Aos 68 anos, com cabelos brancos e uma vocação nata para as artes, Setsuko Saito deu início ao que descobriu ser uma paixão: a vida de modelo. Sua altura de 1,68m e seu conhecimento quase leigo da carreira não foram impeditivos para que ela brilhasse na área. A culpa, de acordo com ela, foi de seu espírito aventureiro, que já a levou até para a São Paulo Fashion Week.
Hoje, apesar dos mais de 22 mil seguidores nas redes sociais, Rosa Saito (nome de batismo que adotou nas redes para facilitar a pronúncia) não busca a fama. “Busco apenas fazer o melhor naquilo que eu abracei com amor e me encontrei”, diz. “Pensei: Seja o que Deus quiser. Se eu não tentar, nunca vou saber”.
Em uma conversa agradável por telefone, ela contou para o Estadão como foi essa mudança de vida.
Filha de japoneses, Setsuko nasceu em Araçatuba, interior de São Paulo, e aos 5 anos se mudou para a capital do Estado. Ainda criança, revelava seus dons criativos por meio do canto, do desenho e da escrita. “Eu era a única que enchia as paredes da sala de aula com desenhos, contando uma história”, lembra. A aptidão ajudou muito em seu primeiro trabalho de artesanato com plantas. “Eu sempre soube que ia seguir em alguma coisa de criatividade, algo que eu pudesse inventar. Tudo que eu faço eu levo pra esse lado.”
O cuidar das plantas era só mais um dos cuidados na imensa lista de Setsuko. Aos 22, teve de cuidar de sua mãe, que ficou acamada por três anos. Depois, mãe de três filhos, ela teve de se redobrar para ser mãe e pai, com a perda de seu marido no ano 2000. E foi nas plantas que ela encontrou a meditação diária. “É importante se procurar e se encontrar em você mesma. E meu momento de paz é com elas (plantas). Eu vou até o meu jardim e converso com elas”, diz.
Antes de ser abordada na Avenida Paulista, ela nunca havia pensado na possibilidade de ser modelo. Mas depois de ser convidada três vezes, decidiu cogitar a ideia. “Duas vezes foram por profissionais da agência de modelos Mega (onde está hoje) e mais outra por um fotógrafo. Eu deixei amadurecendo a ideia por um ano, afinal tinha custos também, era uma coisa que eu ia me embrenhar assim, às cegas. Até que resolvi arriscar”, lembra.
A vontade de se cuidar foi um dos estopins para que a vida de modelo se tornasse uma possibilidade. “Me casei, engravidei, estava sempre me dedicando a alguém”, conta. “Eu queria provar para ver se não daria certo mesmo.”
Beleza natural
Criada de maneira muito natural, Setsuko nunca chegou a tomar ao menos uma aspirina quando era criança. “Era tudo na base do chá, e eu na minha essência sou assim, meio que contra tudo que é química. Então sempre me cuidei passando babosa, óleo de coco, óleo de oliva”, conta.
Com o trabalho de modelo, um ou outro creminho natural também entraram na lista. Pintar o cabelo ou usar botox, ao menos por ora, está fora de cogitação. “É a maneira natural da gente ser. Lógico que, como mulher, tem algumas coisas que eu gostaria de mudar, evidente, todas nós temos, mas não estou insatisfeita comigo. Eu me sinto bonita para mim”, declara.
Um dos cuidados adquiridos antes da vida de modelo foi a prática de exercícios físicos. “Em 2017 eu emagreci dez quilos e senti a necessidade de ganhar massa magra. Passei a ir todos os dias para a academia, algo que antes eu pensava que nunca faria na minha vida”, revela.
“A beleza em si está em realmente você cuidar dos seus pensamentos, da sua espiritualidade. A pessoa pode se tornar bonita, sendo cativante, simpática, isso é muito mais do que a beleza toda esticadinha e perfeitinha. É o conteúdo que conta, no meu parecer”, diz.
Para ela, a relação da indústria da beleza com as mulheres é opressora, mas há esperança. “Eu sinto que a passos lentos estamos mudando. As pessoas estão vivendo mais, estão se cuidando mais e as empresas precisam realmente abrir mais o leque nesse sentido e visualizar estes clientes em potencial.”
Com apenas dois anos de carreira, sonhos e novidades enchem seu dia a dia. Apesar da preocupação dos filhos, o gostinho de aventura motiva Setsuko, que até se esquece da idade que tem. “Eu não acredito que envelhecer seja a palavra certa. Eu diria mais aprender. Eu continuo aprendendo e sinto que quanto mais aprendo, menos sei. Com certeza o tempo passa, mas o que é o tempo, meu Deus do céu? Se fosse dar uma idade para a minha alma, eu daria 22 anos”.
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