Saúde masculina: por que a probabilidade de morte é maior para o homem do que para a mulher?

Ao longo da vida – desde a infância até a adolescência, meia-idade e velhice –, o risco de morte em todas as idades é maior para meninos e homens do que para meninas e mulheres

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Por Tara Parker-Pope e Caitlin Gilbert

Uma crise silenciosa na saúde dos homens está encurtando a expectativa de vida de pais, maridos, irmãos e filhos.

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Durante anos, a sabedoria convencional dizia que a falta de pesquisas de saúde específicas por sexo prejudica sobretudo as mulheres e as minorias de gênero. Embora essas preocupações sejam verdadeiras, um olhar mais atento aos dados de longevidade conta uma história mais complicada.

Ao longo da vida – desde a infância até a adolescência, meia-idade e velhice –, o risco de morte em todas as idades é maior para meninos e homens do que para meninas e mulheres.

O resultado é uma crescente diferença de longevidade entre homens e mulheres. Nos Estados Unidos, a expectativa de vida em 2021 era de 79,1 anos para mulheres e 73,2 anos para homens. Essa diferença de 5,9 anos é a maior lacuna em um quarto de século. (Os dados não são ajustados para incluir diferenças entre pessoas não binárias e trans.)

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“Os homens têm vantagens em todos os aspectos de nossa sociedade, mas temos piores resultados de saúde para a maioria das coisas que podem matar”, disse Derek Griffith, diretor do Centro de Igualdade em Saúde Masculina no Instituto de Justiça Racial da Universidade de Georgetown. “Costumamos não priorizar a saúde do homem, mas ela precisa de atenção exclusiva e tem implicações para o resto da família. Isso significa que outros membros da família, incluindo mulheres e crianças, também sofrem.”

A diferença de longevidade entre homens e mulheres é um fenômeno global, embora as diferenças entre os sexos e os dados sobre as idades de maior risco variem em todo o mundo e sejam influenciados por normas culturais, manutenção de registros e fatores geopolíticos, como pobreza, guerras e mudanças climáticas.

Mas os dados que analisam os riscos à saúde de meninos e homens nos Estados Unidos mostram um quadro sombrio.

Os homens correm maior risco de morrer de covid-19 do que as mulheres, uma diferença que não pode ser explicada pelas taxas de infecção ou pelas condições preexistentes. A taxa de mortalidade ajustada por idade para covid foi de 140 mortes por 100 mil para homens e 87,7 por 100 mil para mulheres.

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Mais homens morrem de diabete do que mulheres. As taxas de mortalidade para homens são 31,2 por 100 mil contra 19,5 por 100 mil para mulheres.

A taxa de mortalidade por câncer é maior entre os homens – 189,5 por 100 mil – em comparação com 135,7 por 100 mil para as mulheres. Homens negros têm a maior taxa de mortalidade por câncer: 227,3 por 100 mil. Entre as mulheres negras, a taxa de mortalidade por câncer é de 149 por 100 mil.

As taxas de mortalidade de meninos e adolescentes de 10 a 19 anos (44,5 por 100 mil) superam em muito as de meninas (21,3 por 100 mil). Mesmo entre as crianças, a taxa de mortalidade é maior para os meninos (5,87 por 1 mil nascidos vivos) do que para as meninas (4,95 por 1 mil).

Os homens morrem por suicídio quase quatro vezes mais do que as mulheres, com base em dados de 2020 dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). A taxa de suicídio é maior em homens brancos de meia-idade, mas os adolescentes também enfrentam um alto risco.

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Em 2020, 72% de todas as vítimas de acidentes com veículos motorizados eram do sexo masculino. Os homens também representaram 71% das mortes de pedestres, 87% das mortes de ciclistas e 92% das mortes de motociclistas.

Defensores de mais pesquisas sobre a saúde masculina dizem que o objetivo não é roubar recursos de mulheres, meninas e minorias de gênero.

“Algumas pessoas pensam que a saúde é um ganho de soma zero, que um dólar para a saúde dos homens tira algo das mulheres”, disse Ronald Henry, presidente e cofundador da Men’s Health Network. “Está errado. Apoiamos totalmente os esforços de saúde das mulheres e a melhoria da qualidade de vida das mulheres.”

Mas, ao ver os homens como padrão privilegiado, os especialistas em saúde estão ignorando importantes diferenças que podem iluminar questões de saúde.

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Por exemplo, durante anos, a crença amplamente difundida nos círculos médicos era de que as mulheres usavam muitos recursos de saúde em comparação com os homens. Como resultado, os homens eram vistos como o padrão para a procura pelos cuidados de saúde, enquanto as mulheres muitas vezes eram consideradas histéricas ou “ansiosas” quando procuravam atendimento.

“Costumávamos pensar que as mulheres estavam super-utilizando os cuidados de saúde, e os homens os estavam utilizando da maneira correta”, disse Griffith. “O que percebemos foi que as mulheres estavam indo melhor, principalmente em termos de cuidados preventivos, e os homens estavam, na verdade, subutilizando os cuidados de saúde.”

As razões por trás da diferença de longevidade não são totalmente compreendidas, mas a natureza global da disparidade sugere que a biologia provavelmente tem um papel importante. Foto: CDC

Biologia e diferenças culturais

As razões por trás da diferença de longevidade não são totalmente compreendidas, mas a natureza global da disparidade sugere que a biologia provavelmente tem um papel importante.

Por exemplo, altos níveis de testosterona, que podem enfraquecer a resposta imune, talvez sejam um fator que explica por que os homens – e os mamíferos masculinos em geral – são mais vulneráveis a infecções parasitárias. O estrogênio pode explicar por que as mulheres têm taxas mais baixas de doenças cardíacas ao longo da vida – e por que a diferença diminui depois que as mulheres atingem a menopausa. (Embora o estrogênio pareça ser protetor nas mulheres, estudos da década de 1970 mostraram que, quando o estrogênio era administrado a homens, em vez de ser protetor, causava o dobro da taxa de ataques cardíacos do que em um grupo de placebo.)

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Preconceitos culturais sobre a masculinidade, que ensinam meninos e homens a esconder seus sentimentos e não reclamar, também podem influenciar a saúde masculina.

“A depressão nos homens é bastante enganosa”, disse Marianne J. Legato, médica e fundadora da Fundação para Medicina Específica de Gênero em Nova York. “Os homens são socialmente programados para não reclamar. O suicídio muitas vezes é visto como algo inesperado nos homens, mas não muito nas mulheres.”

As expectativas culturais de estoicismo masculino também podem atrasar o cuidado dos homens. Por exemplo, embora doenças como diabete, doenças cardíacas e hipertensão sejam comuns em homens e mulheres, os homens costumam esperar mais tempo para procurar atendimento e as doenças são diagnosticadas em estágios posteriores, levando a mais danos e consequências piores.

“É um enigma interessante e, em muitos aspectos, não é bem compreendido”, disse o cardiologista Steven Nissen, diretor acadêmico da Cleveland Clinic. “Os homens precisam prestar muita atenção aos fatores de risco cardiovascular. Tratar os fatores de risco precocemente pode reduzir muito o risco.”

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Os homens também são conhecidos por se envolverem em comportamentos mais arriscados, como uso de drogas e álcool, tabagismo e direção imprudente. Embora as razões por trás dessas tendências não sejam totalmente compreendidas, os riscos comportamentais também são uma razão pela qual a saúde masculina não é estudada, disse Griffith.

“É difícil convencer as pessoas de que a saúde masculina é um problema quando pensamos que só é um problema porque os homens não fazem o que deveriam fazer”, disse ele.

Uma preocupação citada com frequência é que os homens também são menos propensos a consultar médicos. Embora meninos e meninas visitem o pediatra na mesma proporção, a tendência muda na idade adulta e as visitas médicas dos homens diminuem. Os dados do CDC mostram que a taxa de visitas médicas em 2018 entre as mulheres foi quase 40% maior: 3,08 visitas por mulher contra 2,24 por homem.

Uma razão é que as mulheres visitam regularmente o ginecologista em seus anos reprodutivos. “Não existe algo semelhante para os homens”, disse Nissen.

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Mas, mesmo quando as consultas para gravidez são excluídas, a pesquisa sugere que as mulheres ainda têm duas vezes mais chances do que os homens de agendar exames anuais regulares e usar serviços preventivos.

Os médicos dizem que os homens são mais propensos a visitar o médico por causa de uma lesão esportiva ou para “a visita do Viagra” – quando procuram tratamento para a disfunção erétil. Como resultado, médicos de medicina esportiva e urologistas são incentivados a usar essas consultas para verificar a pressão arterial, o colesterol e outros indicadores de saúde geral.

“Vitalidade e saúde sexual são duas das coisas em que os homens mais pensam”, disse Howard LeWine, médico do Brigham and Women’s Hospital em Boston e editor-chefe da Harvard Health Publishing. “Quando você tem 20 ou 30 anos e é homem, não pensa em ir ao médico para prevenir câncer ou doenças cardíacas. Acho que isso só passa pela cabeça dos homens quando algo acontece com eles.”

A ironia é que, durante anos, os homens foram super-representados na pesquisa médica, muitas vezes às custas das mulheres, de acordo com um relatório seminal de 1985 que estimulou mais investimentos do governo na pesquisa sobre a saúde da mulher.

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“Os homens estavam super-representados nos estudos médicos, mas ainda estão sub-representados em termos de atendimento clínico”, disse Harvey Simon, médico e fundador do Harvard Men’s Health Watch, um boletim informativo dedicado à saúde masculina.

Defensores da saúde masculina dizem que um dos maiores fatores é a falta de infraestrutura para apoiar pesquisas especificamente focadas na saúde masculina.

Durante anos, a Men’s Health Network fez lobby para a criação de um Escritório de Saúde do Homem, semelhante ao Escritório de Saúde da Mulher, no Departamento de Saúde e Serviços Humanos. A legislação proposta, no entanto, não tem ganhado apoio.

Embora alguns sistemas de saúde afirmem ter departamentos focados na saúde masculina, o atendimento geralmente é focado na saúde urológica e da próstata, em vez de cuidados cardíacos, saúde mental ou outros problemas que afligem os homens em altas taxas.

O tema da saúde masculina simplesmente não pegou como algo que defensores, patrocinadores corporativos e políticos queiram apoiar. Embora a fita rosa tenha sido elevada ao status de ícone para sinalizar a conscientização sobre o câncer de mama, nada na saúde masculina alcançou o mesmo nível de atenção.

“Há uma lacuna de empatia”, disse Henry. “Algumas pessoas dão de ombros e dizem: ‘Sim, os homens morrem mais jovens. O mundo é assim mesmo’. Não precisa ser assim. Se dedicarmos atenção e recursos, podemos mudar os resultados para os homens.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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