Em 1975, a média de filhos por mulher no Brasil era de 5,8. No início dos anos 2000, o número já estava abaixo da taxa de reposição e, hoje, a média nacional é de 1,57. Enquanto isso, projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a proporção de pessoas com 60 anos ou mais passou de 8,7% para 15,6% entre 2000 e 2023. Em 2070, a estimativa é de que cerca de 37,8% da população do País será composta por idosos.
Essa tendência, porém, não tem influenciado os egressos das escolas de medicina, de acordo com os dados citados por Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil, no Summit Saúde e Bem-Estar, promovido nesta segunda-feira, 14, pelo Estadão.
“Ainda hoje, 11% dos residentes estão indo para a obstetrícia, 10% seguem para a pediatria e apenas 0,5% escolhem a geriatria”, contou o geriatra de 78 anos, ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ainda nos anos 1970, quando realizou uma pesquisa para entender o que levava à escolha da geriatra pelos médicos, a maioria das respostas passou longe do contexto demográfico. “Quem escolhia geriatria normalmente tinha tido contato íntimo com os avós em casa durante a infância”, recordou.
Médica geriatra e coordenadora do Ambulatório de Transição de Cuidados da disciplina de Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Maisa Kairalla observou que a geriatria é uma especialidade em que, para além de fazer o que gosta, o profissional precisa “estar no que faz”.
E, enquanto persistir o déficit, será preciso investir em formação para que médicos de outras especialidades, além de outros profissionais da saúde, aprendam a cuidar desse contingente crescente.
“Hoje, falar de envelhecimento não é falar de promoção de saúde, é falar de doença. Isso precisa mudar. A gente (profissionais da saúde) precisa avisar isso à população”, afirmou, ressaltando que muitos não fazem check-up e só buscam atendimento quando já estão doentes.
Trata-se de uma mudança de mentalidade que envolve oferecer conhecimento e educação para quem já chegou aos 60, mas (e principalmente) pensar em políticas públicas de longo prazo que considerem a formação para a velhice desde a primeira infância.
Veja outras discussões do Summit Saúde e Bem-Estar
“Que escola infantil ensina à criança que ela vai envelhecer?”, questionou Naira Dutra Lemos, presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
“A educação para o envelhecimento precisa ser parte do currículo da educação infantil. É preciso começar cedo porque, neste País de dimensões tão grandes, temos muito a fazer do ponto de vista político para que todos tenham condições mínimas de acesso ao que é fundamental para o envelhecimento saudável.”
O “Summit Saúde e Bem-Estar - O futuro da saúde já chegou″ aconteceu nos dias 13 e 14 de outubro, no Espaço de Eventos do Shopping JK Iguatemi, em São Paulo. Veja aqui outros temas discutidos nesta edição.
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