Existem várias maneiras de acompanharmos como está a nossa saúde, entre elas está a realização de consultas e exames de rotina. Em geral, costumamos monitorar a pressão arterial, os valores de colesterol, os índices da glicemia. Mas você sabia que medir a circunferência da cintura, do pescoço e das panturrilhas também pode sinalizar problemas de saúde? Veja abaixo o que cada medida indica.
Circunferência abdominal
É a forma mais simples e conhecida de avaliar o acúmulo de gordura visceral (a mais perigosa para a saúde) e o risco de doenças metabólicas e cardiovasculares, entre elas diabetes tipo 2 e hipertensão arterial. A gordura visceral é aquela que se acumula entre os órgãos e no interior deles – como dentro do fígado, do pâncreas, do rim etc.
“Ela é mais prejudicial porque tem mais macrófagos, que são células do sistema imune que produzem substâncias infamatórias. Essas células deixam o organismo com uma inflamação subclínica, e isso aumenta a resistência à insulina, contribui para a aterosclerose, além de colaborar para aumento da produção de glicose e triglicérides pelo fígado”, explica o endocrinologista Márcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Quando feita pelo médico, a medição da circunferência abdominal é realizada entre a última costela e a parte superior da crista ilíaca, que são ossos que a gente consegue palpar. Para uma pessoa leiga, essa medida pode ser feita na altura do umbigo, usando uma fita inelástica (como uma fita métrica) paralela ao solo.
Para ser considerada normal, a medida da circunferência abdominal não pode ultrapassar metade da altura do indivíduo. Por exemplo: uma mulher de 1,60 m deve ter uma circunferência abdominal menor do que 80 cm. Um homem de 1,80 m deve ter a circunferência menor do que 90 cm.
“Na verdade, existem dois valores. Um, mais usado nos Estados Unidos, considera medidas acima de 102 cm para homens e de 88 cm para mulheres como sendo de alto risco para doenças cardiovasculares. Mas existe um segundo valor, que é mais adotado no Brasil, que considera normal os valores da circunferência abaixo de 80 cm para mulheres e abaixo de 94 cm para os homens”, descreve o endocrinologista.
Mancini destaca que, em geral, médicos que não são especialistas não costumam tirar essa medida como parte da rotina clínica, mas ressalta que seria interessante monitorá-la, para minimizar os riscos.
“Essa é uma medida que o médico faz e interpreta. O fato de ela estar aumentada indica excesso de gordura visceral e, nesses casos, é importante fazer um tratamento. Isso inclui mudanças de hábitos de vida, aumento de atividade física, controle da ingestão de gorduras, de carboidratos, de calorias e, eventualmente, uso de medicações para auxiliar nesse processo”, afirmou Mancini.
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Circunferência do pescoço
A medida da circunferência do pescoço (CP) também é essencial para avaliar se existe um risco aumentado de desenvolver doenças como hipertensão, diabetes ou obesidade. Em um estudo publicado em 2020 na revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia, os pesquisadores sugeriram que a CP poderia contribuir para a predição de risco cardiovascular, além daquele observado pelas medidas antropométricas clássicas.
Segundo Mancini, a medida da circunferência do pescoço é feita na altura da cartilagem do “pomo de adão” e deve ser de até 34 cm para mulheres e de 37 cm para homens. “Pessoas magras, dependendo da deposição de gordura do corpo, podem ter aumento da circunferência do pescoço. Elas têm risco muito aumentado de desenvolver doenças metabólicas e cardiovasculares”, alerta o endocrinologista.
Há ainda mais um problema: a circunferência do pescoço também é um preditor de apneia obstrutiva do sono por estar relacionada ao aumento do depósito de gordura nessa região. A apneia é um distúrbio provocado por frequentes obstruções parciais ou completas das vias respiratórias durante o sono, o que leva a episódios repetidos de cessação da respiração enquanto o paciente dorme.
“O depósito de gordura nessa região faz com que a faringe se torne mais estreita e mais suscetível a diminuição do fluxo respiratório durante o sono. Vários aspectos estão associados, mas, sem dúvida, a obesidade é um importante fator de risco”, diz a otorrinolaringologista Fernanda Louise Martinho Haddad, do Hospital Israelita Albert Einstein. O sinal de alerta de risco de apneia surge quando a medida ultrapassa 38 cm para mulheres e 43 cm para os homens.
Vale lembrar que a apneia do sono, especialmente casos moderados e graves, também é um fator de risco de complicações cardiovasculares, incluindo hipertensão arterial, hipertensão pulmonar, doença coronariana, arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca e AVC (acidente vascular cerebral).
“Os riscos de apneia do sono e de desenvolver fatores que favorecem doenças cardiovasculares andam juntos. Em geral, as pessoas com apneia têm mais deposição de gordura na região do pescoço e também na região visceral. Há indivíduos que podem ter apneia por uma anormalidade anatômica, porque a faringe é mais estreita, e não por deposição de gordura, por exemplo. Mas são exceções”, disse Mancini.
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Circunferência das panturrilhas
As panturrilhas, popularmente chamadas de “batata da perna”, são consideradas o nosso segundo coração. Isso porque elas são extremamente importantes para o sistema circulatório, já que são elas que auxiliam o retorno venoso, ou seja, ajudam o sangue que chega aos pés e às pernas a voltar para o coração.
“Esse sistema de retorno venoso dos membros inferiores se baseia em vasos que são altamente dependentes da nossa musculatura. Quando a gente contrai a musculatura dos membros inferiores, o sangue sobe; quando relaxamos, o sangue desce”, explica o geriatra Marco Túlio Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
O que pouca gente sabe é que, além de ajudar o sistema cardiovascular, as panturrilhas sinalizam como está a saúde dos músculos – especialmente dos idosos. Com o envelhecimento, aumenta o risco de a pessoa ter sarcopenia, que é a perda de força e massa muscular. Mas não é apenas o envelhecimento: a inatividade física também pode levar à perda de massa muscular.
“Após os 60 anos começamos a perder massa muscular e, depois dos 70, esse fator é acelerado. Claro que nem todos os idosos terão sarcopenia, mas medir a circunferência da panturrilha ganhou interesse porque é uma maneira de rastrear esse quadro”, disse.
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De acordo com o geriatra, os estudos na população brasileira apontam para o corte de 34 cm para os homens e de 33 cm para as mulheres. Se a medida da circunferência da panturrilha for abaixo desses valores, é um indicativo importante de massa muscular reduzida e será preciso tomar providências.
Para medir, a pessoa precisa estar sentada, com os dois pés apoiados no chão e distantes 20 cm um do outro. A fita métrica deve ser passada no local de maior diâmetro da panturrilha. Alguns estudos usam o resultado da perna esquerda como referência, já outros consideram a perna de maior medida.
Cintra frisa, no entanto, que esse dado funciona como um sinal de alerta, mesmo que a pessoa não tenha sarcopenia. “Faz mais sentido avaliar a medida da panturrilha em idosos, porque neles a perda de massa é mais comum, mas precisamos ficar alertas porque a sarcopenia não é uma doença exclusiva de idosos. Uma pessoa adulta que ficou muito tempo acamada e debilitada, por exemplo, pode desenvolver sarcopenia”, alerta. O ideal é fazer essa avaliação com um profissional de saúde.
Importante ressaltar ainda que a medida da panturrilha não é um indicador exclusivo da sarcopenia. Existem outros instrumentos, que avaliam também a força das mãos, além de exames complementares que auxiliam no diagnóstico.
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