Será que a terapia estagnou? Veja os sinais, as possíveis causas e quando abordar o psicólogo

Embora o processo terapêutico não ocorra de maneira linear, ele também não deve cair em uma rotina de estagnação

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A psicoterapia é um processo contínuo de autoconhecimento e transformação, mas, em alguns casos, pode parecer que os avanços desaceleraram ou até mesmo cessaram. Notar que a terapia não está trazendo mais progresso pode ser desmotivador e frustrante para o paciente, além de gerar dúvidas sobre a real eficácia do tratamento.

Mas isso não significa que você deve desistir do seu bem-estar emocional. Existem sinais que ajudam a identificar se a terapia não está mais trazendo os resultados positivos esperados e saber lidar com eles é a melhor forma de continuar cuidando da saúde mental.

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“É importante lembrar que a psicoterapia nem sempre acontece de forma linear, por isso é esperado passar por períodos de estagnação. O processo pode envolver avanços significativos seguidos de momentos em que parece haver pouca ou nenhuma mudança”, explica Magda Silva do Nascimento, psicóloga do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

A especialista informa que uma “rotina estagnada” na psicoterapia ocorre quando o processo terapêutico se torna previsível, repetitivo e sem novas elaborações significativas. Isso pode acontecer tanto pela falta de engajamento do paciente quanto por uma dinâmica terapêutica que não está mais promovendo mudanças.

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Abaixo, confira os principais sinais de que a terapia empacou.

Se a percepção de estagnação do processo terapêutico surgir, é importante abrir um espaço de reflexão na própria psicoterapia. Foto: StockPhotoPro/Adobe Stock

1. Sessões previsíveis e repetitivas

O paciente leva sempre os mesmos temas para as sessões, sem aprofundar ou enxergar novas perspectivas. O terapeuta e o paciente caem em um padrão de conversa automático, sem provocar novas reflexões.

2. A relação não está funcionando

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A aliança terapêutica entre profissional e paciente é fundamental para o sucesso e evolução do processo. Se o paciente sente que não há mais confiança, sintonia ou segurança na relação com o terapeuta, isso pode dificultar o avanço no processo da terapia.

“Ter uma boa relação terapêutica é preditor de sucesso. Se o paciente sequer consegue se vincular ao profissional, é difícil que o processo evolua. Por isso é importante sempre falar abertamente sobre essa relação”, orienta Ila Marques Porto Linares, psicóloga clínica e pós-doutora pela Faculdade de Medicina da USP.

3. Desinteresse ou falta de engajamento

Se o paciente começa a perceber as sessões de terapia como uma obrigação sem sentido e comparece às sessões sem interesse genuíno no processo, sem envolvimento ativo, sem reflexões entre os encontros ou sem buscar aplicar as percepções na vida cotidiana, talvez seja o momento de reavaliar se a terapia ainda está sendo produtiva.

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“As sessões parecem repetitivas e estagnadas. Os encontros começam a parecer um “loop” das mesmas discussões, sem novas elaborações ou perspectivas. Isso pode indicar que a psicoterapia não está mais mobilizando mudanças internas e, por isso, o processo psicoterapêutico precisa ser revisto”, diz Magda.

4. Ausência de mudanças ao longo do tempo

Se, após um período considerável de terapia (que é muito individual para cada pessoa), o paciente sente que não há progresso significativo e seus padrões de sofrimento permanecem os mesmos, sem novas percepções ou transformações, isso pode ser um indicativo de que algo na relação terapêutica ou na postura do paciente precisa ser repensado.

5. Falta de desafios ou questionamentos

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A terapia se torna um espaço apenas para desabafos, sem exploração mais profunda. “No início da terapia, é comum que o paciente tenha novas percepções sobre si mesmo. Se esses momentos diminuem drasticamente ou desaparecem, pode ser um indício de que a terapia não está mais promovendo mudanças significativas”, alerta Magda.

Os motivos

As causas por trás dessa sensação de estagnação também são variadas. Veja alguns exemplos:

1. Mecanismos de defesa do paciente

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Segundo Magda, alguns conteúdos da terapia podem ser difíceis de acessar ou elaborar, levando o paciente a resistir ao aprofundamento da discussão sobre aquele tema, mesmo que de forma inconsciente. “Isso pode se manifestar como uma sensação de “não ter o que falar” ou de que a psicoterapia não está avançando”, avalia.

Ila ressalta que é preciso identificar o desconforto e mapear a causa. “Se a causa da estagnação for uma resistência da pessoa em mexer naquilo que está doendo, o terapeuta precisa conversar abertamente com o paciente para entender o quanto, naquele momento, ele está disposto ou não a continuar com aquilo”, diz.

A especialista ressalta que o paciente é parte ativa do processo e o terapeuta precisa entender o quanto que esse enfrentamento poderia ser um pouco mais atenuado, para que a pessoa gradativamente dê conta de entrar em contato com o que é difícil.

2. Não se sentir pronto

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Há alguns casos em que o paciente já teve avanços significativos na terapia, mas ainda não está pronto para enfrentar novos movimentos.

Segundo Magda, nesses casos, mesmo que a terapia já tenha proporcionado mudanças importantes, o paciente pode precisar de um tempo para processar essas transformações antes de seguir para novos desafios – daí vem a sensação de estagnação do tratamento.

3. A relação precisa de ajustes

O vínculo entre paciente e psicólogo é essencial para o sucesso e avanço do processo. Se o paciente não se sente totalmente acolhido, por exemplo, ou percebe que a relação se tornou mecânica, pode haver uma dificuldade na continuidade do trabalho.

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4. Mudanças no contexto de vida

Alterações significativas na vida do paciente (como uma nova rotina, mudanças no trabalho ou relacionamentos) também podem influenciar a forma como ele se engaja no processo terapêutico. Então, mais uma vez, saber identificar esses sinais e conversar abertamente com o terapeuta sobre o que está sentindo é essencial para que a terapia prossiga.

O que fazer?

Não existe um tempo mínimo ou específico para revisar o progresso da terapia e ajustar os objetivos – cada caso é individual e depende da abordagem do psicólogo, da demanda do paciente e da natureza do processo psicoterapêutico. Existem casos de pacientes com demandas mais pontuais, então a revisão dos objetivos pode ocorrer em momentos pré-estabelecidos para reformular o foco de trabalho.

Mas, em terapias mais abertas, as revisões vão acontecer conforme as necessidades do paciente ou do psicoterapeuta – e daí também cabe ao profissional ter essa sensibilidade de perceber que é preciso algum ajuste.

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Assim, se a percepção de estagnação do processo terapêutico surgir, é importante abrir um espaço de reflexão na própria psicoterapia.

“Abrir um espaço de conversa sobre essa sensação pode trazer insights valiosos sobre o momento do paciente, assim como pode auxiliá-lo na decisão de permanecer em acompanhamento, encerrar o processo ou buscar um novo profissional com uma abordagem diferente”, comenta Magda. Ela dá algumas dicas:

  • Converse abertamente com o terapeuta: compartilhe suas dúvidas e preocupações. Muitas vezes, pequenos ajustes na abordagem podem trazer novos avanços.
  • Reavalie seus objetivos: suas metas podem ter mudado desde o início da terapia. Discuti-las com o terapeuta pode ajudar a redefinir o foco do tratamento, se for o caso.
  • Experimente novas abordagens: se a abordagem terapêutica atual não parece mais eficaz, considerar outras técnicas pode ser uma solução. Na psicologia existem várias técnicas (confira aqui).
  • Pense na possibilidade de trocar de terapeuta: se a relação com o profissional já não parece produtiva, buscar outro especialista pode ser uma opção válida. Às vezes, uma nova perspectiva pode desbloquear o progresso.
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