Por que doenças de pele têm impacto negativo no sono dos pacientes?

Psoríase, dermatite atópica e outros problemas dermatológicos interferem no descanso e, consequentemente, na rotina das pessoas

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Foto do author Ana Lourenço

Não chega a ser novidade que as doenças de pele – como psoríase e dermatite atópica – têm um profundo impacto na qualidade de vida dos pacientes, interferindo em sua saúde emocional, na vida profissional e nos momentos de lazer. Agora, um estudo global chamado ALL PROJECT, que foi apresentado recentemente no congresso da Academia Europeia de Dermatologia e Venereologia, na Alemanha, mostra a magnitude da repercussão desses quadros especificamente no descanso das pessoas. Segundo o trabalho, quase metade dos pacientes (42%) com alguma condição que afeta a pele sofre com distúrbios de sono.

Para chegar a essa conclusão, os autores analisaram mais de 50 mil adultos em 20 países diferentes. E ficou claro que a influência do quadro dermatológico no sono traz desdobramentos negativos no dia a dia. A pesquisa mostrou que 49% dos indivíduos com doenças de pele relataram redução na produtividade no trabalho, enquanto essa realidade foi citada por 19% daqueles considerados saudáveis.

Doenças de pele, como a psoríase, provocam sintomas que atrapalham o sono dos pacientes Foto: Daniel Beckemeier/Adobe Stock

Por que o sono é prejudicado?

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Os principais sintomas que impactaram o sono dos pacientes foram coceira (60%) e sensação de ardência ou formigamento (17%). De acordo com o dermatologista Heitor Gonçalves, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), entre as doenças que podem causar coceira ou ardência estão psoríase, dermatite atópica, farmacodermia (reação a medicamentos que podem gerar lesões cutâneas), líquen plano, além de escabiose, herpes, eczemas e dermatite de contato.

Entre todas as condições, ele destaca a dermatite atópica como a que mais prejudica o repouso. “Além de alterações imunológicas que levam à insônia, tem também prurido e uma coceira permanente, contínua e intensa”, justifica. A coceira altera o sono, o que gera ansiedade, e isso aumenta a vontade de se coçar – assim, a situação vira uma bola de neve.

No estudo, os pacientes com doenças de pele ainda relataram com mais frequência uma sensação de fadiga assim que acordaram (81% contra 64% no grupo sem doença de pele), períodos de sonolência durante o dia (83% contra 71%), sensação de formigamento nos olhos (58% contra 42%) e bocejos repetidos (72% contra 58%).

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Em comunicado à imprensa, o principal autor do trabalho, o pesquisador Charles Taieb, destacou que esse é o primeiro grande estudo a revelar o profundo impacto das doenças de pele no sono e quais são as consequências disso no dia a dia das pessoas. “E essas descobertas ressaltam a necessidade de detecção precoce e gerenciamento eficaz dos distúrbios de sono”, acrescentou.

“A importância dessa pesquisa é sistematizar aquilo que a gente já discute na prática clínica, transformando em um dado oficial”, interpreta Gonçalves. “Além disso, sedimenta a ideia de que essas doenças não devem ser tratadas somente com medicamentos específicos, mas também com mudanças de hábitos e costumes que levam à melhoria da qualidade de vida das pessoas”, frisa.

O pesquisador Bruno Halioua, principal autor do ALL PROJECT, afirma que os profissionais de saúde devem ser incentivados a fazer perguntas sobre sono ao avaliar pacientes com doenças de pele. Assim, podem ter uma compreensão mais abrangente do impacto dessas condições na rotina das pessoas.

Para o presidente da SBD, é preciso focar na qualidade de vida do paciente como um todo, incluindo fatores que vão além do sono, como tempo de lazer e saúde emocional.

Um olhar especial para a hidradenite supurativa

No estudo, também foi investigado o impacto de conviver com hidradenite supurativa (ou acne inversa), uma doença cutânea dolorosa e de longa duração que causa abscessos na pele e cicatrizes – ela afeta aproximadamente 1 em cada 100 pessoas. Cerca de 77% dos pacientes entrevistados relataram um sentimento de estigmatização, sendo que mais da metade dos pacientes relataram que os outros evitam tocá-los (57%) e abordá-los (54%) devido à sua condição.

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“A estigmatização associada a essa condição afeta profundamente a vida dos pacientes e pode perpetuar um ciclo de isolamento e não adesão ao tratamento. O estudo destaca a necessidade de ação imediata, incluindo esforços de educação pública para aumentar a compreensão e melhorar o acesso a serviços de saúde e apoio para pacientes com hidradenite supurativa”, explicou Halioua.

“Ao aumentar a consciência, podemos trabalhar coletivamente para criar uma sociedade mais inclusiva, melhorar a adesão ao tratamento e reduzir a carga suportada pelos pacientes”, completou Taieb.

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