A Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP) declarou em carta aberta nesta sexta-feira, 19, que as requisições do governo federal feitas à indústria para aquisição de remédios do chamado kit intubação estão desorganizando a cadeia de suprimentos e ameaçam o estoque das unidades particulares de saúde. Em algumas, segundo a entidade, medicamentos usados no atendimento a pacientes com covid-19 podem se esgotar em até 48 horas.
O Ministério da Saúde requisitou na quarta-feira, 17, estoques da indústria de medicamentos para suprir a demanda do Sistema Único de Saúde (SUS) diante da alta nas internações em todas as regiões do País. A requisição diz respeito a sedativos, analgésicos e bloqueadores musculares usados para intubar pacientes. Para a Anahp, a decisão do ministério afeta recursos que já tinham sido contratados e ameaça também a rede particular.
Em carta aberta, a associação disse que a situação é crítica e “se medidas urgentes não forem tomadas em âmbito nacional mais pacientes morrerão”. A Anahp, que tem 118 hospitais associados, entre eles o Hospital Albert Einstein e Hospital Sírio-Libanês, disse que um levantamento desta quinta-feira apontou a escassez de medicamentos também na rede privada.
O estoque atual de remédios para intubação varia de 4 a 19 dias, segundo o comunicado. A organização confirmou que em alguns casos o estoque só dura mais 48 horas, mas não detalhou a que unidades essa previsão se refere.
Estoque atual médio nas unidades privadas da Anahp
- Propofol – 4 dias
- Cisatracurio – 4 dias
- Atracúrio – 4 dias
- Rocuronio – 9 dias
- Midazolam – 14 dias
- Fentanila – 19 dias
“Entendemos a preocupação do governo em garantir os insumos necessários para a atenção aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), mas a situação do setor privado também é bastante preocupante e, certamente, atingirá o seu ápice nos próximos dias”, detalha a carta.
“Caso essas instituições fiquem sem as medicações necessárias para os procedimentos exigidos em pacientes acometidos pela covid-19, a alta demanda dos hospitais privados sobrecarregará ainda mais o setor público – agravando a situação do sistema de saúde brasileiro”, complementa a associação.
A Anahp solicita atenção urgente do Ministério da Saúde e órgãos competentes “em relação à questão crítica que a saúde está vivendo, colocando em risco a vida dos pacientes”.
O Conselho Federal de Farmácia (CFF) manifestou, em nota nesta semana, "extrema preocupação com a falta de medicamentos essenciais à qualidade da assistência e a manutenção da vida de pacientes em estado grave". Conforme o órgão, há relatos de falta de bloqueadores neuromusculares, sedativos e outros medicamentos usados em terapia intensiva, como o midazolan, para intubação, e imunoglobulina, indicado para amenizar os sinais e sintomas da artrite reumatoide.
O governo federal já teve de requisitar estoques do kit intubação entre junho e setembro de 2020, quando houve falta destes medicamentos em diversos locais. /COLABORARAM MATEUS VARGAS, FABIANA CAMBRICOLI E JOÃO PRATA
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