A Secretaria de Saúde do governo do Estado de São Paulo confirmou um caso de sarampo autóctone – em que o indivíduo contrai a doença no próprio Estado, sem viajar ao exterior e sem ligação com um viajante – e mais 25 casos em investigação somente na semana passada. O caso confirmado foi relatado na cidade de São Paulo, considerando um registro dentro dos últimos 15 dias, mas não foram divulgadas mais informações sobre o paciente. Dois dos 25 casos investigados são da cidade de Santos, no litoral de São Paulo. Em nota, a prefeitura informou que não há conclusão e aguarda o resultado de exames laboratoriais. Além disso, nenhum contactante dos pacientes apresentou sintoma e, por precaução, todo o protocolo de bloqueio foi realizado, incluindo a vacinação das pessoas.
O infectologista Roberto da Justa ressalta que identificar um caso autóctone demonstra que a doença já avança no território nacional. Aspecto que, segundo ele, denota maior preocupação do ponto de vista sanitário e demanda mais esforços para o controle da enfermidade, que tem alto potencial de morbidade e mortalidade, principalmente, entre as crianças. “Essa ocorrência se dá muito provavelmente por causa da baixa cobertura vacinal para o sarampo nos últimos anos. E a possibilidade de se disseminar para outros Estados é grande, uma vez que é difícil bloquear a disseminação do sarampo”, diz o médico. O professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) reforça a necessidade de vacinação em massa do público infantil, especialmente nos Estados onde há casos confirmados ou suspeitos. Da Justa ressalta que o Sistema Único de Saúde (SUS), pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), distribui ampla e gratuitamente a imunização contra o sarampo para o País. Entre os anos 1960 e 1970, rememora o médico, a doença foi uma das principais causas da mortalidade de crianças com menos de 1 ano de idade. No entanto, como o sarampo “desapareceu” nos anos 1990 e 2000 no Brasil, houve uma campanha difamatória atribuindo-se à vacina alguns efeitos colaterais e eventos adversos que nunca existiram. “A vacina contra o sarampo é segura, e extremamente eficaz. Não há o que se temer com relação a isso”, garante. A infecção pelo sarampo ocorre por meio de gotículas de saliva com partículas do vírus, que favorecem a transmissibilidade – cada infectado pode transmitir para até 18 pessoas.
Com os casos investigados em Santos, as demais prefeituras da região entraram em estado de alerta e buscam melhorar os índices de vacinação. O município de São Vicente divulgou que uma pessoa foi diagnosticada com sarampo na cidade, informação desconhecida pela secretaria estadual de Saúde. Na cidade, 298 crianças de 6 meses a menores de 5 anos, e 34 profissionais da saúde, tomaram uma dose da vacina contra o sarampo. Já no Guarujá o Executivo municipal informou que nesta primeira fase estão sendo vacinados os profissionais de Saúde contra o sarampo. Na primeira semana de mobilização, já foram imunizados pouco mais de cem trabalhadores da Saúde. Em 2017, 2018 e 2021, não houve confirmações de casos e mortes; em 2019 foram 39 relatos – e 12 em 2020. Em Peruíbe, onde não foram registradas notificações de suspeita de sarampo, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que o número de vacinados está abaixo do esperado, provavelmente pela grande procura de vacinação contra gripe e covid-19. Também não há notificações de casos de sarampo em Itanhaém. Ali, segundo a prefeitura, a cobertura vacinal é de 99,55% da população. Já em Cubatão, nenhum caso está sendo investigado e a vacinação segue o cronograma do governo estadual. Com tantos casos investigados, o governo estadual acendeu o estado de alerta, reforçou a importância da vacinação e informou que está em andamento uma campanha de imunização contra o vírus. Desde 4 de abril, a imunização está voltada aos profissionais da saúde e, a partir de 3 de maio, serão vacinadas crianças de 6 meses a menores de 5 anos. A meta é atingir 95% das crianças (público-alvo de 12,9 milhões). A vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, está disponível continuamente nas unidades de saúde. A cobertura vacinal da tríplice viral foi de 85,2% para primeira dose e 67,1% para segunda dose em 2020 e em 2021, de 73,8% e 60,1% respectivamente. Em 2019, a cobertura foi de 91,8% para primeira e 82,5% para segunda dose.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.