A liberação da fosfoetanolamina no Senado foi criticada por especialistas da área de oncologia. “Os legisladores estão decidindo sobre o que não têm conhecimento nem competência. Essa decisão desmoraliza o Ministério da Saúde, a Anvisa, a ciência e o País. É uma medida baseada em pressão pública e não técnica. Vamos continuar lutando para que os pacientes tenham uma saúde melhor e não que coloque vidas em risco”, diz Gustavo Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Fernandes diz ainda que os resultados dos estudos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que apontaram que a “pílula do câncer” não contém fosfoetanolamina pura e que ela não apresentou eficácia em testes in vitro, deveriam ter sido levados em consideração pelos senadores. “Os dados preliminares apontam para um não funcionamento. A classe política decepcionou mais uma vez.”
Presidente da Oncoguia, organização não governamental que oferece apoio e orientação para pacientes com câncer, Luciana Holtz diz que a decisão não deve ser comemorada. “A ‘fosfo’ ainda é uma grande incerteza e nós precisamos de uma bula com informações, não em branco.” Ela cobra atenção para outras questões relacionadas à doença. “A gente espera que o Legislativo seja atencioso com outras demandas, já que está demonstrando interesse pelo tema do câncer.”
Acesso. Mas a informação foi bem recebida por pacientes e seus parentes. A advogada Marisa de Fátima Benelli Acete, de 48 anos, diz que seu pai, que tem câncer de próstata com metástase óssea, toma a cápsula há três anos e apresentou progressos. “A notícia é ótima para quem estava torcendo.” Ela diz que a liberação não impede os estudos. “O resultado com meu pai foi magnífico, mas queremos testes para saber o tempo correto de uso, para quais tipos de câncer serve.”
Auro del Giglio, chefe do Departamento de Oncologia Clínica do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), diz que pacientes podem trocar medicações tradicionais pela pílula, mas que os profissionais podem evitar. “Não estamos acostumados a prescrever algo possível de ser prescrito, mas o que acreditamos ter eficácia.”
Presidente da comissão de Direito Médico da OAB-SP, Sílvio Eduardo Valente diz que a liberação não deveria ocorrer sem provas de que a substância realmente funciona. “Essa decisão é uma excrescência legislativa e jurídica. Nunca vi algo assim acontecer. Deveriam ter esperado mais evidências científicas.”
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