Reduzir população em favelas e investir em higiene podem salvar até 26 mil do coronavírus em SP

No Rio, cenário sem medidas de intervenção poderia causar até 93 dias sem vagas em UTIs

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Atualização:

A adoção de uma série de medidas contra o novo coronavírus em favelas – que envolvam reduzir em até metade a densidade demográfica das comunidades, criem estruturas de saneamento emergenciais e ofereçam produtos de higiene – poderia reduzir a pressão sobre o sistema de saúde e salvar milhares de vidas. No Estado de São Paulo, poderiam ser até 26 mil vidas salvas; no Rio, 15 mil.

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Os cálculos são de um grupo de pesquisadores especialistas em modelagem de dinâmica de sistema que se uniram ao coletivo Favelas contra o Coronavírus. Uma vez que nas comunidades é praticamente impossível aplicar o isolamento social – uma das principais recomendações para evitar a expansão da covid-19 – e nem sempre é garantido que a medida mais eficaz de proteção seja posta em prática o tempo todo, que é lavar as mãos, a ideia dos pesquisadores foi propor outras saídas. que envolvem, entre outras coisas, um esvaziamento das favelas.

Eles criaram um simulador para estimar o efeito de sete ações combinadas em diferentes proporções: remoção temporária de moradores das favelas para equipamentos públicos ou para hotéis, subsídio a insumos de higiene, renda básica para comprar produtos de higiene; estruturas emergências de saneamento; expansão de UTIs e uso de máscaras faciais. 

Medidas emergenciais em comunidades podem evitar mortes pelo coronavírus em São Paulo. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A primeira análise foi feita para o Estado do Rio, onde vive, proporcionalmente, a maior população em favelas no Brasil. Segundo dados do IBGE, no Estado há 2,2 milhões vivendo em favelas, 13% da população, em uma densidade demográfica média de 9.900 pessoas por km². 

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Na melhor combinação de medidas, o grupo avaliou que reduzir pela metade a densidade demográfica das favelas do Estado, com a transferência temporária de cerca de 5.000 pessoas/km², a criação de estruturas emergenciais de saneamento em todas as favelas que não tem o serviço, o fornecimento de produtos de higiene para 50% dos domicílios, e a construção de 20 UTIs/dia no Estado desde o início da epidemia poderiam salvar até 15 mil vidas – ou 16% das potenciais vítimas do Estado. 

Sem intervenções (não só nas favelas, mas em todo o Estado), estimam os pesquisadores, o Rio poderia ficar entre 41 e 93 dias sem vagas em UTIs (do melhor ao pior cenário). Com essa estratégia acima, os dias sem UTI cairiam para algo entre 34 (no melhor cenário, com outras intervenções nas cidades) e 52 dias. 

Para São Paulo, essas mesmas condições poderiam salvar até 26 mil vidas, ou 14% das potenciais vítimas, porque a população de favela em SP é proporcionalmente menor que a do Rio (7% do total). 

Sem intervenção, o Estado poderia ficar entre 42 (melhor cenário) e 105 (pior cenário) dias sem vagas em UTI para novos doentes (não só de coronavírus, mas de qualquer doença ou acidente). Com essas medidas, os dias sem leito disponível caem para algo entre 38 e 70 dias sem UTI.

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“Estamos diante de um problema que já é complexo, mas que é piorado pela desigualdade, pela pobreza. As pessoas não têm nem sequer acesso à água limpa todos os dias. Fomos ouvi-los sobre o que estava faltando e daí elaboramos essas estratégias combinadas”, afirma o engenheiro Vinícius Picanço, professor de Operações e Sustentabilidade do Insper.

No simulador, que pode ser acessado na internet, foram pensadas pelo menos seis estratégias, com mais ou menos gente sendo retirada das favelas, com mais ou menos investimento em saneamento de emergência e em produtos de higiene. Cada uma teria um impacto diferente no potencial de contaminação e na pressão sobre o sistema de saúde.

“Não tem uma bala de prata. Não dá para confiar em uma medida só e dizer que com isso estará tudo bem. O simulador ajuda a fazer a combinação das dosagens adequadas para cada favela para que a estratégia seja bem sucedida. Não temos uma solução única”, diz Picanço.

“Como estamos falando do colapso do sistema de saúde, tivemos uma preocupação em tentar minimizar os dias sem UTI disponível. Medidas menos intensas ou não fazer nada pode levar a mais de cem dias sem UTI para ninguém, não só para casos de coronavírus”, complementa o pesquisador.

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