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Os saltos científicos da cirurgia para tratar a obesidade

Antes complexa, intervenção tem baixo risco

Por Estadão Blue Studio
2 min de leitura

Textos Fernanda Bassette

Após 70 anos, a cirurgia bariátrica e metabólica está definitivamente consolidada como um tratamento seguro e eficaz contra a obesidade. A história começa nos anos 1950. Naquela época, os médicos passaram a perceber que pacientes gastrectomizados (que retiravam parte do estômago para tratamento de úlceras) evoluíam com restrição gástrica e perda de peso. Em paralelo, pacientes que tinham parte do intestino operada também apresentavam menor absorção dos alimentos e consequentemente emagreciam.


As primeiras cirurgias bariátricas eram feitas com o objetivo único de reduzir a absorção de nutrientes para induzir o paciente à perda de massa corporal. No Brasil, os primeiros procedimentos foram liderados pelo médico Salomão Chaib, professor na Faculdade de Medicina da USP, que operava no Hospital das Clínicas de São Paulo. A técnica usada mexia apenas no intestino, sem afetar o estômago.

“O problema é que essa cirurgia alterava muito a absorção dos nutrientes. Com o passar tempo, observou-se que trazia várias complicações, como desnutrição, diarreia e perda da qualidade de vida. Logo, a técnica passou a ser considerada inadequada e acabou abandonada pelos cirurgiões”, explica Luiz Vicente Berti, cirurgião bariátrico e professor convidado do Serviço de Cirurgia de Estômago e Obesidade Mórbida da Santa Casa de São Paulo.

O tempo passou e outras técnicas cirúrgicas entraram no foco. Nos anos 1980, Arthur Garrido, professor da Faculdade de Medicina da USP, conheceu um conceito inovador apresentado pelo professor Edward Mason em um congresso da Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica nos Estados Unidos. As intervenções cirúrgicas, segundo a apresentação científica, não deveriam mexer mais no intestino, mas apenas no estômago se o objetivo fosse alcançar a sensação de saciedade, sem restringir a absorção de nutrientes.

Cirurgia de Mason

O mundo, então, passou a conhecer a “cirurgia de Mason” para restrição da capacidade gástrica. Nesse cenário, o estômago com menor volume informa com maior rapidez ao cérebro a necessidade de parar de comer. Os primeiros resultados foram animadores, segundo os relatos divulgados na conferência. “O doutor Mason é um marco. A história da cirurgia bariátrica e metabólica se divide entre antes e depois dele. Foi ele quem difundiu a fase mais moderna desse tipo de cirurgia no Brasil e no mundo”, avalia Berti.

Apesar do salto científico, o acúmulo de dados apontou problemas. O modelo não era eficaz em termos de resolução de comorbidade. A perda e a manutenção do peso após a cirurgia também eram insatisfatórias. Segundo Berti, cirurgião bariátrico, “faltava alguma coisa para a técnica ser considerada ótima”. Mais um tijolinho, então, foi assentado na construção científica da cirurgia bariátrica e metabólica.

Revolução por vídeo

Nos Estados Unidos, surgiu uma nova abordagem e os médicos passaram a misturar as duas técnicas nas mesmas intervenções. Mexia-se um pouco no estômago (para alcançar a restrição) e um pouco no intestino (para ter uma absorção menor). Os dois principais desbravadores desse novo método foram os cirurgiões Rafael Capella (colombiano radicado nos Estados Unidos) e Mathias Fobi (camaronês também radicado em solo americano).

A videolaparoscopia na bariátrica começou na virada do século. A revolução tecnológica fez com que o procedimento se torna bem menos invasivo. A necessidade de abrir todo o abdômen deu lugar a pequenas incisões, o tempo de internação ficou menor e até o resultado estético ficou outro.

Hoje, todos os caminhos apontam para o bypass (a mistura das técnicas cirúrgicas de restrição e menor absorção) como a melhor opção. Além da técnica chamada sleeve, em que um pedaço do estômago é cortado e o órgão fica no formato de um tubo, como uma manga. Não há intervenção no intestino. Ambas são feitas por meio de vídeo.