Poliomielite: cidade de Roraima investiga caso suspeito da doença

Segundo especialistas, redução na cobertura vacinal contra a doença tem elevado os riscos do retorno do vírus, erradicado no Brasil desde 1989

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Foto do author Ítalo Lo Re
Atualização:

A Secretaria Municipal de Saúde de Rorainópolis, município localizado no interior de Roraima, investiga um caso suspeito de poliomielite em uma adolescente de 14 anos. Segundo especialistas, a redução na cobertura vacinal contra a doença tem elevado os riscos do retorno do vírus, erradicado no Brasil desde 1989 – a certificação internacional pelo feito foi concedida ao País pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1994.

A prefeitura de Rorainópolis informou, em nota, que a Coordenação de Vigilância em Saúde do município recebeu a notificação no último dia 29 e iniciou as tratativas pertinentes ao caso. Conforme o governo de Roraima, a paciente, que tomou sete doses da vacina oral de poliomielite, apresenta paralisia flácida aguda e está internada em um hospital em Boa Vista, capital do Estado.

Paciente está internada em hospital em Boa Vista, capital de Roraima Foto: Secretária de Estado da Saúde de Roraima

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“Apesar de considerada erradicada, a agressiva queda nas coberturas vacinais torna iminente a real reintrodução do vírus no Brasil”, disse a prefeitura de Rorainópolis. A pasta frisou que a poliomielite é uma doença contagiosa aguda, que pode infectar crianças e adultos por contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca de doentes, podendo desenvolver quadros de paralisia.

A prefeitura orientou que, em caso de dúvida, os pacientes procurem a unidade básica de saúde (UBS) mais próxima para receber atendimento médico. A vacina contra a poliomielite está disponível no País para todas as crianças de 1 a 4 anos.

A Secretaria de Saúde de Roraima informou que tomou conhecimento de um caso de paralisia flácida aguda em Rorainópolis no último dia 28. “Toda Paralisia Flácida Aguda em menores de 15 anos deve ser notificada e investigada como parte da rotina do monitoramento da circulação de poliovírus no Brasil.”

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A paciente, continuou, tem 14 anos de idade e recebeu sete doses da vacina oral de poliomielite. A secretaria informou que ela está internada em processo de investigação da causa da paralisia no Hospital Geral de Roraima Rubens de Souza Bento, em Boa Vista. A investigação do caso está sendo conduzida pela Vigilância Epidemiológica de Rorainópolis.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que foi notificado sobre o caso suspeito e que está prestando apoio à investigação realizada pelas vigilâncias epidemiológicas do Estado e do município de residência. A pasta disse ainda que presta orientações aos profissionais de saúde quanto aos procedimentos necessários de investigação, que apoiarão no diagnóstico e encerramento do caso.

“A paciente permanece internada e acompanhada pela equipe médica de neurologista e infectologista, que avalia também outros diagnósticos que podem levar à deficiência motora flácida, como neurite ou encefalite”, informou o ministério. A pasta destacou que tem reforçado a campanha de vacinação contra a poliomielite.

O que dizem especialistas

Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a médica Isabella Ballalai explica que há uma recomendação internacional para investigar casos de paralisia flácida aguda em menores de 15 anos. Isso não indica, porém, que vai haver a confirmação de casos de poliomielite, sobretudo quando se trata de casos de crianças e adolescentes que se vacinaram contra a doença.

“A paralisia flácida aguda é uma situação causada por diferentes motivos”, diz. Entre eles, a médica destaca a síndrome de guillain-barré, infecções em geral e outras doenças. “Um dos critérios para controle da poliomielite é a investigação de paralisia flácida aguda”, explica ela, que afirma que casos desse tipo são subnotificados no País, o que dificulta acompanhar a proliferação de doenças.

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“O fato de a paciente estar totalmente vacinada nos faz imaginar que é pouco provável ela estar com pólio, mas nenhuma vacina é 100%”, diz Isabella. Em um contexto em que a cobertura vacinal está menor do que já foi antes no País, a preocupação de voltar a haver casos aumenta. A queda na adesão à vacinação no País, além disso, pode comprometer inclusive quem se vacinou contra a doença. “Passa a existir uma chance muito maior de ser um caso de pólio do que há 10 anos atrás.”

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O entendimento é similar ao do presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Nésio Fernandes. Segundo ele, por ser uma paciente que recebeu sete doses contra a poliomielite, é “pouco provável” que o caso seja confirmado. Ainda assim, ele reforça que é importante seguir os protocolos de vigilância para eliminar as suspeitas. “Acredito que na próxima semana esse caso suspeito de Roraima já deve estar com a investigação concluída.”

Ao mesmo tempo, ele reforça ser importante intensificar campanhas para aumentar a adesão à vacinação. “Existe uma hesitação vacinal em uma proporção superior àquela conhecida em outros momentos da história do sistema de saúde. Essa hesitação vacinal é alimentada por teses que foram legitimadas no último período e que acabam gerando um temor na população”, diz ele, que também é secretário de Estado da Saúde no Espírito Santo.

Fernandes explica que a média de cobertura para a poliomielite nos últimos três anos foi de 79%, patamar abaixo da meta de 95%. “Isso não é suficiente para o padrão de eficácia da vacina, que, além de três doses, exige a dose de reforço, como tampouco adequado como cobertura vacinal dentro do padrão que a gente mantinha antes”, afirma o presidente do Conass.

Mais de 11 milhões de crianças ainda não tomaram vacina contra poliomielite

Como mostrou o Estadão no início da semana, a menos de duas semanas do fim da campanha nacional contra a poliomielite, cerca de 11 milhões de crianças não haviam recebido a vacina contra a doença até a segunda-feira, 29 – só 22,1% do público-alvo.

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