Ozempic e Wegovy: veja indicações, como age e quais efeitos colaterais da semaglutida

Saiba quais as recomendações médicas, os riscos, os cuidados e o custo mensal de tratar a obesidade e o diabetes tipo 2 com medicamentos dessa classe

PUBLICIDADE

Por Úrsula Neves

O uso da semaglutida realmente mudou a forma de tratar a obesidade, além de ter indicação para pacientes com diabetes tipo 2. Estudos mostram que, para alguns pacientes, ela leva à perda de 20% do peso corporal, mas seu uso não está isento de efeitos colaterais. Veja abaixo as respostas para as principais dúvidas sobre o medicamento.

O que é a semaglutida?

PUBLICIDADE

Trata-se de uma medicação que age de forma muito semelhante ao GLP-1, um hormônio que produzimos no organismo depois da ingestão de alimentos e que retarda o esvaziamento gástrico e dá sensação de saciedade. No entanto, como o GLP-1 é produzido naturalmente por um período muito curto e é muito degradado, a semaglutida produzida em escala comercial serve para prolongar esses efeitos no organismo, com média de vida de sete dias.

O GLP-1 impacta diretamente na saciedade, melhora o metabolismo da glicemia e promove uma ação anti-inflamatória no organismo, nas artérias, nos rins e no coração.

“A semaglutida é uma molécula que mimetiza a ação do hormônio GLP-1, um hormônio produzido pelo intestino. Quando a comida passa por ali (intestino), esse hormônio vai para a corrente sanguínea realizando algumas ações, como avisar ao pâncreas que tem comida no intestino para começar a produção de insulina e avisar também ao cérebro para induzir a saciedade. Em seguida, o GLP-1 vai até o estômago e o faz ficar mais lento, uma vez que tem comida no intestino. Essas são algumas ações da semaglutida”, esclarece o médico endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pós-doutor da Universidade de São Paulo (USP/Ribeirão Preto).

Ozempic, indicado em bula para tratamento do diabetes e também usado contra a obesidade, tem como substância ativa a semaglutida Foto: Natalia/Adobe Stock

Para quem a semaglutida costuma ser indicada?

No Brasil, a semaglutida é comercializada por meio do Ozempic, indicado em bula para o tratamento do diabetes tipo 2. A partir de agosto, ela também estará disponível no medicamento Wegovy, indicado para o tratamento da obesidade. Enquanto o Wegovy não chega ao mercado, os médicos vêm prescrevendo o Ozempic também para a perda de peso.

Publicidade

Nesse casos, os especialistas recomendam o uso do medicamento para o tratamento de sobrepeso em adultos com Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 27 kg/m2, associado a doenças como pressão alta, diabetes mellitus, dislipidemia ou colesterol alto; obesidade em adultos com IMC superior a 30 kg/m2; obesidade infantil, em adolescentes acima de 12 anos com peso corporal maior que 60 Kg, usada em associação com dieta hipocalórica e aumento da prática de exercícios; e adultos com diabetes mellitus tipo 2 insuficientemente controlada, em associação com reeducação alimentar e prática de exercícios físicos.

Já nos Estados Unidos, a semaglutida tem ainda uma indicação de bula para a redução de eventos cardiovasculares em pessoas com obesidade.

“É importante lembrar que a indicação de uma medicação é mais do que somente ter um determinado IMC. O médico tem que analisar cada paciente, os riscos e os benefícios. Eventualmente, teremos pacientes que não respondem bem à medicação e outros que respondem melhor. Por isso, temos que analisar qual o histórico da obesidade de cada pessoa e qual a importância da perda de peso para a sua saúde”, pontua o médico endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO).

A semaglutida é o princípio ativo de quais remédios?

Como já mencionado, a semaglutida é o princípio ativo de três remédios: Wegovy (que será vendido no país a partir de agosto), nas doses semanais de 0,25 mg, 0,5 mg, 1,0 mg, 1,7 mg e 2,4 mg para tratamento do sobrepeso e obesidade; Ozempic, nas doses semanais de 0,25 mg, 0,5 mg e 1,0 mg para o tratamento do diabetes tipo 2; e Rybelsus em comprimido, disponível nas doses de 3 mg, 7 mg e 14 mg para uso oral diário e também no tratamento do diabetes tipo 2.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a semaglutida tem ainda a indicação de bula para a redução de eventos cardiovasculares em pessoas com obesidade. A indicação continua sendo para obesidade, mas o objetivo não é perder peso e, sim, reduzir o risco de complicações cardiovasculares.

Publicidade

Como a semaglutida age no corpo?

A semaglutida pode ser injetada, geralmente, no abdômen, ou ingerida de forma oral. Ela é liberada na corrente sanguínea ao longo de sete dias, enviando um sinal de saciedade para o hipotálamo, região do cérebro responsável pela integração entre os sistemas endócrino e nervoso.

Essa sinalização gerada pelo GLP-1 é capaz de reduzir a velocidade de esvaziamento gástrico, fazendo com que a comida permaneça por mais tempo no estômago, levando a uma sensação prolongada de saciedade e reduzindo o apetite e, consequentemente, a ingestão de calorias ao longo do tratamento.

Ao mesmo tempo, a produção de insulina pelo pâncreas é estimulada pela semaglutida, que igualmente reduz a secreção de glucagon (hormônio produzido pelas células alfa do pâncreas que possui um efeito oposto ao da insulina), o que também ajuda a controlar os níveis de glicose no sangue.

Em geral, quantos quilos podemos perder com a substância?

Em conjunto com mudanças na rotina alimentar e a inclusão da prática de exercícios físicos regulares, o uso da semaglutida pode levar a uma redução média de 15% do peso corporal ao longo de um ano e seis meses, segundo os estudos clínicos feitos.

Publicidade

“Em tratamentos de obesidade, falamos sobre a média de perda de peso. O que diferencia a semaglutida de outros tratamentos para o peso é que a média de perda de peso costuma ser bem maior do que com outras medicações. Então, se antes os remédios faziam perder ao redor de 5 a 10% do peso, com a semaglutida estamos falando com perdas médias ao redor de 15 a 17% do peso”, explica Halpern.

Segundo ele, há pessoas que, mesmo com o remédio, perdem muito pouco, e aquelas que perdem mais do que isso. Trinta por cento dos indivíduos conseguem emagrecer mais do que 20% do peso, que é considerado um resultado extraordinário no ponto de vista de melhora metabólica. Por outro lado, existem uns 20 a 30% dos indivíduos que perdem menos do que 10%. “Portanto, existe uma variabilidade de resposta ao tratamento, dependendo de cada pessoa”, completa o médico.

Quais são os cuidados necessários durante um tratamento com semaglutida?

Segundo os especialistas ouvidos, alguns cuidados são importantes, como seguir corretamente a dose e os horários indicados pelo médico; ter informado a relação completa de medicamentos, vitaminas e suplementos alimentares que utiliza antes de iniciar o tratamento com a semaglutida, uma vez que a substância pode interferir na absorção desses remédios evitar consumir bebidas alcoólicas durante o uso.

Além disso, o paciente precisa seguir o plano alimentar recomendado pelo médico ou nutricionista, e fazer exercícios físicos regularmente para ajudar no processo de emagrecimento.

É muito importante ainda se alimentar em pequenas quantidades e em intervalos mais curtos; ingerir pelo menos dois litros de água por dia; evitar alimentos muitos quentes e bebidas alcoólicas.

Publicidade

O uso de semaglutida deve ser permanente ou o paciente consegue interromper?

O tempo de uso depende de cada paciente e dos objetivos, podendo ser indicado por meses, anos ou por toda a vida. “Diversos estudos mostram que quando você usa a medicação e depois para, o reganho de peso é totalmente previsto. Então, é fundamental deixar claro que pode ser para a vida toda”, enfatiza o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri.

Quais os riscos de usar a semaglutida sem indicação?

Assim como toda medicação, os remédios à base de semaglutida podem trazer efeitos colaterais e riscos para a saúde, principalmente se utilizados sem prescrição e acompanhamento médico. Entre os efeitos colaterais possíveis, estão: náuseas, inapetência excessiva, diarréia, vômitos, mal-estar, dor de cabeça, dificuldade para se alimentar, desidratação por causa dos vômitos e diarreia, perda de massa muscular e formação de pedra na vesícula pela rápida perda de peso.

“A semaglutida, em geral, é um remédio com poucos efeitos colaterais graves. O risco maior que estou acompanhando em relação ao uso, principalmente sem indicação médica, é que algumas pessoas que precisam perder peso mais por uma questão estética realmente perdem peso com essa medicação, só que obviamente esse indivíduo não tem uma indicação de uso a longo prazo. Então, elas param o medicamento, percebem que voltam a ganhar peso e começam a criar uma dependência psicológica do remédio. Cada vez mais recebo pessoas que não conseguem ficar sem a substância e começam a desenvolver algumas questões de transtornos alimentares”, alerta o presidente da Abeso.

A partir de qual idade é possível usar semaglutida?

Em adolescentes a partir de 12 anos, com peso corporal maior que 60 quilos, usada em associação com dieta hipocalórica e aumento da prática de exercícios especificamente para o tratamento de obesidade.

Qual o valor da injeção de semaglutida? Quanto custa o tratamento mensal?

O tratamento mensal com Ozempic custa em torno de R$ 1 mil e o tratamento via oral com Rybelsus custa R$ 500. “Na hora de prescrever esses medicamentos, é sempre bom o profissional de saúde informar valores, porque se pensarmos na realidade do Brasil com um todo, é um valor acima da capacidade de compra da maioria da população brasileira. Temos que ser realistas em relação a isso”, diz Carlos Couri.

Publicidade

Quando há indicação médica para o uso do medicamento no tratamento do sobrepeso ou obesidade, os planos de saúde são obrigados a cobrir todo o custo com as injeções de semaglutida. Até o momento, ele não está disponível na rede pública de saúde.

“Infelizmente, o SUS não oferece esse tratamento. Existe um abismo hoje entre quem tem condição financeira para tratar a diabetes tipo 2 e obesidade e quem não tem. Cabe ao nosso País fazer políticas de Estado para o controle do diabetes e da obesidade”, complementa o endocrinologista.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.