A falta de outros serviços públicos para atendimento dos pacientes faz com que as famílias e as autoridades apelem para os hospitais a qualquer custo, com medo de essas pessoas ficarem na rua.
No Hospital Thereza Perlatti, de Jaú, são comuns as internações prolongadas de moradores de rua com problemas psiquiátricos, como esquizofrenia ou dependência química. “Há um entendimento de que eles não devem ficar na rua, sem família. Normalmente é um morador de rua que causou algum incômodo, que fala sozinho ou já agrediu alguém”, diz a psicóloga Marília Belfiore. “É preciso articular serviços de saúde e residência terapêutica, com suporte da assistência social.”
Com os idosos, o problema é semelhante. Eles chegam com quadros de demência ou sequelas de um AVC, por exemplo, mas são tratados como pacientes de doenças mais graves. “São problemas reais, mas que uma internação num hospital não vai resolver”, diz Grace Lopes, diretora do Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, em Salvador, onde metade dos pacientes pode ser liberada apenas com aval do juiz.
Em Minas, a prática já tem até nome: internação social. “É um paciente que tem alta e não tem para onde ir”, relata o promotor Bruno Soares, que atua em Belo Horizonte. Nesta situação, diz ele, o Ministério Público Estadual ajuíza ação no município para obter vaga em uma residência terapêutica.
No desespero para obter uma vaga, há até quem recorra a documentos falsos. Chamou a atenção dos médicos de Jaú o caso de um paciente que, embora internado com relatos de que era usuário de drogas e cometia furtos, negava tudo que a família dizia sobre ele. Após sucessivas abordagens, descobriram que as informações dadas à Justiça eram falsas – ele não usava drogas e possuía doença mental sem relação com as informações fornecidas pela família. Foi liberado dias depois.
Em alguns casos, as internações chegam até sem justificativa. “Já recebemos uma paciente cega com histórico de uso de substâncias ilícitas, mas que não tinha nada. Era só um problema familiar. Tivemos de justificar ao juiz que seria pior para a paciente a internação”, afirma Grace.
Em Vila Velha (ES), a defensora Geana Silva tem exigido, além do laudo de um psiquiatra, comprovação de que o paciente já tentou tratamento ambulatorial. “Inibe aquele psiquiatra que dá um laudo simples.”
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