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Ozempic: ladrões levam estoque do remédio em farmácia de SP

Medicamento que custa entre R$ 990 e R$ 1.300 foi criado para tratar diabetes, mas passou a ser usado em larga escala para emagrecimento

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Foto do author Gonçalo Junior
Atualização:

Homens armados assaltaram uma loja da Drogaria São Paulo na zona sul de São Paulo, na noite de terça-feira, 9, com um objetivo específico: os remédios da geladeira. Policiais e funcionários afirmam que o foco era Ozempic, medicamento que vem sendo usado para emagrecimento e custa entre R$ 990 e 1.300. Os clientes também foram assaltados; não houve feridos.

Pelo menos seis assaltantes, armados com revólveres e pistolas, entraram na farmácia localizada na rua Maestro Cardim, renderam os clientes e funcionários e mandaram que todos ficassem no chão. A loja estava cheia. “Depois que renderam todo mundo, eles disseram ‘cadê a geladeira?’, conta um cliente de 44 anos que estava na farmácia no momento do assalto.” Os frigoríficos armazenam medicamentos sensíveis à temperatura e vacinas.

Ladrões buscavam o remédio Ozempic em farmácia da zona sul de São Paulo Foto: Gonçalo Junior/Estadão

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Em dez minutos, eles esvaziaram a geladeira – havia cerca 40 caixas do medicamento. Os preços das canetas de 0,25 mg + 0,50 mg e 1 mg vão de R$ 994,03 a R$ 1.308,32, variáveis conforme a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de cada Estado.

Os ladrões também levaram os pertences dos clientes. “Com aquele nível de armamento, tenho sorte de estar vivo”, diz o cliente. Policiais que atenderam à ocorrência ainda na terça-feira à noite afirmaram que o foco era o Ozempic. Em nota, a Drogaria São Paulo informa que “segue cooperando com as autoridades em relação ao caso”.

Assaltos que buscam esse medicamento específico são relatados também em outros pontos da cidade. O publicitário Hilário Junior, de 39 anos, faz uso do remédio por recomendação médica. Nos últimos seis meses, ele vem comprando uma caixa 1 mg em uma farmácia na Avenida Paes de Barros, na Mooca, zona leste. Em março, ele comprou a última caixa do estoque porque, segundo os funcionários, a unidade havia sido roubada. A história se repetiu no mês passado. “No primeiro assalto, os atendentes disseram que os ladrões levaram o Ozempic e o dinheiro do caixa. No segundo, só o Ozempic”, diz o cliente.

“O uso desse remédio para emagrecimento se tornou uma moda. E os assaltos vieram no lastro da moda. Não pensei que as pessoas que precisam do medicamento pudessem ficar sem ele por causa disso”, completa.

Esse aumento dos assaltos já representa um alerta para as entidades do setor. “O Sincofarma tem relatado, podendo dizer até insistido, com as autoridades competentes sobre o aumento desses casos e solicitado a devida atenção e providência”, afirma André Bedran Jaber, do departamento Jurídico do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sincofarma).

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“Mesmo sabendo que outros ramos também sofrem com a questão dos furtos que, tem se agravado absurdamente, entendemos que deve ser destacada uma atenção maior aos casos de roubos de farmácia por se tratar de preocupação com a saúde”, diz o especialista.

Remédio foi desenvolvido para pacientes com diabetes

Produzido pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, o Ozempic é um remédio para tratar o diabetes tipo 2 que virou sensação entre quem quer perder peso. A medicação passou a ser usada contra a obesidade de maneira off label, quando a recomendação de uso está fora da bula. Atualmente, ele se tornou um aliado para quem busca o emagrecimento estético, principalmente pela facilidade de compra sem receita.

O princípio ativo do remédio é a semaglutida, forma sintética do hormônio GLP-1, que promove a saciedade. O remédio “imita” um hormônio ligado ao apetite e a alimentação, ajudando a estimular a produção de insulina e diminuindo os níveis de glicose no sangue. Basicamente, o paciente não sente muita fome ao longo do dia e come menos do que o habitual. Sua administração é feita por meio de uma caneta injetável.

Em função do aumento da procura, pacientes com diabetes tipo 2 convivem com a escassez do medicamento nas farmácias. Além disso, o roubo desse medicamento preocupa os policiais e as autoridades médicas em função da criação de um mercado clandestino.

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A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) divulgaram um comunicado conjunto no final de março afirmando que “o uso indiscriminado aumenta o estigma do tratamento entre os pacientes com indicação médica ao remédio, além de expor aos riscos as pessoas sem necessidade de uso”.

O que diz a Polícia

A Polícia Civil esclarece que foram localizados dois boletins de ocorrência sobre os fatos. Dois homens, de 44 e 66 anos, foram roubados enquanto estavam em uma farmácia, na noite de terça-feira (9), na Rua Maestro Cardim, na Bela Vista, região central de São Paulo. Os casos foram registrados pela Delegacia Eletrônica e encaminhados ao 5º Distrito Policial (Aclimação), responsável pela área dos fatos. Até o momento, a drogaria não procurou a delegacia. No entanto, as investigações já estão em andamento para esclarecer os fatos.

O que diz a farmacêutica

A Novo Nordisk esclarece que “não possui monitoramento ativo destas ocorrências, pois elas são de responsabilidade dos próprios estabelecimentos”. A farmacêutica afirma ainda que “como um fornecedor responsável, a Novo Nordisk tem alertado a população com o objetivo de garantir a segurança dos pacientes, com um alerta sobre pontos que devem ser levados em consideração ao adquirir seus medicamentos”.

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Entre os pontos estão: “quaisquer produtos que não atendam as regras definidas pela Anvisa estão irregulares e, portanto, não oferecem garantias de eficácia, segurança e qualidade exigidas para produtos sob vigilância sanitária podendo representar risco de dano e ameaça à saúde”.

A farmacêutica também destaca os valores do medicamento irregular. “Os preços do medicamento irregular podem estar muito abaixo dos aprovados pelo governo e praticados no mercado (todos os produtos devem seguir a tabela da CMED, órgão federal que regulamenta o preço dos medicamentos no país)”.

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