Pressionado a impressionar

A superdotação de Lucas atrapalhou a chegada ao diagnóstico de autismo

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colunista convidado
Foto do author Dentro Espectro

Eu tenho de estar sempre provando que sou capaz de fazer as coisas, sendo autista, e que eu não sou capaz de tudo, por ter altas habilidades. São dois estereótipos bem conflitantes.” Lucas Pontes, 25, cursando o último semestre da faculdade de psicologia em Botucatu, explica a sobrecarga que a dupla excepcionalidade gera. Altas habilidades é uma outra forma de dizer superdotação, característica da pessoa que tem QI e facilidade de aprendizado acima da média. No caso de Lucas, as AHs estão ligadas à música e ao desenho.

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A superdotação prejudicou a chegada ao diagnóstico, já que a criança quieta e inteligente é interpretada como tímida, e as habilidades mascaram as dificuldades características do autismo. Foi a irmã, estudando pedagogia, que mandou um artigo sobre síndrome de Asperger para ele, que se identificou imediatamente e levou aos médicos. “Ouvi que não era autista porque sabia tocar violão. Eu não entrava no consultório sozinho, tinha de ter o apoio da minha mãe, que falava por mim basicamente, e, mesmo assim, me achavam desenvolto demais para ser autista.”

Uma nova neurologista e um psiquiatra chegaram ao diagnóstico em 2018, entre a matrícula e o primeiro dia de faculdade. Quatro anos depois veio a identificação de altas habilidades, feita por um neuropsicólogo através de testes e questionários. “Descobrir a superdotação foi muito importante, porque o autismo não me dava todas as respostas. Essa dupla excepcionalidade é muito conflitante, no mesmo cérebro ter uma necessidade de descansar por causa do autismo, já que tenho muita ressaca social, e, por conta das altas habilidades, tenho dificuldade de descansar porque a minha cabeça não para.”

O encontro do perfeccionismo das altas habilidades com a rigidez cognitiva do autismo deixou Lucas em xeque-mate. “Se havia um concurso, os professores falavam que eu era a ‘esperança da escola’, e para o resto da sala que eles iam disputar o segundo lugar. Até hoje são coisas que me assombram, esse peso de me sentir pressionado a impressionar os outros.” A literalidade ligada à rigidez cognitiva é comum, e produz relatos na comunidade autista de indivíduos que achavam que iam realmente morrer quando ouviam de seus professores que, se não passassem no vestibular, seria o fim da vida.

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Lucas faz estágio como acompanhante terapêutico, dá palestras em escolas e é editor da revista científica digital Neurodiversidade, além de manter dois perfis no Instagram. Arte Atípica relaciona música e cinema e neurodivergência, e o seu pessoal, Lucas Atípico, começou como um espaço para colocar seus desenhos, virou um campo de troca de informação e ativismo digital. “Para que outros autistas não passem pelo que passei. Essa é a principal coisa do ativismo: lutar pelo agora para que não seja igual a antes, para que as pessoas no futuro tenham uma tranquilidade maior.”

É JORNALISTA, CURIOSA, PALPITEIRA E VICIADA EM PAPEL

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