Qual a relação entre alimentação e enxaqueca?

Esse elo varia muito de pessoa para pessoa, mas alguns itens do cardápio realmente podem estimular as crises; veja os principais

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Por Thais Szegö

Quem costuma enfrentar crises de enxaqueca sabe como esses episódios, que podem durar de algumas horas a vários dias, são desagradáveis e muitas vezes incapacitantes. Eles costumam ser caracterizados por uma dor pulsante e latejante que varia de moderada a grave. O incômodo pode atingir um dos lados da cabeça ou ambos e, na maior parte das vezes, vem acompanhado por sintomas como náuseas, vômitos e sensibilidade à luz, ao som e a certos odores, além de zumbidos e alterações gastrointestinais, entre outros.

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Muitas pessoas ainda têm que lidar com a chamada áurea, um tipo de alteração visual que as leva a ver pontos luminosos e cintilantes que podem ser acompanhados por dormência em algumas partes do corpo, quadro que é prenúncio do desconforto que está por vir.

As crises podem ser desencadeadas por fatores como falta de sono, mudanças climáticas, variações hormonais, estresse e até alimentos que a pessoa coloca no dia a dia.

Há vários gatilhos capazes de desencadear crises de enxaqueca. Entre eles, está a alimentação  Foto: fizkes/Adobe Stock

“Alguns alimentos contêm substâncias que são estimulantes para o cérebro e podem atuar como gatilho para o aparecimento dos sintomas ou cronificar o quadro, aumentando a frequência das crises, a sua intensidade e duração”, conta a neurologista e neuropediatra Thaís Villa, especialista em enxaqueca com doutorado pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e pós-doutorado pela Universidade da Califórnia (UCLA), nos Estados Unidos.

Segundo a médica, que é membro do Conselho Consultivo do Comitê de Cefaleias na Infância e Adolescência da International Headache Society, com sede em Londres, na Inglaterra, o cérebro costuma ser mais sensível a substâncias termogênicas – como as encontradas em pimentas fortes, gengibre, cúrcuma e canela – e ao glutamato monossódico, presente em temperos prontos em pó, shoyu, biscoitos e salgadinhos em pó, por exemplo.

O chocolate, os queijos curados, a cafeína e as bebidas alcoólicas também fazem parte da lista dos alimentos que mais comumente fazem as pessoas com enxaqueca sofrerem com o ápice dos sintomas.

Chocolate está entre os alimentos capazes de disparar crises de enxaquecas em alguns indivíduos Foto: dragonstock/Adobe Stock

Mas, é importante que fique claro que essa não é uma doença de causa alimentar e não é possível fazer uma associação direta com esse ou aquele item do cardápio e as crises. “A fisiopatologia da enxaqueca é complexa, então é difícil ter certeza do motivo que leva alguns alimentos a terem efeito sobre os pacientes. E os gatilhos alimentares para a dor são muito individuais e nem sempre vão desencadear esses episódios”, explica o neurologista Felipe Franco da Graça, responsável pelo ambulatório de cefaleias e algias craniofaciais, do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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Além disso, os portadores precisam ter consciência de que cortar alguns itens da dieta não afasta de vez os sintomas. “Identificar e retirar os alimentos estimulantes do cardápio é parte de um plano de tratamento, mas não é a única coisa a ser feita. É essencial que haja um controle da enfermidade com medidas específicas, como medicamentos, tratamentos preventivos orais e o uso de toxina botulínica”, exemplifica Thais. “É como acontece com o diabetes: o combate à doença envolve controlar o açúcar, mas não é somente isso.”

Entretanto, a alimentação funciona como um ótimo norteador para a intervenção médica. “Realizar calendários de crise, ou seja, anotar a sua frequência e os possíveis fatores desencadeantes auxilia nessa identificação e pode ajudar o especialista a guiar o tratamento e medir a sua resposta”, afirma Graça. “Mais do que cortar diversos alimentos da dieta, pacientes com crises frequentes precisam entender seus gatilhos individuais e cultivar hábitos saudáveis de alimentação e atividade física, além de procurar uma avaliação neurológica para orientações sobre o tratamento medicamentoso adequado, se indicado”, acrescenta.

Influência hereditária

A enxaqueca, também conhecida como migrânea, tem origem genética – uma média de 70% dos portadores têm alguém na família com a mesma enfermidade – e é crônica. É diferente, portanto, de uma dor de cabeça simples, um sintoma isolado e ocasional que costuma indicar que há algo errado com o organismo, assim como acontece com as febres.

A doença atinge cerca de 15% da população, sendo que o sexo feminino é o que mais sofre (acomete de duas a três mulheres para cada homem, em média), provavelmente porque tem relação com os hormônios femininos.

Ela acontece em pessoas cujo sistema nervoso é mais sensível, fazendo com que suas células nervosas sejam estimuladas com maior facilidade, produzindo atividade elétrica que desencadeia os sintomas e faz vítimas em todas as idades, mas tem ápice entre a população de 30 a 50 anos.

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