'Quero que meu caminho seja feito de conexões', diz o músico Cristian Budu

Estrela da música clássica brasileira, o pianista descobriu a importância de se conectar com as pessoas por meio da arte e buscar uma nova compreensão do mundo

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Foto do author João Luiz Sampaio

No mundo da música clássica, construir uma carreira não é fácil. Há muita competição, o mercado é fechado e pode parecer impenetrável. Não foi, porém, o que aconteceu com o pianista brasileiro Cristian Budu. Na última década, ele vem construindo uma trajetória de destaque, tocando em grandes teatros e festivais internacionais, além das principais salas de concerto do País, chamando a atenção da crítica internacional. Ele sentiu, no entanto, a necessidade de parar e refletir sobre seu trabalho como artista. E dessa reflexão nasceu a compreensão da música como uma forma de diálogo entre as pessoas, de comunicação, conexão. Arte e vida, ele diz, não podem estar separadas. E essa percepção hoje dá o tom a seu trabalho tanto no palco como em projetos com jovens e crianças.

Vitória em concurso em 2013 abriu para Budu as portas de palcos de todo o mundo Foto: JF Diorio/Estadão - 27/4/2018

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Em 2013, o mundo do pianista Cristian Budu virou de ponta-cabeça. Ele foi à Suíça participar do Concurso Clara Haskill, um dos mais importantes do mundo do piano. Chegou à semifinal e, depois da prova, acreditando estar encerrada sua participação, foi tomar uma cerveja. Até que recebeu uma ligação: precisava voltar correndo. Havia passado para a final. 

Dois dias depois, Budu sairia vencedor do certame. E o impacto na carreira foi enorme. Convites para concertos começaram a aparecer no Brasil e na Europa, em recitais solo ou em parceria com grandes músicos da atualidade. Gravou seu primeiro disco. A revista inglesa Gramophone o colocou no Top 10 de intérpretes atuais de Chopin e Beethoven. O grande pianista Nelson Freire, depois de conhecê-lo e ouvi-lo, definiu Budu como seu sucessor.

Não é exagero dizer que ali começava uma carreira de sonho para qualquer jovem pianista – e Budu sabe o valor das oportunidades que têm recebido. Para ele, no entanto, essa é apenas uma parte da história.

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“O mercado tem um jeito de funcionar, ele te pede uma produção em série, que torna tudo opaco. Eu não queria isso, precisava poder constantemente repensar e saber o que eu estou comunicando como artista, entender o papel da arte”, diz.

IMATERIAL

A ideia não veio do nada. Budu nasceu em Diadema, filho de um casal romeno. No piano, começou cedo. Mas queria ser jogador de futebol. E ouvia de tudo: até hoje pode recitar as letras dos Racionais.

“Eu cresci em um mundo de diferentes linguagens e isso me deu uma outra perspectiva”, ele conta. “E tive a sorte de ter minha mãe, que nos deu uma visão de mundo inspirada no valor da filosofia, da pedagogia, da cultura. Ela nos ensinou o valor do que é imaterial.”

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Foi com lições como essa que Budu começou a guiar sua carreira. Em São Paulo, em 2015, participou da criação do projeto Pianosofia, cuja proposta era levar música de maneira gratuita à casa de qualquer pessoa que tivesse interesse em receber um grupo de músicos. Viveu um ano em Berlim, mas logo voltou ao Brasil. Durante a pandemia, instalou-se no interior de Minas Gerais e, depois, em Belo Horizonte.

A cabeça não para, ele diz. Faz projetos com crianças, com outros jovens músicos. Ao longo da última semana, por exemplo, recebeu dez deles para a primeira edição de um festival criado em parceria com a Escola Sarramenha de Artes, em Ouro Preto. “A ideia nos aprofunda no fazer musical, sem pressão para produzir. Eu sinto em jovens um olhar de desencanto, e ali queríamos repensar o que fazer, encontrar forças para voltar para o mundo e propor mudanças.”

Os compromissos na Europa continuam a chegar e seus empresários propuseram uma mudança para Paris. Ele aceitou, com uma condição: dividir o tempo entre a França e o Brasil. “Expliquei como é importante para mim estar aqui.”

Há cerca de um mês, por exemplo, ao ficar sabendo de um programa para crianças no Teatro SesiMinas, em Belo Horizonte, bateu na porta e pediu para participar. As fotos mostram um palco repleto de pequenas mãos e olhares interessados, aprendendo como funciona o instrumento. “Em momentos assim aprendo muito. Eu não quero seguir um caminho só meu na carreira e ignorar o mundo à minha volta. Quero que o meu caminho seja um caminho de conexões.”

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