Horas estendidas de trabalho, pouco ou nenhum contato social físico, instabilidade econômica e, principalmente, preocupação com a saúde, seja a própria ou a dos outros. A pandemia do novo coronavírus trouxe um peso mental para muitos.
“A gente tem que pensar que vive sempre numa ilusão de controle. Sempre acha que tudo vai dar certo e acaba não se prevenindo para uma emergência”, afirma a psicóloga Josie Conti. “Quando veio essa ruptura, a gente não estava preparado e reagiu mal.”
Segundo a psicóloga, o importante agora, e em outras situações que também possam nos tirar da normalidade, é tomar algumas atitudes que podem ajudar a organizar o dia a dia e manter a saúde mental mais equilibrada.
Manter uma rotina fixa e simples (como arrumar a cama, colocar uma roupa que te faça se sentir bem, trabalhar sempre no mesmo horário, fazer pausas para as refeições) ajuda a manter a motivação. A partir daí, incluir estímulos variados (um filme em um dia, uma conversa com amigos em outro, uma volta no quarteirão no outro) também é positivo.
Já que o tempo livre neste momento não é sinônimo de férias ou passeios, planejar o futuro pode ajudar. “Posso até fazer um cronograma de coisas que pretendo fazer quando tudo estiver estabilizado. Uma lista de passos para resgatar os negócios, as relações”, diz a psicóloga. “Uma das coisas que mais piram todo mundo é a falta de objetivos e sentido de vida.”
Josie também lembra que podemos encarar este momento como um crescimento que vai nos preparar para futuras adversidades. “O choque faz com que mudem as prioridades. Quando nossos alicerces e verdades são abalados, a gente tem que se recriar, e com isso dá um passo além na maturidade. Precisar se adaptar amadurece.”
Grupos de risco
Vários estudos espalhados pelo mundo, tanto no Brasil quanto na China, Estados Unidos e Itália, onde a pandemia do coronavírus deixou várias sequelas, também estão mostrando que a saúde mental de profissionais de saúde ou de determinados grupos da população, como idosos ou pessoas de todas as idades que moram sozinhas, também foi afetada de forma negativa.
Os resultados das pesquisas, nessas situações, mostram que um maior número de casos de ansiedade e de depressão está sendo identificado pelas redes de atenção à saúde mental. Estudantes da região do Centro-Oeste, por exemplo, que muitas vezes deixam o interior do Estado para estudar sozinhos nas capitais, estão sentindo mais a solidão. Uma pesquisa feita pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, ainda com dados compilados de forma preliminar, registrou um aumento no consumo de álcool entre os jovens que moram sozinhos, muitos de origem indígena, que não conseguiram retornar para as suas casas.
Entre os profissionais de saúde, há vários trabalhos científicos publicados por centros de estudos em Wuhan, na China, ou em cidades no norte da Itália e nos Estados Unidos que mostram como aumentaram os relatos de casos de estresse, ansiedade e depressão principalmente entre os profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate à pandemia. Uma pesquisa americana feita em nível nacional registrou que 27% dos entrevistados relataram sintomas que podem ser relacionados com casos moderados e severos de depressão. Pesquisas semelhantes feitas antes da pandemia, entre 2013 e 2016, registraram índices médios de 8%.
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