SÃO PAULO - Preocupada com a possível disseminação do zika vírus em território paulista e com o risco de um surto de microcefalia no Estado, como o registrado no Nordeste, a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo prepara um plano de enfrentamento ao problema que vai incluir testes diagnósticos para todas as gestantes do Estado, intervenção de órgãos estaduais no combate ao mosquito Aedes aegypti, feito hoje pelas prefeituras, e acompanhamento permanente de bebês que desenvolvam a má-formação. O País já tem 1.248 casos de microcefalia.
O plano será apresentado pelo secretário estadual da Saúde, David Uip, para aprovação do governador Geraldo Alckmin (PSDB) na sexta-feira. “Temos de lidar com esse assunto de forma diferente da que estávamos lidando. Agora estamos diante de três doenças e é muito pouco provável que isso (zika) não chegue a São Paulo. O Estado tem de estar preparado para aquilo que seguramente poderá acontecer”, disse o secretário.
Por ainda depender da aprovação de Alckmin, Uip não quis detalhar as medidas nem o volume de recursos necessário para o plano de enfrentamento, mas disse que as duas principais áreas de atuação serão novas estratégias de combate ao Aedes e o monitoramento e acompanhamento de gestantes. “Em linhas gerais, vamos atuar desde a tentativa de extermínio do vetor até políticas específicas para as populações vulneráveis, como as grávidas.”
O secretário disse que o Instituto Adolfo Lutz está desenvolvendo, com base em amostras fornecidas pelo Ministério da Saúde, um teste que poderá verificar, mesmo em pessoas que não apresentaram sintomas, se houve infecção por zika. Atualmente, o único teste de diagnóstico existente para a doença é o que aponta a presença do vírus enquanto a pessoa ainda está doente. O novo exame, que usará o método elisa, poderia detectar a presença de anticorpos contra o vírus, uma indicação de que a infecção já ocorreu.
“Quero que esse teste seja incorporado no pré-natal de toda gestante de São Paulo. E nos casos em que o teste der positivo, já será acionado o pessoal de Saúde da Mulher para que a gestante tenha desde acesso aos exames morfológicos até o amparo emocional depois do nascimento da criança, caso ela tenha alguma má-formação”, disse Uip. Somente no ano passado, o Estado de São Paulo registrou 624 mil nascimentos.
Uip disse que pretende aumentar o número de agentes e recursos oferecidos às prefeituras no combate ao mosquito. “Precisamos de ações mais contundentes, que vão além do que os municípios podem fazer.”
Academia. Pesquisadores das principais instituições de ensino de São Paulo também se articulam para enfrentar a zika e colaborar, no campo da pesquisa, com o entendimento do mecanismo de ação do vírus.
Há cinco dias, começou a ser desenhada uma rede de laboratórios que atuarão em várias cidades do Estado no estudo de questões como o comportamento do vetor e do vírus, a interação do zika com a dengue nos pacientes que tiverem ambas as infecções, no acompanhamento de gestantes e de bebês com microcefalia e no monitoramento das alas pediátricas dos hospitais para definir as orientações a serem dadas a gestantes paulistas. A iniciativa terá o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
“A gente vai precisar também do empenho gigantesco da administração pública brasileira no fornecimento de material, compartilhamento de amostras, interação com grupos internacionais. Isso é uma emergência, uma situação de guerra e as ações precisam ser rápidas e eficientes”, disse Paulo Zanotto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, cujo laboratório integra a rede.
Prédios municipais terão ‘brigadas’contra o mosquito
A Prefeitura determinou nesta quarta-feira a criação de grupos internos de combate ao mosquito Aedes aegypti em prédios municipais.
Por meio de decreto, o prefeito Fernando Haddad (PT) definiu que cada órgão deverá nomear três servidores responsáveis por vistoriar cada edificação em busca de possíveis criadouros e providenciar, quando necessário, medidas como limpeza das áreas externas, remoção de entulho, verificação de caixas d’água, manutenção de tampas ou coberturas nos ralos e a limpeza das caixas.
Também nesta quarta, a Prefeitura publicou o decreto que regulamenta a lei da entrada forçada de agentes antidengue em imóveis abandonados, fechados ou cujos moradores se recusarem a abrir as portas. Conforme publicado pelo Estado, o morador ou proprietário terá 48 horas para autorizar a entrada ou o ingresso será à força. No decreto, a administração prevê ainda a remoção de entulhos ou outros materiais que possam servir de criadouros. Nesses casos, a subprefeitura poderá cobrar do morador o valor do serviço de remoção.
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