Quando o ácido úrico é considerado alto? Sociedades médicas estabelecem novo limite

Manter a substância sob controle é importante para evitar crises dolorosas de gota

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Por Layla Shasta

Manter o ácido úrico sob controle é um dos passos mais importantes para evitar crises dolorosas de gota, uma doença inflamatória que afeta as articulações. Com esse objetivo, especialistas da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) e da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) estabeleceram uma nova recomendação: pessoas com histórico de gota devem manter os níveis de ácido úrico no sangue abaixo de 6 mg/dL, independentemente do sexo.

Cristais de ácido úrico costumam se depositar em áreas mais frias do corpo, como o dedão do pé Foto: staras/Adobe Stock

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O ácido úrico é uma substância produzida naturalmente pelo corpo ao processar as purinas, moléculas presentes no DNA e em alimentos como carnes vermelhas, frutos do mar e bebidas alcoólicas. Quando seus níveis ficam elevados, cristais microscópicos podem se formar nas articulações, provocando inflamação, dor intensa e inchaço – sinais típicos da gota.

Até então, os limites considerados normais eram de até 7 mg/dL para homens e 6 mg/dL para mulheres. No entanto, especialistas apontam que os valores podem não ser suficientes para prevenir crises em quem já foi diagnosticado com a doença. Para as demais pessoas, o valor de referência deve seguir igual.

Uma das principais mudanças práticas é a recomendação de incluir nos laudos laboratoriais (os resultados dos exames de sangue) uma observação específica para quem já enfrenta crises da inflamação: “Em pacientes em tratamento para gota, recomendam-se níveis séricos de ácido úrico abaixo de 6 mg/dL.” A intenção é ajudar médicos e pacientes a definir metas de controle mais claras e eficazes para quem já foi diagnosticado.

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Por que fazer a mudança?

O ácido úrico é uma substância pouco solúvel, o que contribui para que se cristalize quando está em excesso. Para que ele fique totalmente diluído, seus níveis no sangue devem estar abaixo de 6,8 mg/dL.

Quanto mais acima dessa taxa, maiores as chances de se formarem cristais, mesmo que níveis até 7,0 mg/dL sejam o valor de referência para a população saudável. Quando o nível está acima disso, o quadro recebe o nome de hiperuricemia, e pode causar problemas.

Por isso, pessoas que já tiveram gota precisam manter níveis menores do que a maioria da população, segundo o reumatologista Fabiano de Almeida, membro da SBPC/ML. Com níveis abaixo de 6 mg/dL, o corpo pode dissolver cristais já formados com maior facilidade, reduzindo o risco de inflamações recorrentes e danos permanentes nas articulações.

Entendendo a gota

Como a solubilidade do ácido úrico é ainda menor em temperaturas baixas, os cristais costumam se depositar em áreas mais frias do corpo, como o dedão do pé. Outras regiões muito afetadas são os tornozelos e joelhos.

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A doença costuma provocar crises de artrite aguda, ou seja, inflamação repentina nas articulações. Além da dor, os sintomas incluem calor, vermelhidão e inchaço no local inflamado, segundo a SBR.

No começo, as crises são mais leves e esporádicas, com intervalos de seis meses a anos. Porém, sem tratamento, tornam-se mais fortes e passam a ocorrer com maior frequência.

À princípio, o quadro se resolve sozinho, o que faz com que muitas pessoas não procurem ajuda médica. Mas, se não tratada, a gota pode se tornar crônica, causando danos permanentes às articulações e formando nódulos chamados de tofos. Também pode levar à formação de cálculos renais devido ao excesso de ácido úrico.

O que pode desencadear as crises?

A gota afeta principalmente homens acima dos 40 anos e pessoas com fatores de risco como obesidade, diabetes, hipertensão e histórico familiar da doença.

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Nas mulheres, o quadro é raro antes da menopausa, pois o estrogênio ajuda a eliminar o ácido úrico pelos rins. Após a menopausa, quando os níveis do hormônio caem, o risco de desenvolver a doença aumenta.

Além disso, em pessoas que já têm ácido úrico alto, fatores que podem desencadear um crise incluem ingestão de álcool, principalmente vinho tinto e cerveja, dieta rica em determinados tipos de alimentos (ricos em purina), trauma físico, cirurgias, quimioterapia e uso de medicamentos diuréticos.

Toda pessoa com ácido úrico alto tem gota?

O diagnóstico de gota é feito, sobretudo, após uma análise da história clínica do paciente e de suas queixas. A partir daí, são realizados exames de sangue para analisar os níveis de ácido úrico e também podem ser solicitados exames como radiografias e dosagem do ácido na urina.

Mas nem todo mundo que apresenta um nível elevado de ácido úrico irá desenvolver gota. Inclusive, valores no sangue de até 7,8 mg/dL ainda podem ser considerados normais. Por isso, o exame só é indicado para pessoas com sintomas.

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“Existem muitos pacientes que apresentam hiperuricemia, mas não têm gota. E se eles não apresentam sintomas, não serão submetidos a um tratamento. Isso é frequente na população. Por isso, a indicação do exame é para aquelas pessoas que apresentam sintomas compatíveis com o quadro”, diz Brito.

Tratamento

Não há cura para gota. Assim, o objetivo do tratamento é diminuir a dor e a inflamação nas crises agudas e corrigir os níveis de ácido úrico para evitar episódios futuros.

Para isso, são recomendados medicamentos como anti-inflamatórios durante as crises e remédios para redução da hiperuricemia, que devem ser mantidos no longo prazo.

O paciente também deve evitar os fatores que desencadeiam as crises ou favorecem a formação do ácido, além de aumentar a ingestão de líquidos para melhorar o fluxo urinário. Por fim, quando já há a presença de tofos que prejudicam a função articular, eles devem ser retirados por cirurgias.

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“É importante frisar que a gota não é uma doença incapacitante e quando tratada adequadamente não interfere na qualidade de vida”, informa a SBR.

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