Summit Saúde: Reinvenção do mercado de saúde vai além do uso de tecnologia

Especialistas apontam a atenção primária e o cuidado integrado como caminho para um novo modelo de sistema de saúde

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Por Raisa Toledo
Atualização:

A pandemia de covid-19 acelerou muitas transformações no setor de saúde, impulsionando o desenvolvimento de vacinas, a telemedicina e o aumento do uso da tecnologia em plataformas digitais voltadas à saúde.

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Ao mesmo tempo, a geração dos millenials tem mostrado maior prevalência de doenças crônicas como hipertensão, diabetes e depressão que a geração anterior. Para Mariana Perroni, médica intensivista e líder médica global no Google Health (EUA), dedicado à criação de ferramentas tecnológicas para cuidados dos usuários com a saúde, trata-se de uma situação paradoxal.

“Nunca houve tantas informações e ferramentas disponíveis, mas, apesar de termos evoluído com realizações incríveis na medicina, a gente ainda não inovou em saúde”, ponderou Mariana no Summit Saúde e Bem-Estar do Estadão.

Isso porque, segundo ela, enquanto cuidados médicos como a realização de check-ups anuais e a ampliação de postos de saúde são apontados por pacientes e gestores como as principais formas de cuidar da saúde, eles representam apenas 10% dos fatores que influenciam no bem-estar. “Os outros 90% correspondem ao ambiente em que ela vive, a realidade socioeconômica e as escolhas de comportamento dessa pessoa”, defendeu.

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A inovação em saúde mencionada pela médica passa pela concepção de um novo modelo de negócio no qual o papel dos serviços de saúde é de não apenas tratar os doentes, mas acompanhá-los e auxiliá-los a prevenir as doenças.

Mariana Perroni destacou as diferenças entre inovar na medicina e em saúde Foto: Reprodução/Estadão

Para isso, o uso da tecnologia é fundamental e possibilita que cuidados e medidas preventivas sejam colocadas em ação no cotidiano do indivíduo antes mesmo que ele venha a se tornar um paciente que requer tratamento do serviço ou instituição.

Trata-se de uma nova visão que, segundo Felipe Cezar Cabral, gerente médico de Saúde Digital do Hospital Moinhos de Vento, esbarra na concepção de saúde de profissionais e pacientes. “O principal desafio da inovação não é tecnológico, mas o desafio de mudança de cultura. A tecnologia é relativamente fácil de implementar; o difícil é mudar a nossa cabeça e ir para o mundo completamente digital”, defendeu durante o Summit.

O novo modelo pressupõe um conceito de gestor de saúde semelhante a um especialista de orientação financeira, responsável por compreender o contexto socioeconômico, hábitos alimentares, comportamento e local em que mora o assistido. Embasado por dados, esse serviço o acompanha de forma permanente mesmo quando ainda não há a necessidade de medicalização.

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A partir desse mecanismo, é possível conhecer suas demandas específicas e oferecer um atendimento personalizado para cada paciente.

Segundo Felipe Cezar Cabral, maior desafio não é a mudança tecnológica, mas sim de cultura Foto: Reprodução/Estadão

Hábitos

Gabriela Brazão, líder da Comunidade de Saúde da Alice, gestora de saúde fundada em São Paulo, citou como exemplo que possibilita que o serviço de saúde aja com proatividade frente às demandas do cliente um questionário em que ele preenche informações sobre seus hábitos, sono, alimentação, saúde mental e qualidade de vida.

Esse tipo de atendimento, focado em atenção primária à saúde, difere em abordagem do tratamento dispensado pelo atendimento de especialidades médicas ao considerar o contexto socioeconômico e a forma como vive o paciente.

Para Eliézer Silva, diretor executivo do Sistema de Saúde Einstein, ele ajuda a vencer um obstáculo comum na prática médica: a falta de engajamento e adesão do paciente ao tratamento prescrito.

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Ele explicou que, ao olhar para o indivíduo e para onde ele está inserido, se forma um laço entre profissional da saúde e paciente que contribui para que a confiança entre eles aumente. “Quando eles se deparam com esse novo sistema e se engajam com o seu próprio cuidado, esse ciclo se fecha e promove o que a gente quer alcançar, que é um desfecho adequado. Eu necessito de menos exames complementares, o nível de satisfação é alto e o próprio custo foi controlado ao longo do tempo”, afirmou.

Silva destacou que o modelo de cuidado integrado não existe para substituir o que já está difundido no atendimento privado no Brasil, mas como mais uma opção.

Para Eliézer Silva, conhecer o indivíduo é essencial no atendimento Foto: Reprodução/Estadão

Para que o cuidado em saúde voltado para a prevenção possa ganhar espaço, a educação é fundamental. Mostrar para as pessoas que elas também são responsáveis por sua saúde, como foi feito para conscientizar a população a respeito do uso de máscaras e adesão à vacina na pandemia de covid-19, favorece a jornada de mudança da cultura vigente sobre o que é cuidar da saúde.

“Existe um papel enorme da população, de órgãos públicos e da iniciativa privada. Assim, é possível optar de forma consciente pelo modelo que mais se adapta aos meus valores”, pontuou Eliézer.

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A tecnologia desempenha um grande papel para ajudar os profissionais de saúde a tomarem a melhor decisão para cada caso e prevenir o uso inadequado de recursos.

As plataformas certas proporcionam a visualização fácil e rápida do histórico e dos exames realizados, assim como podem facilitar o acesso ao serviço de saúde com o atendimento virtual. “Na Alice, os membros são atendidos em 30 segundos por uma pessoa, o que faz com que a pessoa se acostume e goste, além de reduzir uma ida desnecessária ao pronto atendimento”, exemplificou Gabriela Brazão.

Acompanhe

Os desafios das rápidas transformações observadas na área da saúde, sobretudo impulsionadas pela pandemia da covid-19, são tema do Summit Saúde e Bem-Estar 2022, organizado pelo Estadão. O evento ocorre online, entre 17 e 21 de outubro. Contará com a participação de trinta palestrantes brasileiros e estrangeiros. O evento pode ser acompanhar pelas redes do Estadão e pela página oficial.

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