenas um dos grandes avanços que precisamos. Estamos contentes com os resultados, mas por favor: ela só deve ser usada onde o benefício for comprovado".
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