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Pandemia do coronavírus faz brasileiros mudarem de casa e até de país

Histórias vão de filha que deixou emprego na Irlanda para ficar com pai a fisioterapeuta que buscar preservar família

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Foto do author Priscila Mengue

SÃO PAULO - Pegar um avião e largar quase tudo para estar com a família. Ou fazer o caminho contrário, deixar o lar para preservar os entes queridos. O necessário isolamento social para conter o novo coronavírus tem levado brasileiros a trocar de residência - e até país - por tempo indeterminado.

A coordenadora de logística Thaís Graccini, de 30 anos, chegou a pedir demissão e entregar o quarto em que vivia na Irlanda para voltar ao Brasil depois de mais de cinco anos no exterior. Ela voltará a morar com o pai, Valmir, de 59 anos, que é viúvo e não tem outros filhos.

Thaís Graccini voltou da Irlanda para ficar com o pai, Valmir Graccini. Foto: Arquivo pessoal

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Antes disso, Thaís se colocou em quarentena para garantir que não transmitirá a covid-19, mesmo que não tenha sintoma da doença. "Sei que muitas pessoas não estão fazendo, mas, para mim, não faz sentido vir para ficar com o meu pai e colocá-lo em risco. Vim de máscara, óculos, tudo. É melhor pecar pelo excesso."

Ela se isolou em um apartamento alugado por duas semanas antes de voltar a viver na casa em que cresceu, até hoje lar de Valmir, em São Caetano do Sul, no ABC Paulista. A ideia é permanecer por quatro meses, mas a definição do retorno depende da pandemia.

"Acho que logo mais vai ter quarentena geral. E não quero o meu pai sozinho em uma situação dessas", explica ela . “Voltei como se estivesse voltando para sempre.”

Thaís tomou a decisão há pouco mais de uma semana. “Minha empresa não estava fazendo quarentena, mas eu via a situação na Itália. Dava pânico. Queria me certificar que ele (Valmir) estava tomando os cuidados”, conta. “Na Irlanda, estava todo mundo tranquilo, mas eu sabia que todo mundo estava tranquilo há duas semanas na Itália também.”

Estudante Isadora Pioli, de 18 anos, vai passar a quarentena com os pais e o irmão Foto: Arquivo pessoal/Isadora Pioli

Já a estudante de Engenharia da USP Isadora Pioli, de 18 anos, retornou para Linhares, no Espírito Santo, no dia 18. A pedido da mãe, Geanna, de 44 anos. O irmão, Bernardo, de 21 anos, fez o mesmo, regressando da faculdade em Vitória. Ambos devem permanecer por lá enquanto as aulas presenciais estão suspensas. "Ela estava com medo da situação piorar e eu estar longe da família."

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No primeiro semestre da graduação, Isadora retornou ao convívio que tinha até o ano passado. "Meus pais estão super felizes com todo mundo em casa, mas voltou as cobranças em relação a estudos, igual era no ensino fundamental e médio”, brinca. “A gente é ficar o tempo todo em casa, meus pais compraram um pouco a mais do que o normal para evitar idas ao supermercado.”

Profissional de saúde sai de casa para preservar família

O fisioterapeuta Filipe Santiago, de 31 anos, fez o caminho inverso. Remanejado para atuar no atendimento de pacientes críticos com suspeita do novo coronavírus em um hospital de São Luís, no Maranhão, ele saiu temporariamente da residência. "Minha esposa está grávida e minha filha é pequena, vai fazer 5 anos", justifica.

"A ideia é a proteção da minha família. Vou ter contato direto com esses pacientes. E não se sabe ainda com certeza o efeito que tem no feto, se tem reflexos na fase de formação."

O fisioterapeuta Filipe Santiago se mudou temporariamente para preservar a esposa, Márcia Foto: Filipe Santiago/Estadão

Desde o dia 22, o fisioterapeuta está no apartamento do pai, em que apenas sua irmã, estudante de Medicina, reside. "Minha filha está com a mãe (ex-mulher de Filipe). Faço chamada de vídeo e falo com ela, explico que o papai está trabalhando, que a situação é temporária e, em breve, vou ver e abraçar ela."

As videochamadas praticamente diárias se repetem com a esposa, Márcia, de 35 anos. "Ela também é da área de saúde, é médica, então está consciente de tudo o que acontece."

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